PUBLICIDADE

Curta pega imagem dos que estão à margem

Premiado curta À Margem da Imagem, de Evaldo Mocarzel, cineasta e jornalista do Estado - vai ser exibido amanhã em evento no Teatro N.Ex.T

Por Agencia Estado
Atualização:

Depois de ganhar seis prêmios em três festivais e ter vencido o prêmio Margarida de Prata da CNBB, o curta À Margem da Imagem, de Evaldo Mocarzel, cineasta e jornalista - editor do Caderno 2 do Estado - vai ser exibido amanhã no Teatro N.Ex.T. O filme vai dividir a noite com uma leitura dramática da peça RG, também de Mocarzel, e uma apresentação da cantora Cida Moreira. À Margem da Imagem recebeu o Prêmio Gláuber Rocha na Jornada de Cinema da Bahia, para melhor filme em película, e também o prêmio de melhor montagem. No Festival Internacional de Curta-Metragem de São Paulo, o filme ganhou os prêmios do público, do Canal Brasil e do Espaço Unibanco. Por fim, também levou o prêmio de melhor montagem no Cine Ceará. Uma história passada nas ruas de Nova York está por trás do segundo filme de Evaldo Mocarzel. Para concluir um curso de cinema na New York Film Academy, ele deveria rodar um filme curto. ?Estava fazendo o filme de formatura do curso na Washington Square, quando um turista japonês tirou uma foto de um morador de rua dormindo, e o cara quase matou o turista, reivindicando aquela imagem?, conta. O fato virou tema do filme de formatura, o curta Pictures in the Park. ?Aí foi a gênese do À Margem da Imagem?. O tema do documentário é a questão do roubo da imagem. Parte da historia de uma freira que barrou a entrada do fotógrafo Sebastião Salgado numa comunidade de rua para a qual ela prestava assistência. Salgado queria fazer a foto de uma moradora de rua. "A senhora sabe com quem está falando?", pergunta o fotógrafo. "Sei, a Folha de São Paulo diz que o senhor é o maior fotógrafo do mundo, mas aqui o senhor não pode entrar", ela respondeu. A cena, que é narrada pela freira e por um morador de rua em À Margem da Imagem, termina com a conclusão de que aquelas pessoas estavam sendo muito exploradas em suas imagens. E assim o filme prossegue, colhendo depoimentos de pessoas que têm duas coisas em comum: o fato de não terem uma casa igual às da classe média e o cuidado, ou o desejo de ter cuidado, com a própria imagem. Um, demora a autorizar o uso de sua imagem. Outra, confessa que sente inveja de pessoas bem arrumadas. Um terceiro, declara que tem que se manter feio, senão perde a rudeza que é sua identidade. De resto, falam de política, das soluções que dão para suas vidas, de sonhos profissionais, confessam seus defeitos, proclamam suas qualidades. "Nossa visão do morador de rua é extremamente estereotipada, eu procuro resgatar a dignidade dessas pessoas", diz o diretor. Apesar da coleção de prêmios que já aquilatou, a maior acolhida de À Margem da Imagem pode ter sido a dos moradores de rua que compareceram a uma exibição organizada para os entrevistados depois de uma primeira edição das 69 horas de entrevistas gravadas. Foram feitas imagens em que aparecem as reações dos moradores de rua ao verem suas próprias imagens. Inseridas na edição final do curta, essas cenas parecem tirar aquelas pessoas da margem da imagem. A bem-sucedida carreira de À Margem da Imagem, contudo, pode ser apenas o começo. O diretor Evaldo Mocarzel trabalha para finalizar uma versão longa-metragem do filme, que terá o mesmo título e 71 minutos de duração. Na verdade, vai ser o primeiro de uma série de documentários sobre São Paulo. Evaldo Mocarzel tem o projeto de fazer ainda os longas À Margem do Concreto, sobre prédios invadidos, À Margem do Lixo, sobre catadores de papelão, e À Margem do Consumo, sobre uma favela de São Paulo. "É uma tetralogia sobre São Paulo; eu adoro São Paulo", diz o diretor. Teatro N.Ex.T - Exibição de À Margem da Imagem, leitura dramática da peça RG e show de Cida Moreira. Amanhã, a partir das 23h. Rua Rego Freitas, 454, centro. Tel.: 3106-9636.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.