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Crítica: 'Entre Irmãs', ou até onde ir sem exagerar

Épico intimista com reconstituição de época amorosa e detalhista

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Parceiros de longa data, o diretor Breno Silveira e a roteirista Patrícia Andrade fazem um cinema baseado na emoção. De 2 Filhos de Francisco a Entre Irmãs, a vocação dos dois é chegar ao público. Filmes comerciais, como opção estética; populares, por esse apelo aos sentimentos. Até pela convivência, eles desenvolveram uma norma. Até onde podem ir em busca da emoção? O alerta vermelho é... Meu Pé de Laranja Lima.

O livro de José Mauro Vasconcelos foi filmado duas vezes. Aurélio Teixeira açucarou ainda mais o que já tinha fama de ser piegas; Marco Bernstein policiou-se tanto que seu filme ficou (um tanto) árido. Silveira e Patricia levam suas cenas ao limite. E o limite é Meu Pé. Cruzar um limite é exagerar na emoção. E, nesse caso, Silveira acha que pode perder o público.

Filme de Breno Silveira, com Marjorie Estiano e Nanda Costa Foto: Sony Pictures

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Você já deve ter ouvido que Entre Irmãs, como outros filmes de Silveira, é um novelão. Pode até ser, mas críticos tendem a tomar como defeito o que é qualidade. Os filmes do diretor sempre terminam chegando à Globo. Gonzaga – De Pai pra Filho foi exibido em capítulos, como série. Poderá vir a ser o futuro de Entre Irmãs, mas não se prive de ver o filme na tela grande do cinema. É onde fica melhor, e mais bonito.

Entre Irmãs baseia-se num livro – de Frances de Pontes Peebles – que foi editado primeiro nos EUA. Duas irmãs costureiras numa cidade interiorana do Nordeste, na época dos cangaceiros. Emília, a mais romântica, sonha com seu príncipe encantado. Luzia, que sofreu a queda de uma árvore e ficou com o braço torto – palavra terrível: aleijada – não se dá o direito de sonhar porque acha que a condição física a estigmatiza. Emília arranja um pretendente que a leva para a cidade grande. Luzia ingressa no cangaço, como mulher de cangaceiro, o temido Carcará.

Feminismo, homossexualidade, cura gay – é incrível como um filme ‘de época’ consegue ser tão atual por seus temas. Silveira segue a história de cada irmã. No final, se alguma achou seu príncipe... Veja. Silveira fez um filme grande, épico. Mas é, como no cinema do inglês David Lean, um épico intimista. A reconstituição de época é amorosa, detalhista. As personagens respiram. Existe essa coisa – uma vocação criminosa? São muitos temas relevantes. Um perfume de melodrama. Por favor – quando se aplicar ao cinema de Breno Silveira a definição de ‘novelão’, que seja por qualidade, não reducionismo.

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