Diretora de ‘Um Segredo em Paris’ conta como foi filmar com o ator de Visconti, Jean Sorel

Elise Girard fala sobre seu filme, que retrata a relação platônica entre uma garota em busca de seu caminho e um livreiro de quase 80 anos

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Numa entrevista por telefone, de Paris, a diretora Elise Girard faz interessantes revelações sobre a gênese de seu longa em cartaz nos cinemas brasileiros. Chama-se Um Segredo em Paris. Conta a história de uma garota que busca seu caminho na vida. Chama-se Mavie, literalmente ‘minha vida’. Mavie liga-se a um livreiro idoso, de quase 80 anos. Iniciam uma relação platônica. Ela é interpretada por Lolita Chammah, filha de Isabelle Huppert (na vida). Ele, por Jean Sorel, que filmou com grandes diretores italianos nos anos 1960 – Luchino Visconti, Mauro Bolognini.

Sorel e Lolita Chammah, em 'Um Segredo em Paris' Foto: KINOELEKTRON

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Um bom começo de conversa é justamente a pergunta que não quer calar. Sorel vivia recluso há anos. Como ela o convenceu a voltar? “Tenho de ser sincera. Ia fazer um filme com outro ator. Com o início das filmagens já programado, ele me falhou. Tive de resolver o problema rapidamente. Alguém me disse para tentar Jean Sorel. Levei mais tempo tentando localizá-lo do que para convencê-lo. Ele gostou de mim, gostou do roteiro. E eu então introduzi um elemento de mistério, um passado, para tornar o personagem mais ambivalente. Havia esse mistério nos filmes dele com Bolognini e Visconti, Um Dia de Enlouquecer e Vagas Estrelas da Ursa. O jovem Jean foi um homem belíssimo, continua sendo. Fazia o irmão incestuoso de Claudia Cardinale. Quis manter essa ambivalência.”

E Lolita? “Lolita, de certa forma, sou eu, que vim da província muito jovem e fiquei deslumbrada com essa cidade. Apaixonei-me instantaneamente. Como sempre gostei de me cercar de pessoas mais velhas, minhas amizades foram me orientando para esse tipo de ligação. Fui assessora de imprensa do criador do Cinéma Action, um cinema de arte e ensaio muito conhecido na França. Divulgava o cinema autoral, de perfil mais artístico. E comecei a sonhar com o fazer cinema. Fiz um documentário sobre o Cinéma Action, sobre o Saint-André-des-Arts. Foi assim que comecei. Mas, atenção, Lolita, no filme, não sou eu. O filme tem muito de pessoal, mas não necessariamente autobiográfico.”

Uma história de amor platônica nessa era de permissividade? “Acho que foi, justamente, o que fez o charme e o sucesso do filme. Um Segredo em Paris é um filme pequeno, muito pequeno. Poderia ter passado despercebido, mas tive boas críticas, o público foi ver, o boca a boca funcionou.” O que representa para ela passar esse filme no Brasil? “Não gosto da ideia da mensagem, mas é um filme positivo. O filme é meu abraço, para que tudo termine dando certo para o País.”

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