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Demorou, mas gays conquistaram espaço no Oscar

Na última década, personagens e filmes com temática LGBT passaram a frequentar assiduamente a lista de indicados e até de premiados do evento

Por Marcio Claesen
Atualização:

O dourado da estatueta do Oscar já recebeu toques em arco-íris ao longo da história da premiação. Alguns desses momentos mais recentes são frutos do romance de dois caubóis em O Segredo de Brokeback Mountain, de Ang Lee, em 2006.

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A produção perdeu, surpreendemente, o prêmio de melhor filme para Crash - No Limite (de Paul Haggis), mas encerrou a noite com três estatuetas - melhor diretor, melhor roteiro adaptado e melhor trilha sonora. Nunca um filme abertamente gay e estrelado por atores conhecidos (Heath Ledger e Jake Gyllenhaal) havia ido tão longe.

O trajeto multicolorido não parou aí. Um ano depois, o Kodak Theatre foi palco para a consagração de Melissa Etheridge. A cantora, lésbica assumida, tascou um beijo na companheira - o primeiro beijo gay na história do prêmio - assim que foi anunciada como a vencedora de melhor canção por Uma Verdade Inconveniente (de Davis Guggenheim), primeiro documentário a faturar essa categoria. O ano ainda foi emblemático pois a apresentação da cerimônia foi realizada pela também lésbica assumida Ellen DeGeneres.

 

Em 2009, viu-se a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood premiar Sean Penn por Milk. O longa de Gus Van Sant traça um perfil do ativista gay Harvey Milk, assassinado por disputa política no final dos anos 1970. Em seu discurso, Penn pediu a legalização do casamento gay no país.

Milk ainda rendeu o Oscar de melhor roteiro original a Dustin Lance Black. O escritor, abertamente homossexual, fez um discurso dirigido às crianças e adolescentes dizendo que "não importa o que digam a você, Deus te ama, e em breve, todos teremos direitos iguais". Foi ovacionado.

A década ainda viu personagens gays, lésbicas e transexuais - alguns de bem com sua sexualidade, outros nem tanto - renderem aos seus intérpretes indicações (Felicity Huffman em Transamérica, Julianne Moore e Ed Harris em As Horas, Javier Bardem em Antes do Anoitecer, Judi Dench em Notas Sobre um Escândalo) ou prêmios (Philip Seymour Hoffman em Capote, Hilary Swank em Meninos Não Choram, Charlize Theron em Monster - Desejo Assassino e Nicole Kidman em As Horas).

 

Longe do armário

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É necessário remeter aos anos 1970, quatro décadas após a criação do Oscar, para encontrar os primeiros personagens abertamente gays que conquistaram uma vaga entre os indicados. Em 1972, Peter Finch foi lembrado na categoria de melhor ator interpretando um médico que mantinha relacionamentos paralelos com os personagens de Glenda Jackson (ela também indicada ao prêmio) e Murray Head no difícil Domingo Maldito, de John Schlesinger.

Em uma de suas interpretações mais aclamadas, Al Pacino recebeu sua quarta indicação ao prêmio, em 1976, vivendo um homem que resolve assaltar um banco para pagar a cirurgia de readequação de sexo de seu namorado (Chris Sarandon) em Um Dia de Cão (de Sidney Lumet).

 

 

Em 1982, James Coco foi lembrado por sua atuação em O Doce Sabor de um Sorriso, no qual interpretava um ator gay que não conseguia um papel. Também na categoria coadjuvante, dois anos depois, Cher foi indicada pela primeira vez por Silkwood - O Retrato de uma Coragem. No filme, ela vive a melhor amiga lésbica de Meryl Streep, uma mulher que vai à Justiça contra uma indústria após sofrer contaminação radioativa.

Ainda com raras indicações a atuações de personagens gays, a década de 1980 consagrou William Hurt, que ganhou o Oscar de melhor ator fazendo o vitrinista homossexual Molina na adaptação para o cinema do romance de Manuel Puig, O Beijo da Mulher Aranha, dirigida por Hector Babenco.

No centro das atenções nos anos 1990, a aids responderia por mais duas indicações relativas ao universo gay no Oscar. Primeiramente com Bruce Davison, que interpretava um homem cujo parceiro se infecta com o vírus em Meu Querido Companheiro, em 1990. Depois, Tom Hanks, em 1994, levou seu primeiro Oscar interpretando um homem que processa a empresa após acreditar que foi despedido por ser soropositivo em Filadélfia.

 

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Homofobia rechaçada

A força do arco-íris em 2012 saiu das indicações e chegou aos bastidores do prêmio. O diretor Brett Ratner (de X-Men 3 - O Confronto Final) renunciou ao cargo de produtor do evento deste ano após grupos gays o pressionarem por uma declaração. Questionado sobre como foram os ensaios para as filmagens de Roubo nas Alturas, seu último longa, Ratner disse que ensaio era para "bichas". A Academia aceitou a renúncia e colocou Brian Grazer (produtor de J. Edgar, longa de Clint Eastwood que pode ser encarado como libelo ao amor gay e ignorado nas indicações deste ano) em seu lugar. Nunca o poder do orgulho gay esteve tão forte como agora.

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