Cinema reconcilia Glória Pires com a profissão

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Glória Pires, a menina precoce da Rede Globo - aos 38 anos de idade está comemorando 30 na emissora -, nos últimos dois anos chegou a pensar, por rápidos momentos, em aposentar-se prematuramente. "Estava bastante desestimulada", diz. "Por ter passado muito tempo fazendo a mesma coisa, fiquei conhecendo tanto aquilo, mas tanto, que ficou difícil me emocionar." Foi interpretando Selma em A Partilha, filme de Daniel Filho que estréia em 150 salas no dia 8 de junho, que Glória reconciliou-se com a profissão. Emocionou-se não só com a história das quatro irmãs que durante a divisão dos bens da mãe compartilham alegrias da juventude e dores da vida adulta, mas, principalmente, com o processo de composição das personagens. "Durante os ensaios falamos da nossa própria vida: de pai, mãe, irmãos, marido e filhos, lembramos da infância e da adolescência", conta Glória. Ela e as outras três atrizes do elenco principal - Paloma Duarte, Andrea Beltrão e Lilia Cabral - não tinham nenhuma intimidade antes de A Partilha. Hoje são grandes amigas. "Essa proposta de integração do Daniel trouxe emoção ao filme", diz. "Nas filmagens a ligação entre nós quatro era real. O Daniel capta sempre a primeira emoção do ator, raramente repete uma cena. Isso garante frescor à interpretação." A personagem da atriz em A Partilha é uma dona-de-casa infeliz no casamento. Uma mulher simples, desprovida de glamour, que por estar descontente com o presente se apega ao passado. Selma quer que as coisas sejam mais leves, como nos "tempos de solteira". Então, tenta manipular a realidade - um comportamento contrário ao de sua protagonista. Glória age, como ela mesmo define, "intuitivamente". "Não adianta eu tentar me impor diversão no trabalho. Preciso me sentir inspirada para fazer um papel. Todas as vezes em que contrariei esse princípio me dei mal porque não consegui me entregar por inteiro." Leitura de Lorca - Isso aconteceu em Suave Veneno (1999), novela de Aguinaldo Silva, direção de Daniel Filho, último trabalho da atriz na televisão. Ela se arrepende de ter aceito interpretar Lavínia, uma das personagens principais da trama a que se refere como Veneno Fortíssimo. "Foi muito difícil fazer essa novela. Fiz um mau julgamento - o papel não era para mim ou eu é que não era para ele. Não houve integração entre o elenco. E eu vivia um momento de fragilidade e tive que deixar minha família nos EUA para participar das gravações." Na época, Glória estava morando em Los Angeles com o marido, o músico Orlando Moraes, e as filhas Cleo e Antonia. Eles se mudaram para lá depois de serem vítimas de um boato: ao, supostamente, ter flagrado o marido na cama com Cleo (filha de Fábio Jr., primeiro marido da atriz), Glória teria dado um tiro na cabeça. A história folhetinesca foi reproduzida por revistas de fofoca e rádios populares e só teve fim quando a família foi ao Domingão do Faustão provar que estava bem. A experiência colaborou para a desilusão momentânea de Glória com a carreira de atriz. "Eu ficava me lembrando de todos os relatos lúdicos de meu pai (o ator Antônio Carlos Pires) e comparava com o que estava acontecendo comigo. Ficava me perguntando se valia a pena passar por aquilo tudo", diz. Hoje, "em lua-de-mel com a carreira", Glória admite até a possibilidade de fazer teatro. Chegou a pisar no palco em 1979, no musical infantil Era uma vez uma Gata, mas abandonou a produção no segundo fim de semana por estar gravando a novela Cabocla e "não estar se divertindo com o musical". No fim de semana Glória participou, com outros atores, da leitura de Dona Rosita, a Solteira, de García Lorca, na Bienal do Livro do Rio. "Foi incrível sentir a participação do público, ver todo mundo se emocionando junto, as crianças sentadas no chão, comportadíssimas como pequenos lordes." Além de estar disposta a estudar convites para o teatro, a atriz se prepara para voltar à tevê. Em 2002 será Júlia Moreno, uma repórter de revista feminina, na novela das sete, Desejo de Mulher (título provisório), de Euclydes Marinho. Sabe pouca coisa sobre o papel. Apenas que irá contracenar com Regina Duarte, de quem será irmã, intérprete da poderosa estilista Andréa Vargas. Como se vê, felizmente para o público que gosta de novelas, a jovem veterana ainda está longe de aposentar-se.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.