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Diretora saudita quebra tabus no Festival de Veneza

Por SILVIA ALOISI
Atualização:

O primeiro filme saudita dirigido por uma mulher estreou no Festival de Veneza, discutindo, por meio da história de uma voluntariosa menina de 10 anos, as limitações impostas ao sexo feminino no conservador reino islâmico. Constantemente importunada por não usar véu, escutar música pop e não se esconder diante dos homens, a menina Wajda usa da astúcia para escapar das restrições e barreiras sociais que enfrenta em casa e na escola. Quando ela vê à venda uma bicicleta verde que a permitiria disputar uma corrida contra um amigo homem, ela trama um plano para arrumar dinheiro e comprá-la, apesar da oposição da sua mãe -- meninas de respeito não pedalam na Arábia Saudita. Ela acaba decorando versículos do Alcorão para se inscrever numa competição religiosa na escola, com prêmio em dinheiro, e por isso precisa fingir ser a menina carola que seus professores querem. A diretora Haifaa al Mansour disse que o objetivo de "Wajda" é retratar a segregação na Arábia Saudita, onde as mulheres têm um status jurídico inferior ao dos homens, são proibidas de dirigir e precisam da permissão de um tutor masculino para trabalhar, viajar ou abrir conta bancária. "É fácil dizer que se trata de um lugar difícil e conservador para uma mulher, e que não há nada a fazer, mas precisamos ir adiante e esperar que possamos ajudar a torná-la uma sociedade mais relaxada e tolerante", disse ela a jornalistas, em inglês, após a pré-estreia do seu filme em Veneza. Ela citou alguns sinais de mudança na sociedade saudita, e disse que as novas gerações estão desafiando costumes rígidos e lentamente ampliando as fronteiras do que é aceitável. Sob o governo do rei Abdullah, a Arábia Saudita passou a oferecer mais oportunidades de educação e trabalho às mulheres, e também o direito a voto em futuras eleições municipais -- única espécie de pleito realizada no país. No mês passado, mulheres sauditas disputaram sua primeira Olimpíada. "Não está como antes, embora eu não possa dizer que é um paraíso. A sociedade não vai simplesmente aceitar, as pessoas vão pressionar as mulheres a ficarem em casa, mas precisamos lutar", afirmou a cineasta. Mansour falou das dificuldades para filmar em Riad, apesar de ter obtido autorização das autoridades. Em alguns bairros mais conservadores, ela às vezes precisava se esconder no furgão da produção quando moradores reclamavam por ver uma diretora se misturando a homens na locação. Em alguns casos, ela precisou dirigir atores homens com um "walkie-talkie". "Wajda", que não está na competição principal de Veneza, deve ter um público limitado no seu próprio país, onde salas de cinema são ilegais. Mas os produtores dizem que esperam distribuir o filme em DVD e em canais de TV. (Reportagem de Silvia Aloisi)

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