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Columbia aposta no cinema brasileiro

Estúdio comemora parcerias em produções nacionais e, satisfeito com sucessos de bilheteria em 2000, já traça planos mais ousados

Por Agencia Estado
Atualização:

A Columbia Pictures, uma das importantes majors do cinema planetário, mantém relação histórica com o cinema brasileiro. Nos nossos compêndios cinematográficos, porém, sempre ocupou lugar de vilã. Afinal, atribuía-se a ela o papel de "bandida" na história do sucesso O Cangaceiro, premiado em Cannes (melhor filme de aventura) e lançado no mundo inteiro. A major americana teria "ficado com o ouro" e Lima Barreto, diretor do filme, e a Vera Cruz, sua produtora, a ver navios. Hoje, o escritório brasileiro da Columbia é visto no papel de "mocinho". Quem assistiu à festa de entrega do 2.º Grande Prêmio Brasil de Cinema, no Hotel Quitandinha, em Petrópolis, viu Rodrigo Saturnino Braga, de 47 anos, diretor-geral da empresa, festejado como "parceiro da produção nacional". Para se ter idéia de seu prestígio, ele - como representante da Columbia - ocupou quatro das cinco vagas de finalista ao Prêmio Mário Peixoto, atribuído às melhores campanhas de lançamento de filme brasileiro. Só a Riofilme, empresa 100% nacional, conseguiu um lugarzinho ao sol (com o lançamento de Villa-Lobos, uma Vida de Paixão). Na hora de subir ao palco para receber o troféu, o nome anunciado foi o de Rodrigo Saturnino Braga. Dos lançamentos da Columbia - Castelo Rá-Tim-Bum, Eu Tu Eles, Bossa Nova e Auto da Compadecida -, a campanha vitoriosa foi a do filme da dupla Guel Arraes & Ariano Suassuna, maior bilheteria do cinema brasileiro no ano 2000 (2.130.358 ingressos). Rodrigo recebeu o prêmio ("igualzinho ao chocolate Toblerone", comentaria depois) das mãos de Paulo Borges, representante do mundo fashion, e sob aplausos. Em entrevista ao Estado, Rodrigo, que é sobrinho do senador (e ex-prefeito do Rio) Roberto Saturnino Braga, relembra sua formação nos quadros da extinta Embrafilme, fala da parceria com o cinema brasileiro e das metas do governo FHC para a indústria cinematográfica. Seu entusiasmo é visível. Afinal, a empresa conquistou ótimas bilheterias com títulos internacionais. E, entre os dez filmes brasileiros de maior público do ano, emplacou cinco vagas (além da Compadecida, Castelo Rá-Tim-Bum, com 725.329 ingressos, Eu Tu Eles, com 695.329, Bossa Nova, com 520.614, e Tolerância, com 101 mil). A Columbia é, das majors americanas, a que demonstra maior interesse em parcerias estrangeiras. No Brasil, a empresa apostou na Lei do Audiovisual desde o início. Na Ásia, produziu "Nenhum a Menos" (Zhang Yimou, vencedor de Veneza/99) e agora emplaca o hit "O Tigre e o Dragão". Por que isso acontece? Rodrigo Saturnino Braga - É política da empresa buscar integração com a produção das regiões em que atuamos. É assim com a Columbia Brasil e a Columbia Ásia, parcerias que estão dando certo. Estamos, também, atuando na Alemanha, Inglaterra e Espanha. Na Inglaterra, por tratar-se de mercado de língua inglesa, pouco se nota nosso trabalho. Na Espanha atuamos mais como distribuidores. Quanto ao Brasil, é importante deixar claro que a Columbia mantém relação histórica com o cinema brasileiro. Quando cheguei aqui, em 1988, já havia o interesse em manter parcerias, seja de co-produção, seja de distribuição. Tanto que O Casamento dos Trapalhões foi distribuído, naquele ano, pela Columbia. O que se nota, agora, é uma intensificação na nossa parceria, graças à Lei do Audiovisual. Mas, de início, as majors descartaram a possibilidade de usar um dos mecanismos da Lei da Audiovisual (o artigo 3.º) para estabelecer parceria com o cinema brasileiro. Só a Columbia não vacilou. Como temos um histórico de parceria com o cinema brasileiro, utilizamos, desde o primeiro momento, a Lei do Audiovisual. Só que, numa primeira etapa, não avaliamos com a profundidade devida os projetos que iríamos apoiar. Então, não opinamos, não discutimos se havia ou não interesse para aquela temática, aquele tipo de produto, etc. Distribuímos dois filmes do Renato Aragão, feitos nesta fase da Retomada (O Noviço Rebelde e Simão, o Fantasma Trapalhão), que obtiveram grande êxito. Mas, dos filmes que co-produzimos na primeira fase (Guerra de Canudos, Buena Sorte, Quem Matou Pixote?, For All - O Trampolim da Vitória, Corações Iluminados e O Xangô de Baker Street, este ainda inédito) só Guerra de Canudos teve desempenho de bilheteria significativo. Por isso, a partir de Castelo Rá-Tim-Bum, passamos a discutir com nossos parceiros o projeto de cada filme. Todos os executivos de nossas divisões gerenciais lêem os roteiros e opinam. Aqui e no exterior. Os frutos do nosso diálogo com os produtores são excelentes (cinco das dez maiores bilheterias do cinema brasileiro ano passado são nossas). Para este ano, temos três projetos em andamento: A Partilha, de Daniel Filho, que será lançado em maio; o telefilme O Filho Predileto, que Walter Lima Jr. começa a produzir semana que vem, e Polaróides Urbanos, de Miguel Falabella, em pré-produção. Vamos lançar, ainda este ano, Xangô de Baker Street, de Miguel Farias. Não é nossa intenção impor nada aos produtores. Não chegamos e dizemos: "Olhe, este tema que você quer abordar não nos interessa. Troque-o por A Fera da Penha." Não é isso. Se o roteiro impressiona nossa equipe gerencial, apostamos no projeto e começamos a trabalhar. Isto é uma parceria verdadeira. Majors como a Fox e a Warner estão, agora, investindo no cinema brasileiro. Isso é coincidência ou essas empresas se espelharam na Columbia? O desempenho da Columbia em 2000 foi glorioso, no Brasil e no exterior. Vai demorar para repetirmos ano tão produtivo. Vamos nos ater ao nosso ano no Brasil. Fica, mais uma vez, provado que o público brasileiro gosta do filme brasileiro. O sucesso de O Auto da Compadecida é prova cabal do que estou dizendo. O filme ocupou a mesma faixa de produções populares como Xuxa e Trapalhões. Foi além das classes A e B. Chegou à classe C. Já Castelo Rá-Tim-Bum ficou nas classes A e B, assim como Bossa Nova e Eu Tu Eles. A entrada de empresas como a Warner, que distribuiu Xuxa Popstar e agora acaba de assinar um acordo de produção com a Conspiração Filmes, e a Fox (distribuídora de Xuxa Requebra e do novíssimo Amores Difíceis), é sinal de que o cinema brasileiro está ampliando suas parcerias. Você integra o Grupo Executivo de Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica (Gedic), criado pelo governo FHC, para formular programa de fomento à produção nacional. As metas desse grupo - como, chegar a 40% do mercado interno até 2005 - não parecem otimistas demais? Olhe, o desempenho do cinema brasileiro no ano 2000 nos motiva a traçar planos ousados. Uma cinematografia que, no começo da década, beirou o 0%, chegar ao fim dela com 10% e dois títulos no ranking de dez maiores bilheterias do País, revela-se das mais promissoras. Eu, que conheço bem o histórico do cinema brasileiro, sabia que o começo ia ser difícil. E foi, pois o pessoal perdeu a mão, ficou um bom período sem se exercitar. Fez-se necessário um período de readaptação, de modernização. Para ser sincero, eu pensava que o período de reerguimento seria mais demorado. Mas a renovação se deu. Está aí o Waltinho (Walter Salles), de quem distribuímos A Grande Arte (1990), com um sucesso do tamanho de Central do Brasil; estão aí o Andrucha (Waddington) com Eu Tu Eles; a Laís Bodanzky, com o corajoso Bicho de Sete Cabeças; o Cao Hamburger com Castelo Rá-Tim-Bum. O saldo é muito positivo. Para se alcançar as metas estabelecidas pelo relatório do Gedic, o País precisa multiplicar suas salas de exibição. O número atual (1.550) é muito baixo. Temos 5 mil municípios. Só que apenas 55 deles dispõem de circuito exibidor digno do nome. Não acredito que cada município venha a ter seu cinema. Mas pelo menos os que têm mais de 100 mil habitantes necessitam fazê-lo. Uma coisa está comprovada: o público quer conforto. Não adianta fazer sala ruim, mal-equipada. Quanto melhor e mais bonita for a sala, mais público atrairá.

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