Comédia romântica relembra o início dos anos 70

1972, que José Emílio Rondeau e Ana Maria Bahiana acabam de filmar, conta uma história de amor em uma época movimentada da história brasileira

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Por Agencia Estado
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Em 1972 Leila Diniz morreu e a Rede Globo exibiu a primeira novela colorida, O Bem Amado. De volta do exílio, Caetano Veloso gravou Araçá Azul e Gilberto Gil, Expresso 2222. Os Novos Baianos lançaram Acabou Chorare e Milton Nascimento fez o Clube da Esquina 1. Tom Jobim compôs Águas de Março, cantado por Elis Regina, num compacto que, no lado B tinha Agnus Sei, de dois novatos: João Bosco e Aldir Blanc. Foi também o ano em que Snoopy (Rafael Rocha) e Júlia (Dandara Guerra) se conheceram e se amaram, unindo a zona sul e o subúrbio carioca em meio a muito rock-n´-roll e música pop brasileira. A não ser a história dos dois últimos personagens, tudo aconteceu de verdade há exatos 30 anos, mas José Emílio Rondeau e Ana Maria Bahiana usaram o romance fictício para apresentar à rapaziada de hoje as idéias e o modo de viver de quando eles eram jovens cheios de sonho e tinham o mundo inteiro para ganhar, caso resolvessem os problemas urgentes: como ganhar a vida e evitar conflitos com os pais. "O filme 1972 é uma comédia romântica abordando temas que afetam as pessoas em qualquer período da história. As referências temporais o situam dramaticamente, mas os fatos daquela época têm ecos agora", ressalta Ana Maria, que assina a produção do filme. "Os problemas dos personagens são os mesmos de meninos e meninas da idade deles nos dias de hoje." Apesar de pontos em comum entre o romance de Júlia e Snoopy com a história pessoal de Ana Maria e Rondeau (ele se conheceram nessa época, ela vinda da sul do Rio e ele de Bangu, na zona oeste, ao som dos Rolling Stones), o filme é 100% ficção. "Usamos casos que ocorreram com pessoas conhecidas, mas os modificamos dramaticamente. Os shows da época, por exemplo, eram de uma pobreza franciscana se comparados com os de hoje, mas nós os víamos como superespetáculos. É assim que vamos mostrá-los", explica Rondeau, que é o diretor. "Não recriamos a vida de 30 anos atrás, mas o que poderia ter sido." Ana Maria cita como exemplo os shows de rock, que hoje seriam considerados franciscanos. "Nas fotos da época, vemos a pobreza dos cenários, da iluminação e de outros acessórios, mas a gente se sentia num espetáculo grandioso e, na hora de reproduzi-los, ficamos com a memória e não com o fato nu e cru", cita ela. O mesmo acontece com os diálogos. Algumas expressões e gírias balzaquianas mudaram de sentido ou não correspondem ao sentimento atual. "Na medida do possível, respeitamos a linguagem da época, mas quando os atores tinham dificuldades com alguma palavra, eles diziam a que facilitava a expressão do personagem." É o primeiro filme da Pacificsense, produtora de Rondeau e Ana Maria Bahiana com sede em Los Angeles e clientes no Brasil e Europa, para onde vendem programas jornalísticos, reportagens e entrevistas. "Nunca pensamos em começar com um curta ou um documentário. Nossa proposta sempre foi esse filme, talvez por não sabermos que era tão difícil concretizá-lo", conta ele. "A experiência no jornalismo foi boa e nos ensinou a contar uma história interessante, com princípio, meio e fim, e a realizar a produção. Mas trabalhar no Brasil depois de muitos anos fora foi uma ótima surpresa. Lá teríamos mais equipamentos e facilidades financeiras, mas aqui há mais empenho e menos especialização. Todo mundo se envolve com todas as etapas de um filme e os problemas são divididos com a equipe." Ana Maria ressalta também que a principal diferença entre o jornalismo e a ficção é que nesta o criador manda nos fatos. "O jornalista e o ficcionista têm de estar atentos à realidade, não podem traí-la, mas na ficção, há a doce vingança de fazer a história seguir o nosso desejo", filosofa ela. Os dois trabalham no projeto há cinco anos e conseguiram os R$ 2 milhões do orçamento e parceiros de peso como o Grupo Novo de Cinema, de Tarcísio Vidigal, e a distribuidora norte-americana Buena Vista, do grupo Disney. "O Tarcísio trouxe a experiência e a Buena Vista, por enquanto, não opinou. Seria interessante ouvi-los e aproveitar sua experiência." O filme foi rodado em um mês e meio e deve estrear no início do ano que vem, prazos recordes para cinema. Ana Maria e Rondeau creditam essa eficiência à experiência com produções apertadas e à sorte. "A pré-produção, os ensaios e a escolha das locações foram exaustivos e, por isso, nunca entramos no set sem ter certeza do que ia acontecer", conta ela. "Mas teve também o empenho do elenco, que tem ainda o filho de Gilberto Gil, Bem, Dudu Azevedo, Lúcio Mauro Filho e Pierre dos Santos, quase todos estreantes, mas sem vícios de interpretação. Foi ótimo se entrosar com essa geração, da idade do nosso filho, o Bernardo, que trabalhou na produção do filme." A trilha sonora será de época, mas quase inédita. O produtor Cláudio Ladeira, que em 1972 era do grupo de rock A Bolha e hoje trabalha na Rede Globo, cuidou da pesquisa das músicas da época, enquanto o médico Claúdio Araújo e o farmacêutico Pedro Figueiredo, recuperaram antigas composições do grupo Faia, que era cult na época, mas nem chegou a gravar. "O filme terá músicas inéditas de 72, com arranjos de hoje", diz José Emílio. Ele pretende também lançar a trilha sonora e Ana Maria Bahiana pensa em complementar ficção com um documentário sobre o ano do título. "É um subproduto do filme. Como houve pesquisa extensa de imagem, talvez faça uma série para televisão ou outro filme para cinema. Quando 1972 estiver adiantado, vamos pensar melhor nisso."

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