'Coração de Fogo' dá protagonismo à menina que sonha em ser bombeira

Animação mostra como garotinha pretende fazer parte do universo masculino dos bombeiros

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

É a atração da Paris Filmes para plateias infantis e infantojuvenis no feriadão de carnaval. A animação Coração de Fogo estreou na quinta, 24, em salas de todo o Brasil. O único problema é que, pensando somente nas crianças, a Paris lança o filme apenas em cópias dubladas. A história da garota que precisa vencer o preconceito para realizar o sonho de ser bombeira. Quem esperar pelos créditos finais verá que, entre os dubladores originais, está Kenneth Branagh. É o ano dele.  Branagh surgiu como shakespeariano profissional. Fez filmes como Henrique V, Muito Barulho por Nada e até Hamlet, a partir de 1990. Depois, vieram romance, horror, um filme sensível sobre soropositivos – Peter’s Friends/Para o Resto de Nossas Vidas. Branagh virou faz-tudo, e não fazia especialmente bem. Seus mistérios à Agatha Christie, nos quais ele próprio vive o detetive Hercule Poirot – Assassinato no Expresso do Oriente e Morte no Nilo –, lhe valeram uma sobrevida. Ressurreição? No Oscar deste ano, concorre com Belfast em 6 categorias. 

Georgia vira garoto, Joe, para ajudar o pai a salvar NY de um grande incêndio Foto: Paris Filmes

O cinema já contou muitas histórias de bombeiros, e grandes incêndios. Podem-se citar filmes como Inferno na Torre, de John Guillermin, Cortina de Fogo, de Ron Howard, e As Torres Gêmeas, de Oliver Stone. O último aborda o ataque de 11 de Setembro do ângulo dos bombeiros que participaram do salvamento, e muitos morreram no local. Em geral, esses filmes registram o esforço heroico de homens, mantendo as mulheres na retaguarda doméstica. Coração de Fogo vai na contramão. A garota – Georgia – é filha de um bombeiro que se aposentou. Ela foi o motivo para isso. Depois que mamãe morreu, papai trocou de profissão e virou alfaiate para permanecer em casa cuidando dela.  Ops, é só meia-verdade e, quase no final, virá a revelação do verdadeiro motivo que o afastou do Corpo de Bombeiros. À filha, ele diz que a profissão é vedada às mulheres, mas não consegue fazer Georgia desistir. Acompanhada da fiel cachorrinha, Georgia segue o pai na alfaiataria, mas nunca desiste do seu sonho. Treina secretamente. O pai diz que mulheres não podem porque não têm a força física necessária. Ela se exercita para adquirir músculos. 

Cena da animação 'Coração de Fogo', de Theodore Ty e Laurent Zeitoun, sobre desafio para os bombeiros de Nova York Foto: Paris Filmes

Quando um piromaníaco começa a incendiar teatros de Nova York – cenário da ação –, o pai é chamado da aposentadoria pelo prefeito. Só ele poderá desvendar o mistério da identidade de quem está queimando (e sumindo com bombeiros). Para Georgia é a grande chance. Ela se metamorfoseia. Vira garoto, Joe. Se o sonho era seguir o pai para salvar vidas, Georgia termina salvando a vida dele e ainda encara a inesperada revelação do segredo de sua identidade. Torna-se mulher e madura, o orgulho da força. Nos créditos finais, a produção homenageia mulheres bombeiras de todo o mundo. Um letreiro informa que, em Nova York, somente em 1982, há 40 anos!, as mulheres foram autorizadas a exercer a profissão. 

Pai e filha. Ele, bombeiro aposentado, diz a ela que a profissão é vetada às mulheres Foto: Paris Filmes

É longa a lista das mulheres que, no cinema, se fizeram passar por homens para exercer profissões consideradas masculinas. Mulheres – bombeiras – seguem sendo relativamente poucas. Uma das raras foi Angelina Jolie como a bombeira de Aqueles Que Me Desejam a Morte. A própria atriz admitiu que foi preciso ser durona para enfrentar o desafio do filme de Taylor Sheridan, que tem cenas espetaculares, mas não foi nem de longe o sucesso esperado, nem de público, nem de crítica. Sheridan, ex-roteirista, estreou com o ótimo Terra Selvagem. Ficou abaixo da expectativa. 

A protagonista da animação vai enfrentar desafios para ajudar os cidadãos Foto: Paris Filmes

Laurent Zeitoun, produtor francês de filmes adultos – e de live-action – como Intocáveis e A Morte de Stalin, codirige Coração de Fogo com Theodore Ty, que veio dos efeitos de Monstros vs. Alienígenas. Georgia é uma personagem cativante. O pai, até como presença física, parece calcado no Sr. Incrível da animação de Brad Bird. A cachorra é uma simpatia. Durante a busca pelo vilão incendiário, outros personagens se tornam suspeitos, incluindo o prefeito e a diva do teatro. Serão? Quem está incendiando sonha transformar as labaredas numa espécie de arte, o que garante reviravoltas – e surpresas – até o fim.

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