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'Desonra' mostra preconceitos da sociedade japonesa

Baseado em relatos reais, filme mostra a recepção no Japão de reféns japoneses sequestrados por iraquianos

Por Rodrigo Zavala e da Reuters
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Desonra, filme do diretor e roteirista Masahiro Kobayashi, traz um olhar crítico sobre alguns preconceitos da sociedade japonesa. O longa, que estréia nesta quarta-feira, 30, foi exibido na 29.ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2005, com o título Humilhação. Com base em relatos reais, o filme mostra como foi a recepção dos reféns japoneses sequestrados por rebeldes iraquianos em 2004, quando finalmente voltaram ao seu país. Não apenas foram sistematicamente hostilizados em suas comunidades, como também viram seus familiares tornarem-se alvos de discriminação por parte de uma sociedade em que as tradições pesam fortemente. Para ilustrar essa dramática situação, Kobayashi conta a história da personagem Yuko (Fusako Urabe), que recebe toda a sorte de insultos desde o início da história. A moça é agredida verbalmente, por vezes até fisicamente, por seus antigos amigos e namorado, pelos colegas de trabalho - do qual ela acaba demitida - e por desconhecidos na rua. Mesmo em sua casa, o tormento não tem fim. Sua mãe (Nenê Otsuka) não a defende, permanecendo omissa. O pai (Ryuzo Tanaka) dá a entender que está conformado com a situação, pedindo paciência à filha. Yuko isola-se em seu quarto, o único refúgio aparente. De fato, o diretor não apresenta claramente o motivo da rejeição. Entre os xingamentos e telefonemas anônimos perturbadores, seu perseguidores questionam a protagonista: "Você gosta de fazer o que quer, não?". Presume-se, portanto, que a independência da protagonista, ao decidir viajar sozinha para o Iraque, para trabalhar como voluntária, foi uma afronta social. Na visão dos que a perseguem, o sequestro, no fim, foi uma das punições que ela mereceu. A escolha do diretor Kobayashi em não usar iluminação, trilha sonora ou cenografia, confere tom documental a tudo que se vê na tela. No entanto, não se conta, por exemplo, que Yuko é uma composição a partir da história das três vítimas reais: a jovem pesquisadora Noriaki Imai, 18, o voluntário Nahoko Takato, 34, e o fotógrafo Soichiro Koriyama, 32. Os três foram sequestrados em uma estrada que liga Amã a Bagdá, por um grupo que havia ameaçado matá-los caso o governo japonês se recusasse a retirar suas tropas do Iraque. Dias depois, eles foram libertados e voltaram para o Japão, onde se tornariam párias sociais.

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