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Distante das telas, Doris Day completa 90 anos

Atriz fez sucesso em filmes com Rock Hudson, mas se destacou mesmo como cantora

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

O primeiro filme data de 1939 – Thou Shalt not Kill –, mas o primeiro grande sucesso foi No, no Nanette, de David Butler, de 1950. Ele já a dirigira em Mademoiselle Fifi, no ano anterior, e voltaria a dirigi-la em Ardida como Pimenta, em 1953. Western musical que conta a história da lendária pistoleira Calamity Jane, o filme ganhou o Oscar de canção, e quem cantava Secret Love era a própria Doris. Dois anos depois, em Ama-me ou Esquece-Me, de Charles Vidor, se alguém tinha dúvida do talento de Doris ela passou no teste na cinebiografia da cantora Ruth Etting, dividida entre o amor de um pianista e o gângster que promete fazer dela uma estrela. Ela cantou muito perante as câmeras, mas nunca como em O Homem Que Sabia Demais, de Alfred Hitchcock, em 1957. Vale lembrar – Doris e o marido, James Stewart, passam férias no Marrocos e o filho deles é sequestrado como parte de uma trama para forçar o marido a cometer um assassinato político. Na cena decisiva – o tiro será desferido durante concerto no Albert Hall, em Londres –, Doris canta, aos prantos, a canção preferida do filho, Que Sera Sera, para que ele saiba que ela está por perto. Não havia mais nenhuma dúvida da grande atriz que ela era, ou podia ser. Mas aí ocorreu o fenômeno Pillow Talk.

Antes de falar no filme que mudou a vida – e a carreira de Doris – vale pegar carona no esclarecimento que Ruy Castro não se cansa de fazer. Doris não foi uma atriz que cantava, mas uma cantora – grande como Billie Holiday ou Ella Fitzgerald – que fez filmes. O que a marcou (diminuiu?) foi o rótulo de careta que o cinema colou nela. Com o título de Confidências à Meia-Noite, o filme de Michael Gordon é uma delícia de comédia sobre decoradora que divide a linha telefônica com um paquerador. Doris precisa do telefone para o trabalho, Rock Hudson fica jogando conversa fora com as mulheres que pretende levar para a cama. Finalmente, o galã se interessa por ela, e quer consumar o ato, mas Doris resiste. Revistos hoje, não apenas esse filme, mas os outros que Doris fez com Rock Hudson – Volta, Meu Amor, de Delbert Mann, e Não Me Mandem Flores, de Norman Jewison –, permitem leituras muito interessantes. Ele era gay, mas só saiu do armário muitos anos mais tarde, quando admitiu estar morrendo de aids. A questão é que Hudson dava dicas que só as plateias da época pareciam não entender. O gay que fingia ser macho tem sempre uma cena em que desmunheca. O sucesso foi tão grande que, embora reduzidas em relação à filmografia integral, essas comédias viraram o emblema de Doris Day. Fizeram dela recordista de bilheteria, mas Doris teve um marido produtor que limpou sua conta bancária. Por falar em maridos (no plural), Doris foi casada quatro vezes e teve um só filho, Terry Milcher, que morreu em 2004. Desde então, ela vive reclusa, dedicando-se à Doris Day Pet Foundation. Como Brigitte Bardot, que levou uma vida bem diferente da dela, a defesa dos animais lhe interessa mais que a dos homens. Noventa anos esta noite! Se numa crise de identidade, à Norma Desmond – a protagonista do cult Crepúsculo dos Deuses –, Doris puser hoje algum de seus velhos filmes ou discos para rever ou ouvir, poderá dizer como a lendária estrela de Billy Wilder. “Eu fui grande.”

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