PUBLICIDADE

Distribuidora estréia com filme sobre Glauber

Por Agencia Estado
Atualização:

Já em cartaz no Rio, e com estréia em São Paulo prevista para o dia 20, o documentário Rocha que Voa desvenda o período em que Glauber Rocha viveu em Cuba, entre 1971 e 1972. Apaixonado pela utopia de um cinema revolucionário para o Terceiro Mundo e pela idéia de unidade cultural latino-americana contra o dragão da colonização, lá Glauber sonorizou Câncer, realizou com Marcos Medeiros o painel documental História do Brasil e deixou lembranças imorredouras entre cineastas, cinéfilos e políticos cubanos. Eryk Rocha, seu filho com a fotógrafa e videoartista Paula Gaitán, recolheu esses ecos num filme de alta voltagem política e poética. Rocha que Voa marca também o teste de lançamento de uma nova distribuidora, a M´21 Filmes, resultado da associação do crítico José Carlos Avellar, ex-presidente da Riofilme, da ex-secretária de Cultura do município e do Estado do Rio, Helena Severo, e do economista Gustavo Marini. Não é, certamente, uma distribuidora como as outras. Não visa a grandes resultados instantâneos, mas à gradual formação de novas faixas de mercado para o cinema brasileiro e latino-americano. Em lugar de campanhas publicitárias milionárias, a opção é por estratégias de contato direto, divulgação em universidades e através de bens culturais paralelos. Para Rocha que Voa, por exemplo, a M´21 publicou (com a editora Aeroplano) um livro homônimo com a íntegra de duas das três entrevistas de Glauber que servem de eixo para o filme, além de um "trailer de papel" e um site fornido de textos e informações sobre o autor de Terra em Transe e o cinema latino-americano (www.martim21.com.br/rochaquevoa). Mais importante que o resultado comercial é um certo conceito de atuação. "O achatamento do mercado de distribuição levou a que todo filme não-hollywoodiano seja encarado como farinha do mesmo saco", analisa Avellar. "Nós queremos sublinhar o diferencial do filme latino-americano", completa. Ele cita o caso do cinema argentino, que, apesar da crise, continua fazendo filmes baratos que se pagam no mercado interno e obtêm sucesso em festivais internacionais. Da mesma forma, ele crê, uma distribuidora pode dimensionar seus investimentos e sua forma de atuação, de maneira a gastar menos e ainda ter alguma margem de lucro. Filme autoral - O documentário de Eryk Rocha, de certa maneira, anuncia o projeto da M´21 no sentido de promover o diálogo entre as cinematografias brasileira e latino-americana. A distribuidora já tem mais quatro filmes em carteira. Em comum, segundo Avellar, um modelo de filme autoral que discute a sociedade e tem ressonância dentro de sua cultura, em vez de simplesmente copiar o "modelo hegemônico" do cinemão norte-americano. Em novembro, a empresa colocará nas telas a comédia dramática argentina Bolívia, de Israel Adrian Caetano, sobre choques de imigrantes em torno de uma churrascaria de Buenos Aires, às vésperas da grande debacle econômica. Mais adiante, será a vez de dois filmes do mestre mexicano Arturo Ripstein. Um deles, Assim É a Vida, é versão contemporânea de Medéia passada num cortiço. O filme é tido como o primeiro longa-metragem rodado em vídeo digital na América Latina, em 1999. O outro Ripstein é a comédia de humor negro A Perdição dos Homens, vencedora da competição latina no último Festival de Gramado, em que duas mulheres brigam pelo cadáver do homem que dividiram em vida. Também do México virá o elogiado Contos de Fadas para Adormecer Crocodilos, de Ignacio Ortiz Cruz. Para cada filme, a M´21 pretende usar estratégia e instrumentos de divulgação diferentes. "Esse tipo de cinema solicita uma relação particular com o público. Sempre teremos peças que informem sobre a estrutura dramática do filme e estimulem uma leitura de contexto", explica Avellar. Helena Severo afina-se pelo mesmo diapasão: "Queremos formar espectadores ativos, que possam fazer uma leitura crítica do que estão vendo. Nossos objetivos estão no médio prazo." Ouvidos assim, os novos distribuidores parecem ecoar discurso semelhante ao da época em que respondiam pela municipal Riofilme - que, aliás, por algum tempo foi o único agente público de fomento ao cinema brasileiro após a extinção da Embrafilme. Helena não foge à comparação: "Queremos levar nossa experiência como gestores do poder público para o campo da iniciativa privada", afirma. Sob o guarda-chuva da M´21 Participações, encontram-se também atividades de gestão de investimento em cultura e assessoria na criação e implementação de projetos culturais. A distribuidora acena com futuras participações na produção de filmes brasileiros e acordos de distribuição dentro da América Latina.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.