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CineSesc revê cinema brasileiro de 2002

O CineSesc abre amanhã a terceira edição de sua retrospectiva do cinema nacional. Nas telas, o que o País produziu neste ano em película: dos longas de ficção aos documentários e curtas-metragens

Por Agencia Estado
Atualização:

Pelo terceiro ano consecutivo, o CineSesc organiza a retrospectiva do cinema nacional, exibindo os filmes brasileiros lançados nos últimos 12 meses. O evento permite avaliar como anda a produção cinematográfica no País. São documentários como Rocha Que Voa, Janela da Alma, Viva São João! e Onde a Terra Acaba, docudramas como Nelson Gonçalves e Gregório de Mattos, ficções como Cidade de Deus, Abril Despedaçado, As Três Marias, Uma Vida em Segredo, O Invasor, Dias de Nietzsche em Turim, Neto Perde Sua Alma e outros. Atestam a diversidade e também a vitalidade do cinema brasileiro atual. Só mesmo usando de má-fé para negar as qualidades que esses filmes ostentam, alguns mais, outros menos. O acontecimento do ano foi (está sendo) Cidade de Deus. O filme que Fernando Meirelles adaptou do livro de Paulo Lins já ultrapassou a marca dos 3 milhões de espectadores e passa a ser o recordista de público desde a retomada da produção no começo dos anos 1990. Aliás, "retomada" já é um conceito anacrônico, obsoleto mesmo, porque há tempos que a produção brasileira, com toda a dificuldade que possa ter - da captação ao lançamento - já se estabilizou não apenas num certo número de filmes, mas também em tendências. Existem os filmes de mercado, representados no ciclo por Avassaladoras, Bellini e a Esfinge e A Paixão de Jacobina, que não são exatamente os mais interessantes. Existem os filmes de baixo orçamento, os autorais e os que de alguma forma fazem a síntese de mais de uma dessas tendências. Dias de Nietzsche em Turim inscreve-se no projeto de cinema experimental de Júlio Bressane e o mais curioso é que o diretor, lançando-se a uma de suas empresas mais aparentemente difíceis, terminou fazendo um de seus filmes mais palatáveis para outras platéias que não as suas habituais. Abril Despedaçado é o melhor e mais maduro filme de Walter Salles, embora o gosto do cineasta pela beleza visual - com a deslumbrante fotografia de Walter Carvalho - preste-se a polêmicas do tipo ´cosmética da fome´. As Três Marias, de Aluizio Abranches, avança ainda mais no rumo de uma realidade recriada por meio de uma estética altamente elaborada e teatralizada. De novo, os críticos que bebem na fonte da professora Ivana Bentes e de seu estudo (inédito), Da Estética à Cosmética da Fome, apontam seu dedo acusador. Melhor seria avaliar como Salles e Abranches usam relações familiares autoritárias - pais e filhos, mães e filhas - para falar sobre o Brasil de FHC. Os documentários, em princípio mais comprometidos com o real, também apresentam diferentes (e complexas) propostas estéticas. Rocha Que Voa, do filho de Glauber, Eryk, e Janela da Alma, de Walter Carvalho e João Jardim, são obras notáveis, que atestam a riqueza da linguagem documentária no País, mas a obra-prima do ano, no gênero, é Edifício Master, de Eduardo Coutinho. Há filmes supervalorizados, como O Invasor, de Beto Brant, e outros subvalorizados (pela crítica), como o de Meirelles. Cidade de Deus já foi chamado de reducionista, descontextualizado e quetais, mas é difícil aceitar que 3 milhões de espectadores de classe média tenham pagado ingresso apenas para fortalecer seu preconceito contra a periferia. A Rede Globo costuma dizer que o Brasil se vê na tela da TV. Vê-se mais ainda na diversidade das telas de cinema. 3.ª Retrospectiva Sesc de Cinema Brasileiro - CineSesc. Rua Augusta, 2.075. Tel.: (11) 3082-0213. De sexta a 11 de dezembro.

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