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"Código Desconhecido" concretiza planos de Binoche

Depois de assistir a Violência Gratuita, atriz pediu para trabalhar com o diretor austríaco Michael Haneke, sem impor qualquer condição

Por Agencia Estado
Atualização:

Tudo começou quando Juliette Binoche, impressionada com o filme Violência Gratuita, do austríaco Michael Haneke, escreveu uma carta para o diretor, manifestando seu desejo de trabalhar com ele. Juliette não impunha condição nenhuma e ainda o autorizava a usar seu nome para ajudar a viabilizar qualquer projeto no qual pudessem se unir. Como resistir a tal oferta, perguntou Haneke no Festival de Cannes do ano passado, no qual Código Desconhecido foi exibido, participando do concurso. Este ano, Haneke voltou à Croisette. Saiu coberto de prêmios com A Pianista: melhor atriz (Isabelle Huppert), ator (Benoit Magimel) e prêmio especial do júri. Leon Cakoff não deixa por menos. Acha A Pianista uma obra-prima e já tratou de assegurar a participação do filme na 25.ª Mostra Internacional de Cinema São Paulo. Com Violência Gratuita, Haneke virou um caso no cinema europeu. O que atraiu Juliette Binoche foi o que talvez tenha horrorizado a maioria da crítica no filme sobre os dois rapazes que provocam um banho de sangue numa típica casa burguesa. Experimentalismo cênico, razão cínica, violência gratuita. As acusações prosseguiram em Código Desconhecido, mas desta vez a experimentação justifica-se, a razão não é tão cínica nem a violência tão gratuita. Enfim, um filme que incomoda. Haneke contou, em Cannes, que atendendo ao chamamento de Juliette, foi a Paris conversar com ela. O produtor Marin Karmitz também queria filmar com ele. Já tinha a atriz, o produtor. Faltava o tema. Andando por Paris, atento para o mundo à sua volta, captou os sinais de uma violência que muito o perturbou. A Guerra da Bósnia e a fratura do império soviético criaram um exército de párias que invadiu as capitais meridionais da Europa, que não quer saber desses indesejáveis. Cria-se a intolerância, manifesta-se o chauvinismo. O cineasta afirma que a cena da agressão na rua - o sujeito que atira o lixo na mendiga, outro toma as dores dela, a polícia intervém e o "herói" vai preso, já que a cor da pele o torna suspeito - é real. Ele a presenciou e Código Desconhecido começou a tomar forma a partir daí. Um testemunho sobre a intolerância contemporânea, sobre o malaise que assola a população das grandes cidades. Ao mesmo tempo que incomoda com seu filme, Haneke sente-se incomodado com as etiquetas de "niilista" e "moralista" que os críticos tentam lhe colar. O niilista é um crítico que quer denunciar a violência com a qual se pretende eliminar os outros, na selva das cidades.

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