Crítico lança livro sobre cinema gaúcho

Luiz Carlos Merten analisa a produção regional, em particular a da geração que começou nos anos 70 e é responsável pela atual profusão de filmes

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Por Agencia Estado
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O cinema gaúcho vive um momento incomum - 15 filmes de longa-metragem estão hoje em processo de captação, rodagem e finalização, impulsionados principalmente pelo apoio da Fundação Cinema RS, a Fundacine. Mas o suporte financeiro, logicamente indispensável, não é o único responsável pela profusão de obras. Desde os anos 70, uma geração de diretores, roteiristas e montadores moldou sua cultura cinematográfica a partir de filmes em super-8, exercício que permitiu a lapidação de um talento que, anos depois, é responsável por curtas, médias e longas que garantem projeção nacional e até internacional ao cinema gaúcho. É a história dessa geração talentosa que trata o livro A Aventura do Cinema Gaúcho (Editora Unisinos (tel. 0--51 590-8239 112 páginas, R$ 9,00), escrito pelo crítico do jornal "O Estado de S. Paulo", Luiz Carlos Merten, e que será lançado amanhã (09), em Porto Alegre, no Shopping Praia de Belas. Parte dessa história, aliás, já foi contada nas páginas deste jornal, nas inúmeras reportagens e críticas produzidas por Merten que, graças a um olhar arguto e desprovido de bairrismo, acompanhou a evolução do cinema produzido no Rio Grande do Sul. Apesar de um fio temporal marcar a sucessão dos capítulos, eles podem ser lidos de forma independente justamente pelo tom jornalístico de sua redação. A fluência e o estilo direto permitem entender a importância de cada obra em seu contexto histórico e de que forma impulsionou a cinematografia local. O livro começa tratando dos filmes tidos como alienantes de Victor Matheus Teixeira, o Teixeirinha, que, até meados dos anos 70, liderava as bilheterias com um produto de gosto duvidoso. O sucesso dos filmes de Teixeirinha, porém, não foi capaz de motivar a criação de uma indústria cinematográfica auto-sustentável, vítima, como em outras experiências, pela distribuição controlada por empresas estrangeiras. Mas o enforcamento econômico não foi capaz de sufocar o talento de jovens que, oprimidos também pela ditadura militar, descobriram no super-8 o caminho mais viável de se expressar. Em nenhuma região do País produziu-se tanto naquele formato como no Rio Grande dos anos 70, o suficiente para o surgimento de clássicos como "Deu pra Ti, Anos 70", de Nelson Nadotti e Giba Assis Brasil, que contestou valores. Merten observa que uma legião de jovens cineastas se mobilizava por meio do super-8, chegando ao curta e, depois, ao longa em 35 mm. Assim, em 1980, surge "Verdes Anos", do mesmo Giba Assis Brasil e Carlos Gerbase, seguido de "Me Beija", de Werner Schünemann, e "Aqueles Dois", de Sérgio Amon. São nomes que, acrescidos de outros, continuam em evidência. Giba e Gerbase fundaram a Casa de Cinema, cooperativa que virou empresa e que produziu curtas de Jorge Furtado, um deles, "Ilha das Flores", ganhou o Urso de Prata no Festival de Berlim e se colocou como uma das obras-primas do cinema brasileiro. E Schünemann atua no épico "Netto Perde sua Alma", de Tabajara Ruas e Beto Souza, e que evidencia uma curiosa característica do cinema gaúcho: apesar de retratar a conformação atual do Rio Grande, abordam temas universais, ultrapassando suas bem guardadas fronteiras.

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