Desenho da Disney traz leão covarde que vira corajoso

Em Selvagem, a história da bicharada que foge do zoo e atravessa o Atlântico de navio é a mesma de Madagascar

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Por Agencia Estado
Atualização:

É fácil desqualificar uma animação como Selvagem, a nova produção da Disney, que estréia amanhã nos cinemas brasileiros. A história da bicharada que foge do zoo e atravessa o Atlântico de navio é a mesma de Madagascar e até o traço, o desenho, propriamente dito, é o mesmo nos dois filmes A história do pai que precisa se superar para salvar o filho que desapareceu é, sem tirar nem pôr, a de Procurando Nemo, animação que já nasceu clássica, da Pixar e da Disney. E ainda existem elementos de O Mágico de Oz e O Rei Leão. Como a fantasia assinada por Victor Fleming em 1939, Selvagem conta a história de um leão covarde que vai adquirir coragem. E, como O Rei Leão, tem impressionantes montagens musicais em cenas que mostram as multidões manipuladas por vilões cuja origem está claramente no Estado-espetáculo dos nazistas, que sabiam criar essas manifestações de massas para engambelar o público. Se você usar tudo isso para dizer que Selvagem é um desenho de fórmula, um produto de massa voltado ao consumo imediato, não estará mentindo. Mas se quiser dizer que, por isso, é perda de tempo assistir ao novo desenho da Disney, bem, aí sim, poderá não corresponder à verdade, pois Selvagem possui encanto próprio. Não é criativo como A Era do Gelo 2, que o brasileiro Carlos Saldanha realizou na Fox, mas é melhor do que Madagascar - que foi aquele supersucesso no ano passado. E os pais, que levam as crianças, vão se emocionar. Quase não se fala nisso, mas num cinema tão voltado à celebração do indivíduo, como o americano, as animações tratam, preferencialmente, de grupos. Como nos filmes do mestre John Ford, que também contam epopéias de grupos - com a brilhante exceção da tragédia do individualista de Rastros de Ódio -, Selvagem também usa a história do leão Sansão e seu filhote Ryan para contar a história da turma que, por amizade, o acompanha - um coala, que é o único a conhecer o segredo desse pai; uma girafa; um esquilo; e uma sucuri. Não há grupo mais heterogêneo, forçado a conviver com as próprias diferenças e a aceitá-las (ou transcendê-las). O diminuto esquilo, por exemplo, morre de desejo pela altíssima girafa, tendo que vencer um obstáculo muito maior do que aquele pescoço longuíssimo. Disney criou, em seus desenhos, esse modelo do grupo, permitindo que coadjuvantes roubem a cena de seus heróis. E há o antropomorfismo próprio da animação, que faz com que os animais adquiram, para bem e para o mal, características humanas. Tudo isso é verdade, mas Selvagem ainda trabalha sobre dois temas recorrentes do cinema americano, a segunda chance e o retorno ao lar. Quando abandona o zoológico de Nova York, seguindo atrás de Ryan, que está sendo levado num contêiner para a África, o grupo de Selvagem, com o pai aflito à frente, parte em busca das raízes, do rugido ancestral que Sansão perdeu na selva de concreto. Concluída a missão, a volta ao lar é para Nova York. No processo, Sansão e seus amigos tiveram oportunidade de superar seus limites. A ironia nisso tudo, que os adultos talvez captem melhor do que as crianças, é que a felicidade e a família estão num modelo de organização social que prevê o cativeiro do zôo, representação metafórica do ?sistema?. O diretor de Selvagem é Steve ?Paz? Williams, que concorreu ao Oscar pelos efeitos visuais de O Máskara e foi pioneiro no uso de animação digital em superproduções de live action, como O Parque dos Dinossauros e O Exterminador 2 - O Julgamento Final. Williams não é Saldanha, mas também sabe que, na boa animação, a técnica tem de estar a serviço da história. A de Selvagem, salvo alguns momentos assustadores ou mais arrastados na caverna dos gnus, tem atrativos para adultos e crianças. Selvagem (The Wild, EUA/ 2006, 94 min.). Animação. Dir. Steve "Spaz" Williams. Livre. DUBLADO: Metrô Santa Cruz 1 - 11h10, 13h20, 15h30, 17h40, 19h40, 21h40, 0h. Morumbi 4 - 14h, 16h, 18h, 20h, 22h. LEGENDADO: Unibanco Arteplex 5 - 13h, 15h10, 17h20, 19h30, 21h40.

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