'Corações de Ferro' não é banal ao retratar a morte; veja trailer

O que falta ao filme é a reflexão sobre o conflito e as pessoas nele envolvidas, contém cenas fortes, mas traz personagem indestrutível

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Por Luiz Zanin Oricchio
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Fury – Corações de Ferro, de David Ayer, tem bons momentos. E até ótimos momentos para um filme de guerra. Por exemplo, é muito interessante seguir tudo o que acontece quando o grupo de soldados, embrutecidos pelo combate, pelas privações e pelo medo da morte, tomam uma pequena cidade alemã e veem-se numa casa diante de duas mulheres – uma delas bastante jovem e sensual. Não é o banal. Prepare-se para surpresas. O todo, no entanto, não está à altura de passagens inspiradas como esta.

Fury ambienta-se no final da guerra. A Alemanha já perdeu, mas não se entrega. Os americanos invadem o território alemão e encontram miséria, desespero... e resistência. O último alento da poderosa máquina de guerra de Hitler pode ainda ser mortal. E talvez seja mais cruel morrer quando a vitória já não é mais uma possibilidade, mas uma certeza. Brad Pitt faz Wardaddy, o comandante do tanque enviado em missões difíceis, atrás das linhas alemãs. Sua missão é liquidar alguns dos últimos pontos de resistência, mas sua obsessão maior é manter seus comandados em vida. O time do tanque é um microcosmo. Tem o comandante obsessivo (Pitt), o hispânico, o religioso (Shia LaBeuf) e, sim, um novato que lá caiu por acaso, (Norman, vivido por Logan Lerman), mas acaba aprendendo rápido o métier. Para falar a verdade, falta um negro para completar a cota.

Mas o básico é dar uma ideia da diversidade. As tropas que lutaram pela “democracia e liberdade” na Segunda Guerra. E, sim, a maneira americana de ver essa guerra como se eles sozinhos a tivessem vencido, sem menção ao sacrifício dos ingleses e, menos ainda, dos soviéticos.

Essa mescla de bons e maus momentos é insuficiente para fazer de Corações de Ferro um filme de guerra notável. Nem mesmo bom. Filme de guerra não é apenas ação. Revela um ponto de vista sobre o conflito, sobre o adversário, a “natureza” humana numa situação-limite, a covardia, a braveza, etc. Nesse sentido, digamos assim, mais reflexivo, Fury é nulo. Nada acrescenta aos centenas de filmes já produzidos tendo por tema o maior conflito armado do século 20. A título de curiosidade. Recentemente houve na Cinemateca Brasileira um ciclo sobre a Mosfilm – a produtora russa de cinema – que trazia Tigre Branco, de Karen Shakhanazarov, um filme de temática bastante semelhante a Fury, só que muito superior. Conta a história de um misterioso tanque nazista, que resiste a todas as investidas e parece desmaterializar-se quando perseguido. Misturando ação e reflexão metafísica, Tigre Branco apresenta de fato algo novo sobre a 2.ª Guerra. Mas num circuito como o brasileiro, formatado para receber apenas o cinemão americano, não tem vez. Esta guerra eles de fato venceram.

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