De 'Mulher Maravilha' a 'Star Wars', a ascensão de Patty Jenkins não teve interrupção

Em 2017, roteirista comandou filme de maior bilheteria dirigido por uma mulher

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Por Lindsey Bahr
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4 min de leitura

Anos atrás, Chris Pine recusou Mulher Maravilha. Então surgiu Patty Jenkins, e de repente, sem sequer um roteiro completo, ele sofreu uma espécie de encantamento ao ouvi-la falar sobre a sua visão para o filme enquanto comia um hambúrguer no bairro Silverlake de Los Angeles. Imediatamente, o seu “Não” virou um “Sim”. Jenkins, 49 anos, diretora e roteirista de Mulher Maravilha 1984, nos últimos anos conseguiu transformar outros “não” em “sim”. No meio tempo, não só ela se consolidou no topo da categoria dos filmes de grande orçamento, como também abriu novos caminhos para colegas com orçamentos, dias de pagamento e oportunidades espetaculares. Logo, ela será a primeira mulher a dirigir também um filme da série Star Wars. Isto não surpreende o seu elenco, que admira profundamente a sua diretora. “Ela é a exata personificação do que considero imprescindível para um bom diretor. Isto é, tendo de ser por um lado um verdadeiro General Patton, capaz de tomar decisões, de grande clareza, ser um líder. Você tem de ser capaz de administrar várias funções por excelência”, disse Pine.  “E ainda, também precisa ser muito tranquila, observadora. Precisa ser capaz de observar as pessoas às quais pede que representem para ela de maneira a falar precisamente da maneira como é preciso dirigir-se a elas a fim de conseguir extrair delas o que elas têm de melhor. Ela faz isto de uma maneira inigualável, em muitos sentidos”, ressaltou.

A diretora Patty Jenkins e a atrizGal Gadot Foto: Warner Bros/Clay Enos

Pedro Pascal, que também trabalhou com Patty duas vezes, ficou impressionado com a sua sinceridade totalmente desprovida de ironia. Aliás, isto é o que alimenta e distingue os seus filmes sobre a Mulher Maravilha de outros de super-heróis.  “Tudo o que ela faz, independentemente do gênero, independentemente se se trata de cinema ou de televisão, seja de grande orçamento ou independente, haverá sempre uma grande performance e sempre com uma integridade e riqueza na maneira de contar a história, totalmente consciente”, disse Pascal. “Ela não perde tempo insistindo em ser irônica ou legal ... a sua é uma espécie de honestidade visceral que, francamente, costuma ser subestimada. Mas, dado o seu valor, não basta”.  Mesmo com a bilheteria e os elogios, Patty ainda precisa lutar para provar a sua capacidade. Em 2017, Mulher Maravilha foi o filme de maior bilheteria dirigido por uma mulher a superar os US$ 821 milhões em todo o mundo, provando aos céticos não apenas o valor dos filmes sobre superheroínas, mas inclusive dirigidos por mulheres. 

Cena do filme 'Mulher-Maravilha', estrelado por Gal Gadot, Chris Pine, Kristen Wiig, Connie Nielsen e direção de Patty Jenkins Foto: Warner Bros

Embora Patty já esteja com a inevitável continuação em mente, seguiu adiante, oficialmente empenhada a dirigir até garantir um aumento equitativo, na faixa dos US$7 milhões a US$9 milhões. Não era uma soma incomum para um homem na sua posição, mas era inédito para uma mulher. E a exigência e a natureza pública da negociação não se sucederam com muita facilidade. “Jamais na minha vida fui alguém que fala em dinheiro ou que pediria que uma situação como essa acontecesse comigo. No entanto, o filme foi extremamente bem-sucedido e eu tinha plena consciência de que não estava sendo paga no mesmo nível dos meus colegas. E assim, acabou ficando algo maior do que eu, embora, é claro, eu tenha consciência de mim mesma”, afirmou. “De repente, eu estava dizendo que, se não fosse eu, quem iria fazer isto? E ele se tornou um compromisso pessoal, e também uma espécie de dever”.  Isto não só a ajudou, como também ajudou a abrir o caminho para que outras mulheres tivessem mais oportunidades para dirigir filmes importantes, e ela se tornou uma verdadeira mentora de suas contemporâneas. Gina Prince-Bythewood se encontrou com Patty algumas vezes na pré-produção do seu grande filme de ação The Old Guard. “Ela estava tão esperançosa”, disse Gina em meados deste. “O que ela conseguiu sob a pressão que sofreu foi realmente a luz que me guiou: o seu sucesso e como ela pôde realizar um filme tão bom. Foi um verdadeiro divisor de águas. Escancarou totalmente as portas para um grupo de cineastas como nós que tinham estreias este ano”. Patty tem sido consultada por homens e mulheres indistintamente em busca de um conselho que lhes permita entrar na categoria de filmes maiores. “Há uma rede de cineastas prontos a ajudar uns aos outros", afirmou.

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O ano de 2020 seria muito importante para produções de destaque dirigidas por mulheres como Mulher Maravilha 1984, The Old Guard, Birds of Prey, de Cathy Yan, Mulan, de Niki Caro, e Eternals, de Chloé Zhao. Apenas um deles teve uma estreia tradicional nos cinemas, Birds of Prey, lançado antes do fechamento em razão da pandemia. Outros foram para o streaming ou vídeo on demand, ou no caso de Mulher Maravilha, um híbrido. E tanto Black Widow quanto Eternals ficaram para 2021. “Infelizmente, 2020 seria o ano em que todos eles deveriam estrear... E acabou sendo um mau momento”, afirmou Patty. Por outro lado, também está muito animada pelo fato de que aparentemente há uma grande virada na indústria e, à parte da pandemia, este ano provou que ela não foi uma anomalia. “A ideia de que ninguém havia realizado um filme nesta escala antes de mim, e que então tenham surgido cinco filmes na sequência, é impressionante”, afirmou Patty. “Obviamente estas diretoras estavam ali preparadas, aguardando a vez”.

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