Diretor inspirou-se nos westerns para compor "Eureka"

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Por Agencia Estado
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Aoyama Shinji pretende construir uma obra com referências diversas - apesar de tentar fugir do que chama "convencionalismo japonês", confessa sua admiração pelo trabalho de Yasujiro Ozu e Tatsumi Kumashiro, além do encantamento confesso pelo cinema ocidental, especialmente o western americano. AE-Qual é a importância de Yasujiro Ozu e Tatsumi Kumashiro em seu trabalho? E os westerns americanos? Aoyama Shinji - Sempre busco mudar as referências a cada trabalho. Em relação a Eureka, faço referências aos westerns americanos, especialmente à viagem e à vida familiar nos filmes de John Ford. No final de Eureka, por exemplo, Koji Yakusho, que faz o papel do motorista do ônibus, diz para a menina Kozue: "Vamos para casa", exatamente o que John Wayne diz a Natalie Wood na cena final de Rastros de Ódio. Embora não pareça, Eureka é realmente um western! Construí a história levando em conta a distância entre os americanos daquela época e a sociedade japonesa de hoje. Já em Desert Moon, descobri o encaixe entre Ozu e Kumashiro. Ao escrever a história, pensei em como os pensamentos dos dois sobre a família mudaram ao longo do tempo. Em outras palavras, estudei o colapso das grandes famílias segundo Ozu e o colapso do núcleo familiar segundo Kumashiro. Com isso, analisei o que modificou após a visão desses dois cineastas, até chegar à situação atual dos valores familiares, além das perspectivas para o futuro. O senhor trabalhou como assistente de diretores ocidentais, como Fridrik Thór Fridriksson, no filme Cold Fever, e Daniel Schmid, em The Written Face. Qual a importância desse tipo de trabalho? Eles me mostraram uma forma de trabalhar no set de filmagem completamente diferente da metodologia convencional do cinema japonês. Em meu país, tudo deve ser exatamente planejado no roteiro, o que é encarado como uma virtude. Já o trabalho com Fridrik e Daniel, ao contrário, buscava liberar a imaginação quanto fosse possível até a câmera realmente começar a filmar. Gostaria muito de trabalhar como eles e filmar com liberdade. O atentado terrorista no metrô de Tóquio, em 1995, quando os passageiros foram sufocados por um gás letal, inspirou seu trabalho, especialmente nas cenas iniciais de "Eureka". Como o senhor reflete sobre as conseqüências provocadas por essa violência no Japão, um país que hoje tem inúmeras religiões, muitas delas violentas? No pós-guerra, a sociedade japonesa alcançou um crescimento sem precedentes ao deixar para trás aqueles que não podiam acompanhar a reconstrução pacífica - e, mesmo depois de nos tornarmos um país rico, não conseguimos mudar essa tendência. Os líderes dessas religiões são pessoas vulgares e grosseiras, mas seus seguidores vão sempre adorá-las, acreditando que nunca serão deixados para trás. Eles encontram o significado de sua existência nessas religiões. Afinal, é mais fácil para eles conviver entre cultos que os tornam superiores e os aceitam como membros, ao contrário da sociedade real, que os obriga a lutar contra a inferioridade, sacrificando o próprio orgulho para sobreviver. Os japoneses anseiam por ter uma vida mentalmente mais fácil. Estão todos exaustos. Qual será seu novo projeto? Aoyama - Será um filme em que utilizarei um orçamento muito maior que dos meus longas anteriores. A história vai se passar no tempo presente e eu quero descrever a sociedade por meio de diversas famílias.

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