Comédia 'De Pernas Pro Ar 3' traz Ingrid Guimarães em 'um filme de mulheres'

Produção mostra Ingrid como Alice, que precisa sair pelo mundo a trabalho e deixar a família nas mãos do marido

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Duas rainhas, ou duplamente rainha. Da bateria e das bilheterias. Em fevereiro, Ingrid Guimarães gravou na Sapucaí cenas da próxima novela das 7 – Bom Sucesso, de Rosane Svartman e Paulo Halm. Na quinta, 11, estreia De Pernas pro Ar 3, terceiro filme da franquia sobre Alice, a mulher casada que se reinventa como profissional no mercado de ‘sex toys’. “Não queria fazer novela, porque meu foco é o cinema. Mas a Globo me propôs esse papel irrecusável – madrinha da bateria. Qual mulher não teve essa fantasia? Não dava para dizer não.” E lá foi ela para a avenida.

Ingrid Guimarães Foto: NILTON FUKUDA/ESTADÃO

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Para De Pernas pro Ar 3 foi ainda mais longe – Paris. Uma distância longa, mas algo, talvez ainda mais significativo, se passou entre o 1 e o 3. O primeiro e o segundo filmes foram dirigidos por um homem, Roberto Santucci. O terceiro, que agora estreia, por uma mulher, Júlia Rezende, com quem Ingrid fez Um Namorado para Minha Mulher. Ela se lembra – “Quando houve o estouro das comédias, uma grande revista fez uma matéria com aquela foto. Era um bando de homens e só eu de mulher. O humor parecia uma coisa masculina. Se a gente fosse refazer agora, não estaria mais sozinha. Tem a Mônica (Martelli, de ‘Os Homens São de Marte’ e ‘Minha Vida em Marte’).”

Não rola um estresse? “É um dos temas do De Pernas 3. Sororidade. Alice se sente ameaçada pela garota que chega com tudo, mas a própria garota lhe faz ver que o mercado tem espaço pras duas, nesse caminho que a Alice abriu.” A garota, Leona, é interpretada por Samya Pascotto. “É sensacional. Tenho crédito de roteiro, mas a Samya contribuiu muito. É um filme de mulheres, focado na gente.” Júlia Rezende conta que vivia um processo muito próximo quando surgiu o convite para dirigir o filme. “Havia sido mãe, estava vivendo aquela loucura de amamentar, trocar fraldas, administrar a casa e ainda manter a vida profissional.” O repórter observa que tem mais. Agnès Varda, que morreu em março, dizia que à mulher não é dado o tempo de envelhecer. E o filme também é sobre isso. O filho cresceu, virou homem, Alice ficou velha? “Uma diretora tem outra sensibilidade, diferente do homem, para entender esse momento.”

Mas o marido está lá. João/Bruno Garcia está vivendo um momento de afirmação profissional e humana. “Ficou mais complexo e até nisso o olhar da Júlia é justo, porque ela também é casada com um artista que está sempre se testando. Então eu acho que o filme tem uma pegada mais ampla. É de rir, mas nas sessões que fizemos teve gente que me disse que chorou porque o conflito familiar é muito verdadeiro. É o que a gente queria”, reflete Ingrid.

De Pernas 3 surge num outro momento particular do humor brasileiro. Chorar de Rir, no qual Ingrid tem uma participação, fracassou na bilheteria e é pena, porque é um filme de Leandro Hassum com uma proposta bem interessante. Também diferente é Happy Hour, o conto moral de Eduardo Albergaria em que um caso de adultério termina por desvendar a hipocrisia nacional, na política como na família. Estouro no Ceará, onde já faturou 100 mil espectadores, o desafio de Cine Holliúdy 2 – A Chibata Sideral é menos vencer essa ideia de ser um fenômeno local e encontrar seu lugar no mercado nacional, onde compete com blockbusters – como o filme de Ingrid e Júlia.

Mônica fez mais de 5 milhões de espectadores com Minha Vida em Marte. Paulo Gustavo ‘paira’ sobre as bilheterias. Com o primeiro Minha Mãe É Uma Peça fez 4.605.021 espectadores. No 2, quase dobrou – 9.320.600 espectadores. E divide a cena em Minha Vida em Marte. Qual é o segredo desse trio? Paulo Gustavo é um fenômeno de empatia. Arrasta multidões que o seguem no teatro e no cinema, e nem está na TV hegemônica (a Globo). Interage com Ingrid e Mônica. Estão nos filmes uns dos outros, nos quais a classe média se identifica e ri de si mesma. Ingrid tenta emplacar seu quinto blockbuster. 

O cartaz de De Pernas 3 a mostra com a coxa de fora, firme e forte, mas não é a mulher objeto. “Se o papel exige, faço tudo o que tenho direito. Malho, cuido da dieta. O corpo é instrumento de trabalho, e você já viu uma madrinha de bateria que não mostra a coxa? Mas é só pra olhar. Olhar!” Na trama da novela, Ingrid e Grazi Massafera disputam as atenções de Rômulo Estrela, o rei Afonso de Deus Salve o Rei. Quem escreve é uma mulher, que também dirige cinema e finaliza os detalhes para o lançamento de seu próximo filme, o ambicioso, em termos de produção, Pluft, o Fantasminha. Rosane Svartman é como Ingrid, Júlia Rezende. Mulheres do seu tempo, competitivas, mas que não perderam a ternura. “O mundo precisa de sensibilidade”, diz Ingrid.

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Halder Gomes e o Brasil que se espelha em ‘Cine Holliúdy 2’Cineasta comenta o sucesso e diz que quis pôr na tela o País atual com seus problemas sociais e econômicos

Halder Gomes conversa pelo telefone com o Estado, no domingo à tarde. Está em Fortaleza, desfrutando o sucesso de Cine Holliúdy 2 – A Chibata Sideral. “O filme virou fenômeno no Ceará. Já faturou, só aqui, 100 mil espectadores, mais 40 mil desde a estreia nacional, na quinta, 4. As pessoas elogiam a qualidade. Acham bem feito, curtem os efeitos. Não é aquele complexo de inferioridade de que ET bom tem de ser de Nova York.”

Na trama, Francisgleydissom, o diretor do filme dentro do filme, imagina a chegada dos alienígenas ao sertão e termina por influenciar o próprio Steven Spielberg. “É uma brincadeira para refletir sobre o colonialismo cultural. Embora a ação se passe nos anos 1980, o foco está no Brasil atual, na boçalidade socioeconômica religiosa que tomou conta do País.” 

No mundo que ficou politicamente correto, o verdadeiro fenômeno talvez seja o fato de Gomes conseguir fazer piada de gay sem ser homofóbico e mostrar diferentes versões de mulheres sem parecer machista. “Na época focada não havia correção política e menos ainda no sertão. Pode-se brincar com estereótipos, e é o que faço. O importante é não ser ofensivo. Luiz Gonzaga, o mítico rei do baião, cantava a mulher macho, sim senhor, e todo mundo achava graça. Eu tenho a minha. É a candidata a prefeita da Samantha Schmütz, que tem aquele bordão – ‘Eu sou escrota, muito escrota’. Em toda parte, o público morre de rir. Humor se escreve, piada tem timing e é preciso respeitar esse tempo.”

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Cine Holliúdy 2 é sua homenagem ao filme de baixo orçamento, ao cinema mambembe tão comum no Nordeste. “Francisgleydissom sou eu.” E o filme é político, reflete as mudanças. “O 1 é sobre a decadência dos velhos cinemas, O Shaolin do Sertão é sobre o advento do vídeo. Tudo isso mudou a relação do público com o cinema e as salas. Vi meu primeiro filme numa sala no estilo do Holliúdy e foi com o Bruce Lee. Descobri o cinema e as artes marciais.” Chegou a ser dublê em Hollywood, nos anos 1990. “Fiz o Cine Holliúdy como curta, mas tinha tanto assunto que virou longa e teve a sequência.” 

O público em todo o Brasil – menos da metade que o do Ceará – não é decepcionante? “É um filme popular, se eu tivesse um circuito maior dobrava de público, mas não me intimido perante o blockbuster estrangeiro.” Em maio estreia a série, na Globo, com dez episódios. Edmilson Silva contracena com atores globais. Se o filme permanecer até lá, Gomes acredita que terá mais público para o 2.

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