Curta mostra o vôo de Santos Dumont

Há cem anos, em 19 de outubro de 1901, Santos Dumont provou que o homem podia voar ao sair de Saint Cloud e contornar com o balão n.º 6 a Torre Eiffel. O filme de André Ristum comemora a data

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Por Agencia Estado
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São apenas sete minutos de filme, nove se forem somados os dois dos créditos finais. André Ristum não precisa mais que isso para resgatar um mito nacional. Seu curta Homem Voa? realiza o que Tizuka Yamasaki persegue há 15 anos e o paraibano Marcone Simões também tenta tornar viável há quatro. Ristum conseguiu colocar Santos Dumont na tela. E que o seu filme chegue justamente amanhã ao circuito representa mais ainda. Pois se comemora amanhã o centenário da dirigibilidade. Há cem anos, em 19 de outubro de 1901, Santos Dumont provou que o homem podia voar ao sair de Saint Cloud e contornar com o balão n.º 6 a Torre Eiffel, ganhando o Prêmio Deutsch, ligado ao Aeroclube da França, o primeiro do mundo. A data é tão importante quanto o célebre 23 de outubro de 1906, quando o inventor, a bordo do 14-Bis, sobrevoou o Campo de Bagatelle, em Paris. Foram só sete segundos de vôo, mas eles mantiveram em suspense o público reunido para ver Santos Dumont realizar o sonho de Ícaro. Desde então, muito se tem escrito sobre ele como o Pai da Aviação, mas justamente essa paternidade é motivo de polêmica. Os americanos sustentam que a glória de haver inventado o primeiro avião é deles, mais exatamente dos irmãos Wilbur e Orville Wright. Ristum acha que seu filme surge no momento certo. Não apenas recupera uma data importante, mas um tanto esquecida na memória nacional, como se antecipa às comemorações que os EUA pretendem desencadear para assinalar o centenário dos irmãos Wright. Em 1904, eles foram realmente os primeiros a fazer um avião voar. Mas, além de o feito não ter sido cronometrado, seu vôo teria sido impulsionado por uma catapulta. Ou seja: não foi autônomo. Isso levou a americana Nancy Winters a escrever uma biografia de Santos Dumont na qual reconhece que ele foi, realmente, o Pai da Aviação. Chama-se Homem Voa - A História de Santos Dumont, Mestre do Balão. Apesar do título, não foi uma das fontes de referência de Ristum, que preferiu pesquisar nos livros do próprio inventor: Os Meus Balões e O Que Eu Vi e o Que Nós Veremos. Ristum é autor do curta Pobres por um Dia, de 1998, com Mylla Christie. Nos três anos decorridos desde então, nunca desistiu do sonho de filmar. Com amigos e apoiado pela Secretaria de Cultura de Ribeirão Preto, criou o Núcleo de Cinema daquela cidade. O núcleo surgiu oficialmente em agosto. Dois meses antes, em junho, seus integrantes já pensavam em qual seria o primeiro filme por eles realizado. Escolheram o curta sobre Santos Dumont porque alguém se lembrou do centenário e também por causa da ligação do inventor com a cidade na qual passou a infância. Homem Voa? tira seu título de uma brincadeira de crianças. Foi feito a toque de caixa, com orçamento minguado (R$ 65 mil, se artistas e técnicos tivessem recebido; R$ 40 mil na prática). Saiu caprichado, redondinho. O curta será exibido, a partir de amanhã, em salas do grupo Cinemark no Pátio Higienópolis e no Shopping Villa-Lobos, em São Paulo, como complemento de Queridinhos da América. Outras cópias foram para o Rio e Porto Alegre. E, para assinalar o centenário do Prêmio Deutsch - 100 mil francos, que Santos Dumont dividiu entre os técnicos que colaboraram com ele e os pobres de Paris - haverá exibições simultâneas no Aeroclube de França e em Bordeaux, que promove um simpósio sobre dirigibilidade neste fim de semana. É o que Ristum considera decisivo: "A carta de garantia do aeroclube, que Santos Dumont recebeu pelo vôo com o balão n.º 6, é o reconhecimento oficial da dirigibilidade, sem a qual não há aviação." Dessa maneira ele reforça a tese do inventor brasileiro como Pai da Aviação.

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