Daniel Filho estréia "Muito Gelo" e prepara "O Primo Basílio"

O filme conta a história de duas irmãs, interpretadas por Paloma Duarte e Mariana Ximenes, que se vingam da avó autoritária, papel de Laura Cardoso

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Por Agencia Estado
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É pouco freqüente, no cinema brasileiro, um diretor curtir o sucesso de um filme e lançar outro, ao mesmo tempo que inicia um terceiro. Isso está acontecendo com Daniel Filho, que ainda saboreia os 3,7 milhões de espectadores que alcançou com a comédia romântica "Se Eu Fosse Você", e lança nesta sexta-feira a nova comédia, "Muito Gelo e Dois Dedos d?Água", e ultima os preparativos para iniciar, dia 22, a filmagem de "O Primo Basílio". Há uma coisa comum a todos. São filmes sobre famílias, baseados na suspeita da traição. Perdoa-me por me traíres. Não se assuste quando ouvir a célebre frase atribuída a Nelson Rodrigues em "O Primo Basílio", que se baseia no romance de Eça de Queiroz. A frase é do livro. Foi copiada por Nelson. Daniel acha que há mais coisas entre Nelson e Eça do que sonha a nossa vã filosofia. Retirada a sutileza de estilo, "O Primo Basílio" é um dramalhão familiar, com adultério e o pedido de perdão do marido traído. Daniel Filho conhece bastante a dramaturgia rodriguiana, um pouco pela série "A Vida como Ela É", da TV, mas também pelos filmes que interpretou ("Boca de Ouro", "Beijo no Asfalto"). Sua revisão de "O Primo Basílio", com Débora Falabella, Fábio Assumpção, Reynaldo Gianecchini e Simone Spoladore, transpõe a trama para a São Paulo de 1958, orgulhosa de seu recém-comemorado quarto centenário e da implantação da indústria automobilística. Daniel ia fazer o filme em São Paulo, mas razões de produção o levarão a filmar no Rio, com cenas na capital paulista. Ele pensa em filmar até em Santos, porque precisa de um bonde. Na quarta-feira à tarde, Daniel saiu de um ensaio com o elenco de "O Primo Basílio" para uma sessão especial destinada a funcionários da empresa patrocinadora de "Muito Gelo e Dois Dedos d?Água", a Texaco. Daí seguiu para o Cine Palácio, onde houve a sessão oficial do filme, fora de concurso, no Festival do Rio 2006. "Muito Gelo" estréia em salas de todo o País. Daniel está animado. Nas pré-estréias em São Paulo e Maceió, onde "Muito Gelo" foi filmado, a receptividade do público foi sempre ótima. Mas Daniel é veterano de guerra. Sabe que há uma diferença entre uma sessão de convidados e outra de público normal. Com "Se Eu Fosse Você", ele fez a passagem dos convidados para o grande público. Espera que o fenômeno se repita, até porque gosta mais do filme atual. Diretor, em geral, tem aquele papo furado de que não consegue escolher entre seus filhos, perdão, filmes. Daniel tem autocrítica. Diz que "Muito Gelo" lhe deu mais trabalho, mas também muito mais prazer durante a realização. O roteiro chegou a suas mãos há oito anos, enviado por Alexandre Machado, que o co-assina, com Fernanda Young. Junto veio o recado - "Achamos que só você tem domínio técnico para explorar as possibilidades lúdicas da história." Daniel leu, gostou, mas não foi fácil encontrar a forma, o tom do filme que queria fazer. "Muito Gelo" conta a história de duas irmãs. Uma arrasta a outra num projeto infantil - ela quer se vingar da avó autoritária, que até hoje canta "Eu te Amo Meu Brasil" e ainda proclama que o general Emílio Garrastazu Médici, um gaúcho!, é um belo homem. Daniel demorou, mas encontrou sua forma. "Muito Gelo" decola como uma animação e depois é cheio de efeitos computadorizados, para que o espectador perceba de cara o teor de fantasia que a história tem. E é lúdico, cheio de referências a Alfred Hitchcock e até a "Lost". Essa vingança poderia ser curada em duas ou três sessões de análise, diz o diretor, que superpõe à trama de vingança uma outra, que parece adaptada de "Totalmente Selvagem", de Jonathan Demme, na qual as duas mulheres perigosas arrastam um executivo bobão na aventura delas (e ele termina feliz da vida, vestido de palhaço). "Muito Gelo" deu trabalho, mas foi um trabalho bom. "É o meu filme mais libertário", diz o diretor, que não poupa elogios ao elenco que escolheu. As mulheres são ótimas, desde as jovens Mariana Ximenes e Paloma Duarte, até a veterana Laura Cardoso. Thiago Lacerda vem do filme anterior, "Se Eu Fosse Você". Faltava o bobão. Daniel pensou em Ângelo Paes Leme, ator de teatro e de papéis secundários na TV. Ligou para Walter Lima Jr., que acabara de dirigir Paes Leme em "Os Desafinados", ao lado de Rodrigo Santoro. Walter definiu-o como um comediante na linhagem de Jack Lemmon. Foram palavras mágicas. Daniel, no fundo, sonhava com um Jack Lemmon brasileiro, coisa que Paes Leme talvez ainda não seja, mas poderá ser. Muito Gelo e Dois Dedos d?Água (Brasil/2006, 98 min.) - Comédia. 16 anos. Em grande circuito. Cotação: Bom

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