"Deus É Brasileiro" mantém boa bilheteria

Ao chegar à quarta semana em cartaz, Deus É Brasileiro, de Cacá Diegues, já é sucesso de público. Nada menos do que 564.033 já assistiram ao filme

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Por Agencia Estado
Atualização:

Ao entrar, nesta sexta-feira, na quarta semana em cartaz, Deus É Brasileiro caminha para se tornar um dos grandes sucessos de público do ano. Os números, que não mentem quase nunca, confirmam. Segundo pesquisa da revista eletrônica Filme B, especializada no mercado cinematográfico, o filme de Carlos Diegues atraiu para os cinemas até o domingo passado 564.033 espectadores - 176.407 só no fim de semana de 7 a 9. Com 149 cópias em circulação, teve uma média de 1.184 pessoas por cópia. E as indicações do sucesso não param por aí. Informa a mesma publicação que Deus É Brasileiro entrou no ranking geral do ano em sétimo lugar. Se mantiver a toada nesta semana e nas seguintes, pode ser que mantenha a mesma colocação ou até galgue alguns degraus. Isso, no entanto, não passa de um exercício de futurologia. Com mais dez meses pela frente, e lançamentos programados de blockbusters como Matrix Reloaded e outras grandes produções, fica difícil prever o que poderá acontecer na configuração dessa tabela. De qualquer maneira, Deus É Brasileiro confirma-se como sucesso de público, o que não é pouco. E confirma-se, também, como mais um ponto alto na irregular carreira de Cacá Diegues. Cabe como uma luva em seu projeto de levar para a tela as mazelas de um Brasil malformado, errado e, muitas vezes, injusto. E está perfeitamente conectado com a realidade atual do País, liderado hoje por um autêntico representante do povo e munido de uma carga extra de esperança para o futuro. Ao adaptar o conto O Santo Que não Acreditava em Deus, de João Ubaldo Ribeiro, Diegues mergulha nesse Brasil imperfeito, cujo povo tem capacidade de rir de si mesmo e consegue encontrar soluções simples e criativas para sobreviver às piores crises. Exatamente para ressaltar essas características, coloca Deus, que supostamente nos teria feito à sua imagem e perfeição, como personagem principal do filme. Ele está cansado de administrar a bagunça em que os seres humanos transformaram o mundo. Quer tirar férias e precisa encontrar alguém para cobrir suas férias. Na pele de um Antônio Fagundes grisalho e queimado de sol, esse Deus arrogante, melindroso e ensimesmado não se parece muito com o povo que encontra pelo caminho. Com seu figurino, a camisa quadriculada, calça de sarja, botina e suspensório, não poderia passar despercebido. Seu exotismo, mais do que sua asséptica perfeição, o destaca da paisagem humana, repleta de contradições e abismos de toda a ordem. Por oposição, esse é o verdadeiro elogio da imperfeição. Guiado por Taoca (Wagner Moura) e Madá (Paloma Duarte), Deus percorre o interior do Brasil à procura de seu eleito. Faz uma via-crúcis às avessas, experimentando um pouco do que seu filho, Jesus, experimentou há mais de 2 mil anos - sem tanto sofrimento. Ele experimenta a tentação, o cansaço, as dificuldades. E o faz deliberadamente, já que não quer lançar mão de milagres. "Você faz um milagre aqui e tem de bulir em outros lugares", explica ao seu guia de viagem, ansioso por uma dessas pequenas mágicas que mudam a vida de algumas pessoas instantaneamente. "Dá muito trabalho." Deus quer mesmo é encontrar seu substituto e ir embora para as estrelas, descansar e "ouvir o estouro das supernovas". Já tem o nome do eleito, só precisa achá-lo no meio daquela bagunça toda. O nome dele é Quinca das Mulas (Bruce Gomlevski), uma espécie de santo vivo, que por onde passa faz o bem. Vai descobri-lo em uma reserva indígena, onde está cuidando de uma tribo em vias de extinção. Só que o santo, que também é brasileiro, não acredita em Deus. Acredita no Homem, assim mesmo, com h maiúsculo. E no seu poder de se adaptar, de superar e de sobreviver, a despeito de tudo.

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