Bruno Barreto que nos perdoe, mas o humor que havia em Dona Flor e Seus Dois Maridos não o credencia como diretor de comédias. Mesmo assim, o primeiro Crô fez sucesso graças à combinação irresistível de um ator com um papel. Marcelo Serrado estourou como o mordomo gay da madame Christiane Torloni na novela Fina Estampa, de Aguinaldo Silva. Seu nome – Crodoaldo Valério, Crô para os íntimos.
O segundo filme consegue ser melhor pelo simples fato de que a diretora Cininha de Paula é do ramo. Fazer rir vem sendo sua profissão há décadas. Antes, Cininha reservava seus talentos para a televisão. A estreia, com atraso, no cinema ocorreu com Duas de Mim, com Thalita Carauto, no ano passado. Cininha tomou gosto e, um ano depois, já está no terceiro longa – e Marcelo Serrado, só para garantir, está no 2 e no 3.
Crô em Família é uma comédia familiar (óbvio) em que o afeto se revela mais importante que os laços de sangue. Na abertura, Crô está brigando na Justiça com o ex pela ‘filha’ de quatro patas. Surge, do nada, uma família inteira – pai, mãe, irmão, cunhada, sobrinhos. Abre o olho, Crô. Essa gente não está querendo seu bem. Cininha de Paula acredita que, no humor, mais vale somar. Arlete Sales e Tonico Pereira batem um bolão com Serrado.
E claro que existem as amigas ‘trans’. Com a família e as amigas agitadíssimas ao redor, Crô vive repetindo seu bordão – ‘Congela!’ Como se não bastasse, tem também ‘Desfoca!’. Marcelo Serrado admite que é muito divertido fazer um (super)gay como Crô. E ele destaca, nesse momento de conservadorismo – para não dizer homofobia – o que mais o impressiona. Crô, como Rogéria adorava se (auto)definir, é o gay da família brasileira. “As crianças me adoram na personagem. Aonde eu chego elas me recebem com mais gritinhos de excitação de que eu seria capaz.”
Crô em Família. (Brasil/2017, 87 min.) Dir. Cininha de Paula. Com Marcelo Serrado, Arlete Salles, Tonico Pereira
‘Marvin’ conta a história de uma vitória pela cultura
Marvin Bijou era um garoto diferente, o que sobressaía ainda mais no meio rural (na região de Vosges), onde morava com a família. Na escola era vítima de bullying – se o termo inglês fosse empregado naquele fim de mundo. Como não era, o garoto era tido apenas como frouxo ou um pouco efeminado.
Marvin é um filme dirigido por Anne Fontaine, de Agnus Dei, e conta a trajetória desse rapaz que foge do seu meio, instala-se em Paris, muda de nome e segue carreira teatral, como ator e também autor de peças. Já como Martin Clément (Finnegan Oldfield), reflete sobre sua adolescência e, em especial sobre a relação com o pai, um brutamontes não de todo mau, mas sem muita tolerância com as especificidades do filho. Sensível, delicado e nem por isso menos incisivo, Marvin conta ainda com a participação de Isabelle Huppert interpretando a si mesma. Ela será uma espécie de mentora do estreante inseguro quando este chega à cidade grande na tentativa de construir uma carreira nos palcos. O filme é tocante.
Marvin / Marvin ou la Belle Éducation (França/2017, 114 min.) Dir. Anne Fontaine. Com Finnegan Oldfield
‘Alfa’ tem por tema a amizade que vale uma vida
O que se poderia chamar de epígrafe do filme diz que, “quando não existem mais líderes, você tem de se tornar um deles”. Esta é a divisa de Alfa, dirigido por Albert Hughes, um filme de ação que se passa em tempo remoto.
Conta a história de um jovem, Keda (Kodi Smit-McPhee), que se perde do seu grupo durante o ataque de uma manada de bisões. Cai de um precipício, fere-se e parece não ter chance quando lobos o identificam como possível presa. Para sua surpresa, fará uma amizade decisiva com quem menos esperava e esse encontro será decisivo não apenas para Keda, mas para toda a humanidade.
A história foi escrita por Daniele Sebastian Wiedenhaupat a partir de uma ideia do próprio Hughes. Apesar de ambientado no mundo de 20 mil anos atrás, Alfa remete a temas atemporais, como a volta do herói ao abrigo da família depois de experimentar os perigos do mundo. Tau (Jóhanes Haukur Jóhannesson) é o pai que leva o garoto à caçada contra a opinião da mãe que o achava jovem demais. A voz narrativa em off é do grande ator Morgan Freeman.
Alfa / Alpha (EUA/2018, 96 min.)Dir. Albert Hughes. Com Kodi Smit-McPhee, Jóhannes Haukur Jóhannesson
'Kin’ mescla ficção científica, aventura e drama familiar
Kin, dos diretores Jonathan e Josh Baker, é uma ficção científica de longa-metragem baseada num curta, Bag Man, de 2014. A história é a de dois irmãos, um garoto e outro mais velho que está em liberdade condicional. O menino, Elijah Solinski (Myles Truitt), é filho adotivo da família. Ele se une ao irmão Jimmy (Jack Reynor) para se defender de ataques vindos talvez de outra dimensão. Denis Quaid faz o pai, Hal Solinski. E, como não poderia faltar, James Franco é Taylor Balik, o homem mau, o rei do crime nessa história toda.
O filme é também um road movie de perseguição, em que os dois irmãos, aparentemente desamparados, valem-se de uma estranha e poderosa arma por eles achada. Da maneira como é montado, Kin sugere uma radical mistura de gêneros, mesclando o ritmo da aventura, a ambientação exótica de ficção científica e o intimismo do drama familiar. No site de críticas Rotten Tomatoes, Kin agradou apenas a 34% dos resenhistas. Baseado em 56 críticas, o portal aponta para convergência de opiniões na dificuldade de o filme balancear e dar coerência à tal salada de gêneros.
Kin (EUA/2018, 103 min.)Dir. Josh Baker, Jonathan Baker. Com Jack Reynor, James Franco, Zoë Kravitz