
01 de março de 2012 | 21h30
Após o polêmico A Concepção, filmes como Meu Mundo em Perigo e Se Nada Mais Der Certo estabeleceram José Eduardo Belmonte como um dos autores mais talentosos de sua geração. Mas os filmes não foram exatamente sucessos de público. Tudo bem, quantidade não é garantia de qualidade, todo mundo sabe. Mas é legítimo o desejo do diretor de tentar uma terceira via, a do filme autoral que dialogue com o público, por que não? Em todo o mundo, esse caminho é possível, por que só o cinema do Brasil terá de viver polarizado entre filmes descerebrados que o faturam bem e outros cabeça, tão herméticos que só meia dúzia quer ver?
É possível que Belmonte ainda tenha de quebrar a cara em mais dois ou três filmes, ou tentativas, antes de acertar na composição, mas, como ele contou na entrevista, seu próximo filme, em finalização, O Gorila é mais cabeça, embora seja uma encomenda, e o que ele sente é que incorporou coisas de Billi Pig, coisas que o público e os críticos talvez nem percebam. A chave da comédia (chanchada?) que estreia hoje é o porquinho cor de rosa que dá título ao filme.
Billi Pig é o amuleto de Marinalva, a personagem de Grazi Massafera. Quando o filme se abre, num ritual de macumba na praia, ela pede ao santo, com o Oscar na mão, a graça de ser reconhecida como atriz. A piada é autorreferente. Grazi, que veio do BBB - e o programa não é exatamente um sucesso entre intelectuais -, quer mostrar que tem talento, mas o olho da personagem está fixo num prêmio que também não é levado muito a sério pelos segmento cabeça, a tal intelligentsia. Só que, como se trata de um ritual, é preciso oferecer um sacrifício e quem está sendo oferecido ao santo é... Billi Pig.
O porco guincha, desesperadamente. Marinalva, que está tendo um sonho, acorda desesperada. É a melhor cena de Billi Pig, mas o espectador ainda não sabe disso. A atriz, o marido sonolento - Selton Mello, no papel mais esculachado de sua carreira - e o porquinho de brinquedo. Billi Pig é um achado. Produto de animação (animatronics), ele fala mexendo o focinho. Mais que um amuleto, ele é a consciência externa à personagem de Marinalva, e no final, por obra e graça do marido, ganha... Veja o filme para saber o quê.
Tráfico, violência, trambiques variados. Tudo em Billi Pig passa pelo crivo da paródia, como nas velhas chanchadas da Atlântida. É verdade que elas eram mais divertidas, mas existem toques inteligentes. Talvez não façam um filme. O risco é o grande lançamento. Com 200 salas, ou o filme acontece de cara, e toma o público de assalto, ou vira fiasco. Belmonte sabe que está dando um salto sem paraquedas. Pode quebrar a cara, mas já tem outro filme engatilhado. Se não for agora, quem sabe o próximo?
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