Curta de Glauber dribla proibição e ganha a internet

Proibido no Brasil, o polêmico Di Cavalcanti Di Glauber, com imagens do velório e enterro do pintor, chega à rede por meio de um provedor norte-americano. A iniciativa é do sobrinho do cineasta

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Proibido de ser exibido no Brasil há 25 anos, o polêmico curta-metragem Di Cavalcanti Di Glauber, do cineasta brasileiro Glauber Rocha, que mostra o velório e o enterro do pintor Di Cavalcanti, morto em 1976, está sendo exibido na internet, no site www.dicavalcantidiglauber.us, desde o último domingo. Não é a primeira vez que o filme, de 18 minutos, vai ao ar na rede. Mas, nas anteriores, tanto a imagem como o som eram de péssima qualidade. Agora, é um sobrinho de Glauber, João Rocha, o responsável pela disponibilização do material, recuperado digitalmente, no provedor norte-americano, numa estratégia para driblar a justiça brasileira. "É uma forma de desfazer essa injustiça, pois o filme é exibido livremente no mundo inteiro, menos no Brasil," explica Rocha. Por conta dos muitos acessos, o site chegou a sair do ar, hoje. Mas Rocha avisa que já está pedindo ao provedor uma banda maior para atender a todos os cliques. Acontece que o filme está proibido de ser exibido no Brasil desde o ano de lançamento, 1979, quando a filha do pintor, Elizabeth Di Cavalcanti, conseguiu uma liminar de apreensão das cópias do curta, seguida de um processo contra a Embrafilme, produtora do filme. Apesar disso, Di é exibido em outros países sem problema algum. "Analisando o processo em conjunto com um grupo de colegas, busquei uma maneira de liberar a exibição do filme para o público brasileiro. Com o site locado em território norte-americano, não há problema", disse Rocha, que está surpreso com a repercussão da divulgação do filme na internet e considera injusto "uma única pessoa proibir toda uma pátria de assistir a um filme". Filmado em outubro de 1976, logo após o retorno de Glauber dos Estados Unidos, o documentário, cujo título original, tirado de um poema de Augusto dos Anjos, era Ninguém Assistirá Ao Enterro Da Tua Última Quimera, Somente A Ingratidão, Aquela Pantera, Foi Sua Companheira Inseparável!, ficou conhecido como Di Cavalcanti Di Glauber, ou apenas Di, e recebeu o Prêmio Especial do Júri do Festival de Cannes, em 1977, que foi presidido pelo cineasta Roberto Rosselini, amigo do pintor. A primeira exibição do filme no Brasil foi em 11 de março de 1977, na Cinemateca do MAM, no Rio de Janeiro, quando foi distribuído o texto Di (Das) Mortes, em que Glauber afirmava: "Filmar meu amigo Di Cavalcanti, morto, é um ato de humor modernista-surrealista que se permite entre artistas renascentes: Fênix/Di nunca morreu." O lançamento oficial aconteceu em 11 de junho de 1979, no Rio, quando sua exibição foi proibida pela justiça, a pedido da filha do pintor, Elizabeth, que considerou o trabalho desrespeitoso à imagem de seu pai.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.