Documentário apresenta a saga de espanhóis que lutaram contra Franco e se abrigaram no México

'No Exílio: um Filme de Família', de Juan Francisco Urrusti (México), exibido no festival É Tudo Verdade, traz ecos do massacre em Guernica, o primeiro em que a população civil serviu como alvo direto de um ataque aéreo.

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
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Quarta-feira, dia 26, completam-se 80 anos do bombardeio nazifascista à cidade basca de Guernica. O que resta da consciência ética mundial terá ocasião de meditar sobre as atrocidades da guerra e a indiferença de determinadas ideologias, ainda em voga, em relação à vida humana. No Exílio: um Filme de Família, de Juan Francisco Urrusti (México) traz ecos desse massacre, o primeiro em que a população civil serviu como alvo direto de um ataque aéreo. Guernica foi usada como laboratório pelas forças de Itália e Alemanha e significou o apoio incondicional dos dois países ao então rebelde Francisco Franco, que havia se levantado contra a República. 

Cena do filme 'No Exílio: um Filme de Família' Foto: É Tudo Verdade

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Embora as imagens de Guernica sejam talvez as mais chocantes, o filme trata da Guerra Civil Espanhola em seu todo. O mexicano Urrusti resgata a memória da família, que veio exilada da Espanha no rescaldo da vitória de Franco. Os quatro avós, uma tia e seus pais embarcaram num navio de carga, o Sinaia, depois de uma fuga aventuresca da Espanha para a França, cruzando os Pireneus. Conseguiram, por fim, embarcar em Sète, rumo ao México, talvez o país mais acolhedor a refugiados de todo o mundo. 

Ao longo de anos, o diretor gravou depoimentos dos parentes, já idosos, e usa as falas junto a cenas de arquivo mostrando a guerra, a morte, o sofrimento do povo, a arrogância fascista. São imagens impressionantes, inclusive as do bombardeio de Guernica. Filme feito “com o coração”, como disse o diretor, presente à sessão no Reserva Cultural, mas também com senso histórico e profundidade. 

Em princípio, o doc faz parte da tendência atual de pesquisa dos diretores sobre si mesmos e suas raízes familiares. No entanto, a própria natureza do material o empurra a outra dimensão, tirando-o da mera subjetividade e da esfera familiar, já que seus personagens foram participantes de grande narrativa histórica. A Guerra Civil Espanhola foi divisor de águas da humanidade. Em favor da República lutaram não apenas democratas espanhóis, mas voluntários de muitos países nas Brigadas Internacionais. Brasil inclusive.

O horror da guerra, a divisão das esquerdas no momento de enfrentar o adversário fascista, a solidariedade e o egoísmo, sentimentos torpes e generosos – tudo isso está lá, neste belo e emocionante documentário. 

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