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Cinema reabre as portas 23 anos depois na Cisjordânia

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Por Redação
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A tela grande está de volta a Jenin, após um período de 23 anos, num símbolo de recuperação para uma cidade da Cisjordânia que já foi um bastião de milícias armadas no auge da rebelião palestina contra a ocupação israelense. O Cine Jenin, que fechara em 1987, fez na quinta-feira sua primeira sessão, com um documentário chamado "Coração de Jenin", cuja produção motivou a reforma da sala. O filme conta a história de Ismail Khatib, cujo filho foi morto em 2005 por soldados israelenses que confundiram sua arma de brinquedo com uma de verdade. O pai traumatizado, num raro gesto de perdão, doou os órgãos do menino para pacientes israelenses. "Reconstruímos o cinema em cima de uma mensagem de Ismail: há esperança", disse o diretor do documentário, o alemão Marcus Vetter. Depois de receber vários prêmios pelo filme, Vetter percebeu que não teria onde exibi-lo na própria Jenin. Na quinta-feira, o documentário foi visto por 500 pessoas numa sessão de gala, em mais um marco para a transformação pacífica desta cidade outrora sem lei, na fronteira com Israel. "Vejo meu filho Ahmed em todos esses rostos", disse Khatib à audiência. O primeiro-ministro palestino, Salam Fayyad, presente à sessão, disse à Reuters que o evento "mostra a determinação do nosso povo para encerrar o capítulo do desespero e abrir o capítulo da esperança." No auge da segunda intifada (rebelião) palestina, que teve início há cerca de dez anos, a cidade chegou a ser conhecida como "Jeningrado" -- numa alusão ao cerco nazista contra Leningrado na Segunda Guerra Mundial. Em 2002, ali ocorreu uma das mais violentas batalhas entre militantes palestinos e tropas israelenses, com dezenas de mortos de ambos os lados. Hoje, Jenin é o principal exemplo de uma política, estimulada pelos Estados Unidos, que ajudou os palestinos a estabelecerem uma força de segurança profissional para impor a ordem. A cidade de 40 mil habitantes está novamente efervescente, atraindo consumidores árabes que vivem em Israel. Policiais fardados substituíram os pistoleiros que costumavam dominar as ruas. O governo alemão cedeu 325 mil euros (428,9 mil dólares) para a reforma do cinema, que contou também com ajuda do governo palestino e de empresários locais. São agora dois espaços de projeção --um deles ao ar livre --, além de uma produtora, uma escola de cinema e um acervo digital de filmes e música. No futuro, o cinema exibirá produções árabes e norte-americanas. "Abrir este cinema é uma coisa extraordinária. É um reflexo da reconciliação e da paz", disse Goetz Lingenthal, chefe do escritório de representação da Alemanha em Ramallah, cidade sede do governo palestino. "Não há lugar melhor que Jenin para mostrar que alcançar o sucesso é possível."

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