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Diretor e ator falam sobre "O Jardineiro Fiel"

Fernando Meirelles e o ator inglês Ralph Fiennes falam sobre o filme que entra nos cinemas no dia 14, mas passa em pré-estréia no Festival do Rio

Por Agencia Estado
Atualização:

Nos créditos finais do filme que Fernando Meirelles adaptou do livro de John Le Carré, o nome de Ralph Fiennes aparece duas vezes - ele faz o protagonista da história, Quayle, mas também aparece como segundo câmera. O filme estréia oficialmente no Brasil no dia 14. Fiennes veio ao Brasil para a coletiva de lançamento, nesta terça-feira, no Hotel Méridien, no Rio de Janeiro. O Jardineiro Fiel será exibido nesta quarta, na presença do diretor e do ator, no Festival do Rio 2005. Fiennes disse que achou divertido filmar algumas cenas, expressando o ponto de vista de Quayle. Até por essa liberdade que Meirelles lhe concedeu, Fiennes adorou trabalhar com o diretor. O que ficou, para ele, dessa experiência, foi justamente "a generosidade de Fernando", explicou. O próprio Meirelles afirma que gosta de trabalhar em equipe. Como o filme é uma produção inglesa, ele só conseguiu levar o fotógrafo César Charlone. "Era condição para aceitar o convite. César é mais do que simplesmente fotógrafo. Somos uma extensão um do outro. Muita coisa que creditam a mim, na verdade, é invenção dele." Bráulio Mantovani, seu roteirista preferido, também deu sua contribuição no roteiro e aparece como consultor. Meirelles conta o que o atraiu no livro e no roteiro de Jeffrey Caine. "Achei que seria interessante falar sobre a indústria farmacêutica e de como as grandes corporações controlam os governos, que controlam a vida da gente." A indústria dos remédios trabalha com drogas que podem ajudar as pessoas, e isso é positivo, mas ela pode ditar os preços e os atira lá no alto, o que é nocivo, segundo o diretor. "Os benefícios terminam atingindo uma parcela mínima, uns 8% da humanidade, que podem pagar pelos medicamentos." Acostumado a trabalhar a exclusão (em Domésticas e Cidade de Deus), Meirelles fez outro filme de pegada forte, mas não acredita que vá falar indefinidamente de problemas sociais. "Meu próximo roteiro, Intolerância 2, fala da globalização de uma forma mais filosófica." Será outro filme grande, com seis histórias rodadas em sete países. O título é uma referência ao clássico de David W. Griffith. Meirelles também trabalha em outro projeto. "Será um filme de orçamento menor, com um roteirista do Rio." E mais ele não conta. O Jardineiro Fiel ocorreu rapidamente na carreira do diretor. A proposta lhe veio em função do sucesso de Cidade de Deus, que virou referência do cinema brasileiro em todo o mundo. Cerca de 40 dias após receber o roteiro e, seduzido, dizer sim, Meirelles já estava na África escolhendo locações. Embora o livro de Le Carré esteja banido no Quênia, por motivos óbvios - a história se passa lá -, ele conseguiu filmar no país. Mais do que um filme sobre pobreza na África, é um filme sobre o genocídio africano pela via da conexão com o poder econômico global, ele insiste. Fiennes ficou duplamente atraído - pelo personagem e pela responsabilidade social intrínseca ao projeto. "Escolhas envolvem sempre responsabilidades. É desta maneira que seleciono meus papéis no teatro e no cinema." Além de O Jardineiro Fiel, ele está em outros dois projetos que vão dar o que falar - o novo Harry Potter, O Cálice de Fogo, e o filme que James Ivory realizou baseado num roteiro original de Kazuo Ishiguro. Para um ator com seu grau de consciência, Fiennes admite que se divertiu muito fazendo o vilão do pequeno bruxo. "Nós, atores, falamos muito sobre pesquisa para os personagens, mas, no fim, temos de criá-los a partir da imaginação. Represento a essência do mal. Foi divertido." Com Ivory, a experiência foi outra - o filme passa-se na China, por volta de 1936. Ele faz um diplomata, como em O Jardineiro Fiel, só que, em vez do poder econômico que usa os africanos como cobaias, enfrenta outro tipo de ameaça - o imperialismo japonês e o nazi-fascismo, às vésperas da 2.ª Guerra Mundial. "James trabalha no detalhe. É um diretor muito meticuloso." Pertencer a uma família de artistas facilitou muito suas escolhas. O pai era romancista, a mãe, fotógrafa. Os filhos foram sempre estimulados a se expressar. Ralph e o irmão Joseph viraram atores; a irmã, Martha, virou diretora. Ele não consegue se imaginar fazendo outra coisa, mas se desconcerta um pouco quando o assunto vira sua chance no Oscar. "O que posso dizer? O prêmio é importante dentro da indústria." Alguém comenta sobre seu corpinho sarado. "Não me preparei fisicamente para o papel, mas gosto de me manter em forma. E obrigado pelo sarado", diz rindo. Ele estava de excelente humor durante toda a entrevista. O astro e o homem simples parecem conviver em Ralph Fiennes. O repórter viajou a convite do festival

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