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Confira as boas opções no cinema

Por Agencia Estado
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Sempre foi um ano mítico, principalmente no imaginário dos espectadores de cinema: 2001, o ano que agora se encerra, evoca a kubrickiana odisséia no espaço. Havia gente que achava que ele nunca chegaria e, quando chegasse, traria consigo o admirável mundo novo. Nenhum outro ano representou tanto o futuro. Pois o ano que agora se encerra foi marcado pela tragédia de 11 de setembro, cuja repercussão ainda continuará por muito tempo, na tela e fora dela. Neste último fim de semana de 2001, você pode e deve zerar seus débitos em relação ao cinema, preparando-se para a gloriosa primeira estréia de 2002. Na terça, dia 1º, estréia em 300 salas de todo o País o deslumbrante "O Senhor dos Anéis", que Peter Jackson adaptou da saga de J.R.R. Tolkien. "O Senhor dos Anéis" vai instaurar o reino do antástico e do maravilhoso nas telas. São grandezas diferentes, mas esse filme dá de 10 em "Harry Potter e a Pedra Filosofal" e mostra como é medíocre a adaptação que Chris Columbus fez do livro de J.K. Rowling (para não falar na própria série de romances da autora inglesa, que também não se compara à de Tolkien). Mas "Harry Potter" continua sendo um dos preferidos do público, nas 500 salas que o exibem pelo País inteiro. Não é um bom filme e não apenas porque lhe falte magia. Faça a experiência de ver duas ou três vezes a história do pequeno mágico. Você vai ver que ela só piora. Há mais fantástico à solta nos cinemas brasileiros: os duendes de Xuxa, os monstros da Disney Pixar. A rainha dos baixinhos tem seu público fiel, que nunca deixa de prestigiá-la. "Xuxa e os Duendes" é menos ruim do que "Xuxa Popstar", mas isso não deve animar muito a expectativa de quem ainda não viu o filme dirigido por Paulo Sérgio Almeida e Rogério Gomes. É tudo muito bobo e banal, com um discurso oco, à base de frases feitas sobre ecologia e magia. O público percebeu e "Xuxa e os Duendes", que já bateu nos 600 mil espectadores, não leva jeito de faturar os mais de 2 milhões do filme precedente. "Os Monstros S.A." é melhor, não só pela tecnologia de ponta, mas também pela história engenhosa da animação de Peter Docter sobre monstrinhos que retiram a energia para seu mundo dos gritos das crianças (e, por isso, precisam assustá-las, mesmo que tenham mais medo delas do que elas deles). Magia para as crianças - e para os adultos que não assassinaram sua infância. E morbidez na maneira como os adultos vêem a infância. Isso ocorre principalmente no cinema de língua espanhola: "El Mar", de Agustí Villaronga, mostra crianças que cometem um assassinato e crescem sem resolver suas pulsões destrutivas, na Espanha ainda atada ao fantasma da Guerra Civil que pôs o general Francisco Franco no poder. O mundo de "El Mar" é doentio, mas o diretor quer crer que seu filme não é mórbido. O mundo de "A Língua das Mariposas" parece saudável. Um menino toma lições de vida com seu velho professor, mas, de novo, é a Espanha sob o franquismo e a infância do personagem do garoto Manuel Lozano é brutalmente interrompida quando ele tem de tomar partido contra seu professor libertário (magnífica interpretação de Fernando Fernán Gómez). É um filme belo mas triste, esse de José Luis Cuerda. Não faltam programas para o público teen. "American Pie 2 - A Segunda Vez É ainda Melhor", de J.B. Rogers, retoma os personagens do primeiro filme, que fez inesperado sucesso entre as platéias de jovens. O humor está mais escatológico, se isso é possível - o cara pensa que vai levar um banho de champanhe e, na verdade, recebe é um jato de urina; a história consegue ser mais tênue. Mais vale esquecer e concentrar-se em "Legalmente Loira", de Robert Luketic, com Reese Whitterspoon, que passa a ser o novo filme de cabeceira das louras burras. A comédia finge que vai demolir velhos preconceitos sobre o QI das louras, mas na verdade os fortalece e é isso que a faz, além de politicamente incorreta, ser tão divertida. Nacionais - Se você reza pela cartilha do cinema brasileiro e é bom que o faça - a produção própria de imagens cinematográficas é uma atividade estratégica no mundo sem fronteiras -, não deixe de ver e rever o melhor nacional do ano: "Bicho de Sete Cabeças", de Laís Bodanzky, com a admirável interpretação de Rodrigo Santoro. É um filme adolescente e apaixonado, que não teme tomar partido em relação aos personagens, mesmo sob o risco de parecer desequilibrado e maniqueísta. Há também "Lavoura Arcaica", a supervalorizada adaptação que Luís Fernando Carvalho fez do livro de Raduan Nassar. E, menos pretensiosa, mais divertida, há outra adaptação: a de "O Xangô de Baker Street", que Miguel Faria Jr. fez baseado no best seller de Jô Soares. Nada como um filme depois do outro. Você pode até achar que "O Xangô" não é bom. Vai achar que é maravilhoso quando estrear a mais nova interpretação do mito de Jack, o Estripador. "Do Inferno", com Johnny Depp, entra em cartaz em janeiro para reservar, desde logo, seu lugar entre as maiores decepções de 2002. "E Sua Mãe também", de Alfonso Cuarón, é um dos melhores filmes do ano - e um sinal eloqüente da força do cinema de língua espanhola, que este ano emplacou sucessos como "Nove Rainhas" e "Amores Brutos", ambos disponíveis em vídeo. Dois filmes colocam na tela um enfoque adulto e sensível do amor e das relações humanas, o que, infelizmente, não é a regra destes tempos em que os efeitos especiais substituem (quase) tudo, do bom senso à inteligência. "Sob a Areia", do francês François Ozon, o mesmo diretor de "Gotas d´Água em Pedras Escaldantes", trata dos problemas do casal com uma densidade que não exclui a leveza. É um filme sobre o luto que não consegue se concretizar. Um homem desaparece na praia e o filme investiga o efeito desse desaparecimento sobre sua mulher. "Prefiro o Barulho do Mar", de Mimmo Calopresi, representa o novo cinema italiano, tão pouco conhecido no País. Um homem toma sob sua proteção um rapaz que teve a mãe assassinada. Para isso, leva-o para morar com ele e o filho na cidade grande. O rapaz parte, mas fica dividido entre a nova vida e a fidelidade às suas origens: prefere o barulho do mar, o que se explica por que morava com a mãe numa cidadezinha litorânea. Finalmente, "Apocalypse Now Redux". A versão ampliada, com 53 minutos a mais, do clássico de Francis Ford Coppola, deixou o filme ainda mais impressionante como reflexão sobre a loucura e a guerra - e sobre a loucura da guerra. Mas a objeção que, eventualmente, pode-se fazer a essa obra-prima continua irretocada: a ópera guerreira de Coppola carrega, em si mesma, a fascinação pelo horror que pretende denunciar.

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