Colin Farrell diz estar feliz da vida por 'renascer' em 'O Estranho Que Nós Amamos'

Após um período ruim, astro celebrou em Cannes a nova fase de prestígio no novo filme de Sofia Coppola

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Colin Farrell anda rindo à toa. No Festival de Cannes deste ano, em maio, ele participava da competição com dois filmes - A Morte de Um Cervo Real, de Yorgos Lanthimos, e O Estranho Que Nós Amamos, de Sofia Coppola. Em ambos, divide a cena com Nicole Kidman. Há dois anos, também em Cannes, percorreu o tapete vermelho com outro filme de Lanthimos, Lobster, que depois foi para o Oscar. E, no ano passado, arrebentou como o vilão de Animais Fantásticos e Onde Habitam, baseado em J.K. Rowling, a celebrada criadora de Harry Potter.

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Em Cannes, na coletiva do filme de Sofia, Farrell brincava. “Consegui emendar um monte de bolas pretas com filmes de sucesso e de prestígio, na avaliação dos críticos. Renasci!” Nada mau para o pai de dois filhos - de 13 e 7 anos -, que até há pouco se perguntava o que queria da vida. “Dizia que era ator e não tinha muita certeza. Hoje, digo que interpreto e até me pagam, mas meu papel preferido está sendo o de homem. Adoro ser pai.”

Tendo interpretado remakes - entre eles o de O Vingador do Futuro, que já havia sido filmado por Paul Verhoeven, com Arnold Schwarzenegger -, Farrell não vê problemas em refazer os filmes. “No caso de O Estranho Que Nós Amamos, Sofia (Coppola) viu o clássico de Don Siegel recentemente e descobriu alguma coisa que lhe interessava. O filme antigo era muito construído na perspectiva masculina, com Clint Eastwood, e ela percebeu que havia ali material para recontar a história com um viés feminino, e até feminista. Só o fato de estarmos aqui (em Cannes) dá conta de seu acerto.”

Atração. Farrell com Kirsten Dunst: soldado desperta desejos reprimidos Foto: Universal

Farrell não se considera um ladies man, um conquistador, mas diz que se sente muito confortável na companhia de mulheres. O Estranho passa-se num internato feminino, aonde chega esse soldado fugitivo, e ferido, do Norte. O personagem de Farrell é praticamente o único homem em cena. Desperta o desejo reprimido das mulheres. A coisa fica violenta. No set era o oposto. “Nunca participei de um set assim. Não havia competição e, entre tomadas, ficava todo mundo relaxado. Conversando, fumando... Sofia é a diretora, independentemente de gênero, mais cool com quem trabalhei.” A fase ‘de arte’, segundo ele, vai continuar. “Desde que vi Edward Mãos de Tesoura, sonho filmar com Tim Burton. E agora ele me chamou para seu Dumbo live action. Estou entusiasmado."Diretora encara o clássico com viés próprio Sofia Coppola foi cobrada em Cannes por sua decisão de praticamente eliminar as personagens negras de seu novo filme, que se passa justamente durante a Guerra Civil nos EUA. Norte e Sul foram à guerra por causa da escravidão, que era a base da economia sulista. Em O Estranho Que Nós Amamos, sobre soldado ferido (do Norte) que se refugia num pensionato de mulheres (do Sul), a tensão sexual é motor do relato e a racial vai para segundo plano. A diretora defendeu-se na coletiva - “Omiti de forma muito consciente porque não via espaço para incrementar o drama com personagens negras. Estaria sendo superficial e até irresponsável na abordagem de uma questão controversa”, considerou.

Terceiro dos cinco filmes do diretor Don Siegel com Clint Eastwood, O Estranho Que Nós Amamos original, de 1971, foi o único relativo fracasso da dupla. Para muitos críticos, é a obra-prima dos dois, mas não repercutiu tanto na bilheteria porque estava adiante de sua época ou fugia demais à imagem de Clint que o próprio Siegel ajudara a construir. O soldado desestabiliza o universo das mulheres e ao mesmo tempo está vulnerável. É quase uma inversão. O homem foi sempre predador no universo de ação de Siegel. Daquela vez, eram as mulheres.

O Estranho venceu em Cannes, neste ano, o prêmio de direção - o segundo atribuído a uma mulher em toda a história do festival. Antes, apenas Youlyia Solntseva, viúva de Alexandr Dovjenko, recebera o mesmo prêmio por Epopeia dos Anos de Fogo, em 1960. Sofia, contando a mesma história de Siegel, fez um filme feminino e talvez feminista. Não é pouco, mas o de Siegel é melhor.

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