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Críticos em Cannes elogiam filmes sombrios

Por MIKE COLLETT-WHITE
Atualização:

Um documentário animado sobre a invasão israelense do Líbano em 1982 e um retrato corajoso da máfia napolitana estão entre os filmes mais bem cotados até agora no festival de cinema de Cannes, que inicia sua segunda metade. O público está, de modo geral, impressionado com a qualidade dos 11 filmes exibidos até agora dentro da competição oficial, e os críticos também destacaram várias descobertas de valor feitas fora da competição. "Normalmente, nesta fase do festival já teríamos assistido a mais trabalhos lamentáveis", disse o escritor e crítico de cinema Mark Cousins, que cobre o festival pela 18a vez. "Para mim, é um marco alto de qualidade, embora, é claro, não saibamos o que ainda está por vir." Entre seus favoritos para a Palma de Ouro, dada ao filme escolhido como o melhor pelo júri do festival, está "Valsa com Bashir", a tentativa do diretor Ari Folman de reunir memórias enterradas do massacre de palestinos em 1982 nos campos de refugiados de Sabra e Shatila, em Beirute. Folman emprega a animação para recriar entrevistas com soldados israelenses que fizeram o serviço militar com ele naquela época. O crítico Kirk Honeycutt escreveu no Hollywood Reporter: "A paleta quase monocromática de Folman permite ao espectador absorver o horror das atrocidades, sem, entretanto, qualquer fixação pornográfica no sangue derramado." O trabalho italiano "Gomorra" foi saudado por sua coragem ao retratar o mundo brutal da máfia Camorra, em Nápoles. O filme é baseado no livro best-seller sobre o grupo escrito pelo jornalista Roberto Saviano, que vive sob proteção policial há dois anos. Os dois filmes são vistos como políticos, fato que pode lhes auferir uma vantagem se o presidente do júri, Sean Penn, quiser destacar a relevância atual dos filmes além da habilidade cinematográfica de seus criadores, na cerimônia de premiação que terá lugar no domingo. TURQUIA, FRANÇA E BÉLGICA IMPRESSIONAM "Três Macacos", filme turco que conta uma história sombria de segredos familiares e é dirigido por Nuri Bilge Ceylan, lidera o ranking informal dos críticos publicado diariamente pela Screen International em Cannes. A crítica francesa também está apostando no drama familiar francês "Um Conto de Natal", estrelado por Mathieu Amalric, enquanto os irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne querem conquistar uma terceira Palma de Ouro com "O Silêncio de Lorna". A América do Sul é representada por quatro filmes na competição principal, três dos quais já foram exibidos. "Ensaio sobre a Cegueira", que abriu o festival, é falado em inglês e dirigido por Fernando Meirelles. Trata-se de uma adaptação do romance homônimo de José Saramago sobre uma epidemia de cegueira que se dissemina pelo mundo. O filme não encontrou grande ressonância junto à crítica. Mas os dois filmes sul-americanos seguintes impressionaram mais: o drama carcerário "Leonera", da Argentina, e o brasileiro "Linha de Passe", de Walter Salles, ambientado em São Paulo. "Ainda não vi um filme sul-americano aqui que me pareça que tenha condições de ganhar a Palma de Ouro", disse Mark Cusins. O chinês em estilo documentário "24 City", de Jia Zhangke, vem dividindo opiniões, e os críticos desaprovaram o drama filipino "Serbis" (Serviço). Centenas de outros filmes estão sendo exibidos fora da competição, e os críticos consideraram um dos melhores o drama "Hunger", um relato contundente da greve de fome fatal do militante do IRA Bobby Sands. O diretor britânico Terence Davies também causou boa impressão com seu documentário sobre Liverpool, "Of Time and the City". Steven Spielberg e Harrison Ford estiveram em Cannes para a estréia mundial da mais recente aventura "Indiana Jones", Woody Allen levou ao festival sua comédia espanhola estrelada por Penélope Cruz e Scarlett Johansson, e o boxeador Mike Tyson percorreu o tapete vermelho para divulgar um novo documentário sobre sua carreira.

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