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Documentário conta a trágica história de Herzog

Com depoimentos de pessoas que estiveram presas no DOI-Codi e foram torturadas, filme conta a história de Herzog, morto em 1975 Ouça entrevista do cineasta à Eldorado

Por Agencia Estado
Atualização:

A trágica história do jornalista da TV Cultura Vladimir Herzog, morto em 25 de outubro de 1975, depois de ser preso no DOI-Codi, o órgão de repressão do II Exército, é contada pelo cineasta João Batista de Andrade, atual Secretário de Estado da Cultura de São Paulo, no filme que entra em cartaz hoje nos cinemas. "Era uma história que eu já deveria ter contado há mais tempo", diz João Batista, que na época era amigo pessoal e colega de trabalho de Herzog. No laudo médico, a foto de Vlado enforcado com o cinto fixado num ponto da cela inferior à sua altura rebateu a versão oficial, de que ele havia se suicidado. Em entrevista à Rádio Eldorado, Batista revelou que pretende fazer um longa de ficção sobre o tema. "Estou captando recursos para o filme". Segundo o cineasta, o projeto foi adiado por um tempo, para que ele pudesse finalizar o documentário, devido aos 30 anos da morte de Vlado. Vlado - 30 Anos Depois conta com depoimentos de outros amigos e colegas de Vlado - entre eles Fernando Morais e Paulo Markun, além do cardeal dom Paulo Evaristo Arns e do rabino Henry Sobel, promotores do culto ecumênico em memória de Herzog que, dias depois de sua morte, reuniu milhares de pessoas na Catedral da Sé, em silencioso desafio ao regime militar. Batista consegue imagens inéditas do culto na Sé, de excelente qualidade, mostrando a multidão em frente da igreja e os oradores, quase captando o clima de tensão que havia no ar. O mais impressionante são os depoimentos das pessoas que estiveram presas no DOI-Codi e foram vítimas das atrocidades da época: o capuz negro sobre a cabeça, os choques elétricos, as pancadas, os gritos ouvidos na cela - tudo isso é lembrado com emoção contida. O horror da tortura, em suma, era o emblema maior de uma época negra da história brasileira. "Uma época para não ser esquecida", segundo o cineasta. João Batista acha que ainda há muito pouca documentação sobre essa fase da ditadura brasileira. Livros e filmes têm aparecido sobre a época, mas concentrados mais sobre a luta armada. Vlado tem outro caráter, que João Batista procura destacar: a resistência não armada ao regime, a recusa da clandestinidade, atitude que, inclusive, teria sido fatal para Herzog. Batista entrevista alguns dos principais envolvidos na história, com exceção de algumas pessoas que não quiseram falar, entre elas o então governador de São Paulo, Paulo Egydio Martins.

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