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Comédia abre Festival de Brasília

Por Agencia Estado
Atualização:

A 35.ª edição do Festival de Brasília começa nesta terça-feira, com a exibição, fora de concurso, de um filme local, Celeste & Estrela, de Betse de Paula. A sessão, como de hábito, será na Sala Villa-Lobos, e haverá apresentação da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional. O filme, que tem Ana Paula Arósio no elenco e participação de Roberto Torero no roteiro, trata da paixão entre duas pessoas que se mistura à paixão pelo cinema. Na quarta-feira começa a rolar a mostra competitiva, já na tradicional sede do festival, o bonito Cine Brasília, que costuma lotar e ter público entusiasta. Serão seis os longas-metragens em competição, todos de ficção, embora o País esteja vivendo um boom do documentário: Cama de Gato, Desmundo, Lua Cambará - nas Escadarias do Palácio, Amarelo Manga, Dois Perdidos numa Noite Suja e A Festa de Margarette. Inéditos? Mais ou menos. Dois Perdidos concorreu em Gramado e A Festa de Margarette no Cine Ceará. Os outros foram exibidos nas Mostras BR, na do Rio ou na de São Paulo, ou em ambas. Apenas Lua Cambará, do cearense Rosemberg Cariry, chega, com perdão do termo, virgem a Brasília. Os outros já rodaram e alguns rodaram muito. Ineditismo - Destrói-se assim uma das características mais valiosas dos grandes festivais, o ineditismo? Sem dúvida. Mas, dirão os produtores, como resistir ao apelo material dos prêmios em dinheiro da Mostra Rio-BR? Ou, pior, como resistir à tentação de fazer aquilo que os cineastas chamam, pitorescamente de o circuito dos festivais? Ou seja, viajar de cidade em cidade, exibindo seu filme, competindo, debatendo, colecionando um prêmio aqui, uma menção honrosa acolá, uma frustração mais adiante. Afinal, há um festival de cinema em quase cada capital do País e eles vão se disseminando ano a ano. Prestam bons serviços, apresentam os filmes aos públicos locais, em tese despertam o interesse para o cinema nacional, e tudo o mais. Mas claro, mesmo com a produção atual, não há filmes novos suficientes para todos. Há outro problema. Alguns dos mais importantes títulos da retomada não passaram pelos festivais brasileiros, como são os casos de Carlota Joaquina, Central do Brasil e Cidade de Deus. Isso por que muitos diretores entendem que a estratégia de submeter o filme novinho em folha a um júri não é a melhor. Pode queimar a obra, se for derrotada. E, caso vença, não é certo que isso irá melhorar a sua carreira comercial. Os exemplos parecem lhes dar alguma razão. Vários filmes saíram em triunfo de festivais e nem por isso foram bem de público, como são os casos de O Corpo, A Maldição de Sampaku, Alma Corsária, Louco por Cinema e O Judeu entre tantos outros. São fatores limitantes para um festival de ponta, como o de Brasília, cuja função seria fornecer uma fotografia instantânea e representativa da cinematografia nacional, e refletir sobre ela. Enfim, essa seria a situação ideal e Brasília bem que tenta se aproximar dela, na medida do possível. Mas com tanto festival por aí, tanta resistência por parte de diretores recalcitrantes, e a data avançada no calendário anual, fica difícil desempenhar essa tarefa. Em todo caso, os seis concorrentes e mais o filme de abertura, podem fornecer um painel pelo menos razoável da produção brasileira. Temos em primeiro lugar, uma evidente diversidade temática: da comédia de Celeste & Estrela ao drama de origem teatral ambientado para o cinema, Dois Perdidos numa Noite Suja. Há o filme histórico Desmundo, baseado na obra de Ana Miranda, o épico sertanejo Lua Cambará e o ensaio sobre certa juventude urbana, Cama de Gato. Finalmente, uma obra de exceção, A Festa de Margarette, construída no modelito do cinema mudo. Ao longo do festival veremos o que esses filmes podem acrescentar - ou não - à também elogiada diversidade estilística e de linguagem do atual cinema brasileiro. Além dos longas-metragens, 12 curtas em 35 mm, selecionados de 70 originariamente inscritos, concorrerão aos troféus do festival, as estatuetas chamadas candangos. Estes desfilam no palco principal, o Cine Brasília. Já os concorrentes em 16 mm passam na Sala Martins Pena do Teatro Nacional. Na seção temática do festival, o principal assunto será Cinema e Literatura, possivelmente puxado pelo fato de um dos concorrentes, Desmundo, ser adaptação literária. Participam das mesas o diretor Alain Fresnot e a escritora Ana Miranda, mais o crítico José Carlos Avellar e os cineastas Suzana Amaral, Luiz Fernando Carvalho, Júlio Bressane, Walter Lima Jr., José Joffily, Karin Ainouz e Geraldo Sarno. Mas enfim, para o bem ou para o mal, um festival de cinema é, também (talvez principalmente) uma competição, na qual um vence e os outros perdem. É a regra de ouro dos festivais do mundo inteiro: no fim, depois de uma semana de congraçamento e boas maneiras, sempre se acaba com muito mais pessoas insatisfeitas do que gente alegre. Escolher o ungido, e depois agüentar o rojão dos preteridos, será tarefa de um júri composto pelo crítico Inácio Araújo, o escritor e roteirista Marçal Aquino, e os cineastas Jorge Alfredo Guimarães, Sandra Werneck, Tânia Lamarca, Vladimir Carvalho e Octávio Bezerra.

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