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Diretor procura "reverso do sonho americano"

Por Agencia Estado
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Paul Thomas Anderson é um dos mais importantes da nova geração americana. Boogie Nights - Prazer sem Limites e Magnólia estabeceleram seu nome (e sua reputação). A 2.ª Semana Brasil Independentes, no Espaço Unibanco, traz agora o primeiro longa do diretor. Hard Eight tem força. Numa entrevista por e-mail, Anderson conta como teve a idéia para fazer o filme. Ele estava em Reno, Nevada, em 1993, trabalhando como assistente de produção num telefilme. Escreveu Hard Eight rapidamente, em três semanas. Concebeu-o como uma declaração de amor a Philip Baker Hall, que é um de seus atores preferidos. Imaginou qual seria a história ideal para ele. E escreveu Hard Eight. O ator, nesse caso, foi um dado muito importante, mas Anderson conta que teve outra fonte de referência. "Os personagens são vagamente baseados em pessoas da vida real; não é um tipo de gente com a qual eu conviva, mas li muito sobre essas pessoas e fiquei aquele tempo todo em Reno observando-as a distância". Mas o que ele fez mesmo foi transferir para a realidade sua admiração pelos filmes de gângsteres interpretados por James Cagney e Humphrey Bogart nos anos 30 e 40. "Sempre pensei muito no que seria daqueles velhos gângsteres se, por acaso, tivessem sobrevivido". Nos filmes, eles sempre morriam no fim, porque era o que exigia a moral vigente em Hollywood, na época, mas Anderson resolveu perguntar-se - "Que tipo de culpa carregariam se ainda fossem vivos?" Hard Eight nasceu do encontro das obsessões de um cinéfilo com a sincera admiração de um aspirante a diretor por um ator genial. A história trata da ligação entre um jogador veterano e um jovem. Traz para a tela o clima dos cabarés e casas de jogo. Sugere, de alguma forma, a influência de A Cor do Dinheiro, de Martin Scorsese, com Paul Newman e Tom Cruise. "É um filme esplêndido", diz Anderson. "Marcou-me muito quando o vi e, embora não tenha sido uma referência explícita, devo dizer que, com certeza, influenciou minha maneira de olhar essas pessoas, na arte como na vida". Anderson acha que o que liga Hard Eight aos filmes que fez depois "é o desejo de revelar o reverso do sonho americano". Ele diz que não foi um garoto politizado, não tinha muitas idéias políticas quando estava crescendo, mas agora tem idéias formadas sobre muita coisa - leia-se a sociedade de seu país. Quer expressá-las na tela. Diz que o público não teve oportunidade de responder ao filme porque ele teve uma circulação muito limitada - foi boicotado pelos distribuidores e exibidores. "Mas os críticos adoraram e o apoiaram", conta. Já que o filme passa no quadro de uma mostra sobre independentes, não deixa de ser oportuno registrar o que diz Anderson. "Não existe mais isso que se chama Hollywood ou produção independente; existem apenas filmes". As técnicas de produção e direção mudaram muito nos últimos dez anos. "Não importa mais quem paga a conta; você busca o dinheiro onde ele estiver; às vezes consegue o apoio de um astro, interessado em fazer algo diferente e isso abre as portas do financiamento". Sua relação com Hollywood tem sido amena, mas ele explica - "Meus filmes custam barato e têm correspondido, em termos de público e crítica; talvez eu tenha problemas se começar a estourar orçamentos". Anderson escreve sozinho os roteiros de seus filmes. Acredita que essa é a forma correta para quem busca uma expressão pessoal. Conta de onde veio a fascinação pela pornografia de Boogie Nights. "Cresci no Vale de San Fernando, que é o centro da produção pornô na América". E acrescenta: "Via muitos filmes pornográficos quando garoto; vejo até hoje."

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