Década de 50 é revista em documentário de Elizeu Ewald

Produção protagonizada por Marcello Novaes estréia no País nesta sexta-feira

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Por Agencia Estado
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Elizeu Ewald cresceu no meio da música. Seu pai autodidata tocava de tudo, dava aulas e ensinou os filhos a também tocar e ler música. "Cresci vendo meu pai ensinar música, tocar com meu avô, tocar flauta, sax. E aprendi também, mas ele dizia que eu não tinha ritmo. Tinha razão. Mais tarde descobri que o meu forte era mesmo a imagem", conta o diretor de Sambando nas Brasas, Morô?, que chega nesta sexta-feira, 20, ao cinema. Não por acaso, a música permeia não só o imaginário do diretor, mas também seus filmes. Depois de Nelson Gonçalves, de 2001, ele leva agora para privilegiadas telas seu novo docudrama, que, ainda que sem grandes preocupações de ser um retrato perfeito de uma era, conta com simpatia e criatividade uma época única da história brasileira: os anos 50. Quando se pensa em Sambando..., só rótulo de docudrama já merece atenção. Há quem possa dizer que é ficar em cima do muro e não se fixar nem em um gênero (o do documentário), nem outro (o da ficção). Mas o que Ewald, que tem larga experiência no cinema e na TV, queria era exatamente brincar com os limites entre estes dois gêneros que caminham paralelos. "É um estilo curioso, em que se pode brincar com as duas linguagens, misturá-las. Os resultados são imprevisíveis e as reações da platéia são as mais diversas", conta. A idéia de realizar um docudrama também passa pelo viés econômico. "É um formato que economicamente funciona porque permite adequar a linguagem ao orçamento. Eu já tinha experimentado isso com o Nelson Gonçalves, mas não tive tempo de exercitar mais o formato. Então, surgiu o projeto de Sambando, que me permitiu ir mais fundo, pesquisar mais imagens de arquivo, fazer entrevistas, criar também a ação ficcional." Para contar a história da década que foi o início de novos tempos para a história do Brasil e do mundo, o diretor escolheu uma figura emblemática da época: o músico. "Quando contamos a história da música brasileira sempre destacamos os cantores e compositores, mas os músicos ficam um pouco de lado". Por isso, ele criou o personagem Pedro (Marcello Novaes), músico que sonha entrar no mercado musical que sacudia o Rio no início dos anos 50. Com a ajuda do irmão, deixa Belo Horizonte e vai viver no subúrbio carioca. Euforia Por meio da história pessoal desses irmãos e de sua luta para construir uma vida de classe média, Ewald conta a história de um tempo. "Esta foi uma década especial. O mundo passava por um momento de euforia coletiva. Com o fim do medo de holocausto que havia surgido com a bomba atômica, as pessoas passaram a acreditar no futuro. A bossa nova estourou, também surgia o rock A juventude se liberou. A classe média estava descobrindo que tinha espaço na sociedade. As famílias podiam comprar uma TV, um carro à prestação, fazer uma viagem", analisa o diretor. "O consumo passou a ser afirmação da cidadania. A possibilidade da escolha, que por muito tempo foi soterrada durante a ditadura Vargas, era símbolo de manifestação de poder. E de bom gosto. Já havia um despertar para um mundo novo. Por isso o retrato uma família que quer sair do subúrbio por mérito de seu trabalho e viver Copacabana, que era o bairro mais bacana do Rio." Por estas e outras, Ewald vê os anos 50 como gênese de tudo que o mundo passa hoje. "Tudo estava em mutação. A capital do País mudou, o Brasil descobriu seu interior e a Amazônia. A Petrobras foi criada. As pessoas passaram a morar em apartamentos. Os meios de comunicação, como o Cruzeiro, mudaram a diagramação para atrair leitor. As opções aumentaram. As gravadoras estavam a todo vapor. O músico não tinha problema de trabalho. E as pessoas descobriram os benefícios da tecnologia a um preço acessível", resume. Para auxiliar a contar esta história, entram em cena figuras como Carlos Heitor Cony, Armando Nogueira, Nelson Pereira dos Santos, Paulo Moura, Hermínio Bello de Carvalho, José Louzeiro e Carmen Verônica. Os entrevistados enriquecem a ficção e completam o mosaico que o diretor desenhou para seu filme. Sambando é um retrato de uma era. "Se foi boa ou má, cada um vai julgar. Vivíamos um transe coletivo. Espero que este otimismo volte." Sambando nas Brasas, Moro?. (Br/2007, 78 min.) - Drama. Dir. Elizeu Ewald. 12 anos. Cotação: Regular

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