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Diretores brasileiros, a convite do 'Estado', lembram os filmes de Bergman que mais influência tiveram em suas vidas

Documentário sobre a parceria entre Bergman e Liv Ullman - 'Liv & Ingmar - Uma História de Amor' - estreia nesta sexta-feira, 14, nos cinemas

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Por Redação
Atualização:

Fernando Meirelles

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“O filme de Bergman que mais me marcou foi Sonata de Outono, mas creio que, ao rodá-lo, ele e Liv Ullman já haviam se separado. Revi o filme algumas vezes, principalmente para assistir à cena onde Charlotte (Ingrid Bergman) vai mostrar para a filha Eva (Liv Ullmann) como ela deveria tocar a Sonata de Outono ao piano. A mãe começa a corrigir a filha e finalmente assume o piano e com uma interpretação magistral vai destruindo Eva. Lembro de ter lido na época que, para dirigir esta cena, Ingmar fez com que Liv sentisse antes cada músculo de sua face e aprendesse a ir soltando um por um muito lentamente. 

Me surpreendeu uma direção tão técnica para uma cena absurdamente emocional, por isso não me esqueci mais desta história. O que vemos na tela é exatamente um rosto que se desfaz, que se apaga aos poucos. Creio que é o momento de interpretação que mais me tocou e toca em tudo que já assisti na vida.

Assisti a um documentário feito para a TV Sueca que se encontra em locadoras chamado A Ilha de Bergman, que mostra o diretor em seus últimos tempos, quando se isolou numa casa que tinha numa ilha na Suécia de onde nunca mais saiu. 

Este filme me chocou, pois, ao contrário de um homem denso e profundo, vemos um Bergman mesquinho e egoísta, de uma pequenez que contrasta com tudo o que sempre imaginei que seria, a ilha parece ser a melhor metáfora para ele, na verdade. Pois bem, acho que a Charlotte, de Sonata de Outono, é muito inspirada nele mesmo (isso é teoria minha, pode ser besteira), é um tipo de autobiografia pois, assim como ele próprio, a Charlotte é uma artista reconhecida e admirada, capaz de expressar sentimentos muito profundos, mas que em seu íntimo é incapaz de sentir afeto e demonstrar seus sentimentos. É competitiva e tremendamente imatura emocionalmente e tenta o tempo todo esconder essa incapacidade de sentir, o que a torna uma figura surpreendentemente superficial. 

Ao ver Bergman falar com tamanho desinteresse sobre seus filhos ou sobre suas esposas no documentário, ou ouvir seus colaboradores sugerirem que ele era um arrogante insuportável, me fez fazer a ligação. Como alguém que não dispõe de ferramentas emocionais para conduzir a própria vida pode ser capaz de uma expressão artística tão profunda? Mistérios.

Se minha teoria fizer algum sentido, para quem quiser conhecer Bergman e não conseguir assistir a Liv & Ingmar, basta alugar Sonata de Outono e conhecer a Charlotte.”

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Walter Salles

“Para minha geração, o cinema era o instrumento de conhecimento do mundo por excelência. Persona, Gritos e Sussurros, Cenas de Um Casamento foram alguns dos filmes que me marcaram profundamente. Ingmar Bergman e Liv Ullmann nos mostraram que a alma humana era muito mais complexa do que podíamos imaginar. 

Nada é cronístico nesses filmes. A matéria que Ingmar Bergman e Liv Ullmann criaram em conjunto é de tal forma transcendente que ela desafia comparações. Saraband é um extraordinário testamento dessa relação e do legado desses dois artistas, um dos filmes de beleza mais aguda que já vi. As cenas entre Liv Ullmann e Erland Josephson em Saraband são simplesmente inesquecíveis.”

Marcelo Gomes

“Um filme que me marcou foi Cenas de Um Casamento. Fiquei emocionado com a construção dos diálogos e como Bergman filma cada situação. Existem precisão e economia dramatúrgica em tudo. As crianças do casal, por exemplo, quase não vemos. Afinal, o foco é outro. 

Assisto e reassisto a esse filme e descubro nuances de interpretação da personagem da Liv de tirar o fôlego. Aliás, Bergman é um diretor que, a cada retorno a seus filmes, fica mais presente na minha imaginação.”

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