Documentário expõe o cotidiano nos canaviais

A Vida em Cana, de Jorge Wolney Atalla, retrata o dia-a-dia de trabalhadores rurais. Rodado durante a colheita da cana, produção tem recebido prêmios importantes, como a Margarida de Prata de 2001

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Por Agencia Estado
Atualização:

O documentário A Vida em Cana, de Jorge Wolney Atalla, pretende dar voz e imagem a um grupo de trabalhadores que vive no anonimato, os cortadores de cana-de-açúcar. O filme, somos informados, foi rodado durante os sete meses da colheita de cana. E também ficamos sabendo que a cana-de-açúcar, que teve papel fundamental na economia brasileira desde o tempo da colônia, ainda hoje emprega 1,3 milhão de pessoas. Atalla passou seis meses no campo, durante a colheita, colhendo também ele depoimentos, fragmentos de vida, histórias de pessoas que vêm de longe, hábitos, maneiras de ver o mundo, etc. As imagens são tomadas com respeito, com senso de humanidade e correção. Não por acaso, o filme tem recebido alguns prêmios importantes, como a Margarida de Prata de 2001, alguns troféus no Recife, etc. É um trabalho honesto. E também revelador. Afinal, como se disse, ele pretende mostrar a cara e a voz de quem em geral não tem voz nem cara em nossa sociedade. Ou seja, essa gente não faz parte do espetáculo, não vende, em tese não desperta interesse em ninguém, etc., o que coloca um problema adicional para a comercialização do filme: afinal, quem vai sair de casa para ver um documentário com gente pobre falando de si mesma? Nesse sentido, Atalla presta um bom e objetivo serviço. Coloca à disposição do espectador fatias de vida que ele desconhece. Resta ver se o distinto público estará interessado em conhecê-las. No entanto, há um viés no filme, que o tira da neutralidade. Ao que parece, o setor encontra-se em outra de suas fases de transição. Uma lei ambiental, já aprovada pelo Congresso, determina que a colheita de cana deve ser mecanizada até 2015. Segundo o autor, a mecanização já começou e o desemprego ronda a profissão dos cortadores de cana. No final, a narração em off lamenta que toda uma cultura humana esteja em via de desaparecer com a chegada da mecanização. A Vida em Cana indica que é uma vida idílica e não o duro cotidiano dos trabalhadores rurais que periga sumir do mapa. É curioso, e não deixa de ser sintomático. Esse filme, que em outros tempos poderia ter se encaminhado para a denúncia social, termina hoje no registro da nostalgia romântica. A Vida em Cana. Documentário. Direção Jorge Wolney Atalla. Br/2001. Duração: 69 min. Cineclube DirecTV 3, às 16h30, 18 horas, 19h30 e 21 horas (terça não haverá a última sessão).

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