Clássico do Dia: 'Casablanca', com suas frases antológicas, marcou a história do cinema

Todo dia um filme será destacado pelo crítico do 'Estado', como este que ganhou as principais categorias do Oscar de 1943 e eternizou frases como 'Sempre Teremos Paris'

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Era uma daquelas típicas produções em que tudo se encaminhava para que desse errado, mas, sabe-se lá por quê, terminou dando tudo certo - e Casablanca não apenas venceu os principais Oscars de 1943, como esculpiu a fama de ser um dos mais adorados filmes de todos os tempos. E pensar que a empresa produtora Warner pensava inicialmente em fazer o filme com Ronald Reagan e Hedy Lamarr. Não teria sido a mesma coisa, e nem o título, porque a história deveria se passar em Lisboa. Casablanca também é grande por seu elenco, que, a par do astro e da estrela – Humphrey Bogart e Ingrid Bergman –, reúne um dos mais perfeitos times de coadjuvantes da história. Sydney Greenstreet, Paul Henreid, Peter Lorre, Conrad Veidt, S.Z. Sakall e Dooley Wilson a postos, no piano, para que Rick, isto é, Bogart, lhe peça 'Play it again, Sam', e ele ataque de As Time Goes by.

Ha-ha. Essa é uma das maiores mentiras do filme, porque Rick nunca diz a frase, mas ela grudou de tal maneira no imaginário dos cinéfilos que Woody Allen, lá atrás, quando ainda era querido, escreveu a peça que virou filme de Herbert Ross, com Diane Keaton e ele próprio – Sonhos de Um Sedutor, de 1972. No verbete dedicado a Casablanca no livro Guide for the Film Fanatic, Danny Peary escreve que o filme tem tudo que o público associa ao entretenimento cinematográfico. Tudo mesmo – ação, aventura, bravura, guerra, perigo, espionagem, exotismo, amizade, tiros, humor, intriga, um triângulo amoroso, patriotismo, política (sem ser muito político), romance, sacrifício, suspense, mas, acima de tudo, um herói e uma heroína com os quais o público pode sonhar.

Cena de Casablanca Foto: Warner

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Casablanca, durante a 2.ª Grande Guerra, é esse lugar, no norte da África aonde chegam todos os trânsfugas do nazismo, sonhando fugir para os EUA. Seus caminhos passam pelo café de Rick. É lá que o próprio Rick reencontra Ilsa, agora ligada ao líder da resistência, Victor Laszlo. Só lá pelo meio do filme um flash-back informa que foram amantes em Paris. Uma frase tão absurda que seria ridícula, se não ficasse tão sublime na voz da jovem Ilsa/Ingrid. Ouvem-se tiros de canhão, quando o Exército de Adolf Hitler invade a cidade e ela pergunta a Rick/Bogart - “Serão as batidas do meu coração?”

Casablanca é cheio de frases antológicas. Bogart - “De todas as espeluncas do mundo, você tinha de vir aqui.' Bergman - 'Não sei se terei coragem de deixá-lo de novo.' E "Sempre teremos Paris." Além, é claro, de 'Play it again, Sam', mas essa só existe na lenda. Todo o conflito do filme gira em torno da questão – com quem ficará Ilsa? Laszlo tomará aquele avião? Como reagirão os nazistas? A espelunca de Rick pode reunir a escória da Europa, mas é o melhor elenco do mundo e o local vira o centro da resistência a Hitler. Laszlo incita o público a cantar a Marselhesa, e a cena é de arrepiar. No livro O Pacto entre Hollywood e o Nazismo, Ben Urwand conta como a indústria, para não prejudicar interesses na Europa, demorou a tomar partido. Quando se uniu ao esforço de guerra, foi por meio de filmes como Casablanca que o ministro da Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels, fazia projetar aos produtores alemães, berrando com eles. Era o tipo de filme que queria que fizessem, mas, claro, invertendo papeis, com judeus, e não nazistas, como vilões.

Apesar do triângulo entre Rick, Ilsa e Laszlo, há mais um vértice nessa história - um quadrado amoroso? O chefe de polícia Claude Rains vive mandando prender os suspeitos de sempre. Será que uma história tão conhecida ainda fornece risco de spoiler? O desfecho mostra o mais surpreendente dos casais – dos pares -, celebrando “o início de uma grande amizade”. Casablanca ganhou os Oscars de filme, direção e roteiro, esse último creditado a Howard Koch e aos irmãos Julius J. e Philip G. Epstein. Em sua autobiografia, O Filho do Trapeiro, Kirk Douglas conta como os gêmeos idênticos construíram a fama de maiores amantes de Hollywood, revezando-se, a noite toda, como se fossem apenas um, na cama das numerosas amantes. O mais incrível, segundo consta, é que nunca houve um roteiro definitivo de Casablanca. O trio escrevia na véspera as cenas que seriam filmadas no dia seguinte. O plano da Warner sempre foi manter a Bergman no escuro, sem saber se Ilsa ficaria com Rick ou Laszlo. Apesar disso, numa votação em 2006, o Writers Guild não vacilou em considerar o melhor roteiro de todos os tempos.

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