Diretor Volker Schlondorff fala sobre o filme 'Diplomacia'

Cineasta também aborda como a capital francesa foi salva

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Por Luiz Carlos Merten
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Volker Schlondorff tinha 16 anos quando foi estudar em Paris. Apaixonou-se pela cidade, virou cineasta, mas antes foi assistente de Louis Malle e Jean-Pierre Melville. Conta histórias como a de François Truffaut, que tinha certa diferença com Malle - e qualquer outro que pudesse competir com seu talento -, mas que, pelo menos, tinha a grandeza de reconhecer quando o superavam. “Seu filme é maravilhoso”, disse para Malle, após ver Zazie no Metrô. Schlondorff reflete: “Naquele tempo, fazíamos história, mas ainda não sabíamos”. Por falar em história - a grande, com maiúscula -, seu novo longa como diretor, o melhor em anos, Diplomacia, estreou na quinta, 7, retomando uma história que René Clément já contou nos anos 1960. Paris Está em Chamas? foi a pergunta que Adolf Hitler fez, pelo telefone, ao general Dietrich Von Choltitz.. O ‘führer’ nutria uma relação de amor e ódio pela capital francesa. Queria ser pintor, mas era medíocre. E ordenou que, no caso de débâcle do seu nacional-socialismo, Paris devia ser explodida, a começar pelo Louvre. O que salvou a cidade foi a mediação de um diplomata sueco, Nordling, que convenceu Von Choltitz a recuar da medida ordenada por Hitler. Orson Welles e Gert Frobe faziam os papéis no filme de Clément. Niels Arestrup, de O Profeta, e André Dussolier, dos filmes de Alain Resnais, retomam os personagens na versão de Schlondorff. Antes de seguir adiante, convém ressaltar que Diplomacia baseia-se na peça de Cyril Gely, que foi interpretada pelos dois atores no palco. Schlondorff não foi a primeira escolha dos produtores, mas quando, após uma ou duas desistências, o roteiro lhe veio às mãos, ele não vacilou. “Além do meu amor por Paris, havia o pedido de minha filha, que me cobrava um novo filme de guerra.” Um dos fundadores do novo cinema alemão, Schlondorff ganhou notoriedade pela Palma de Ouro que obteve em 1979 por O Tambor, que adaptou do romance de Gunther Grass. Sua Palma foi dividida - ex aequo - com o Francis Ford Coppola de Apocalypse Now.

Diplomacia foi filmado em locações em Paris, menos as cenas de interiores do Hotel Meurice, reproduzido em estúdio. O próprio Meurice forneceu locações como lobby e a fachada. “Eles não queriam, porque achavam que o fato de ter sido QG dos nazistas não acrescentava à reputação do hotel.” Schlondorff convenceu o dono dizendo que ele poderia colocar uma placa - “Aqui foi salva Paris.” O filme é, basicamente, o diálogo cruzado entre dois homens - o militar, preso a conceitos de dever e hierarquia (e também refém de Hitler, que mantém sob vigilância sua família na Alemanha) e o diplomata, que joga suas cartas em defesa de Paris. Sem entrar em detalhes - portanto, sem risco de spoiler -, Paris é salva por uma mentira. Antes que você invoque o aspecto ético, vale lembrar outra história. Em 496, Clóvis, um rei merovíngio, uniu todas as tribos francas e foi ungido rei da França unificada. Era adepto do arianismo, mas se converteu ao catolicismo. Pode ser lenda, mas uma frase dele passou à história. “Paris vale uma missa.” O repórter lembra o fato para Schlondorff. “Paris valeu uma mentira, também”, ele filosofa. Mas o letreiro final informa que tudo, afinal, deu certo. Na fase de preparação, o diretor encontrou-se com o antigo bartender do Meurice, que já estava com 93 anos. “Gaston (seu nome) contou como um dia a porta do bar se abriu e o ex-general apareceu. Ofereceu-lhe um drinque, mas ele recusou e disse que só estava matando a saudade.” Schlondorff concentrou-se na peça de Gely, ignorando fontes como a biografia de Von Scholtitz. “É autoindulgente e congratulatória, e não me pareceu confiável. Ele chega a sugerir que, mais que a intervenção de Nordling, foi a certeza de que Hitler estava louco pela derrota que o levou a desistir das explosões programadas. Não creio que seja uma hipótese consistente.” O repórter lembra a trajetória de Schlondorff e seus colegas de geração no novo cine alemão. Rainer Werner Fassbinder, Werner Herzog. Cita seu favorito, com todo respeito pelo próprio Schlondorff - Alexander Kluge. “Jantei com ele no outro dia. Kluge é um amigo e um grande artista. E segue ativo na TV de Munique.”