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Cinema nacional é cartaz em presídio carioca

Após 30 anos, auditório da Lemos de Brito voltou a exibir filmes. Ontem, os presos conferiram Villa-Lobos, Uma de Paixão. Nas próximas semanas, verão Central do Brasil e Triste Fim de Policarpo Quaresma

Por Agencia Estado
Atualização:

Amante do cinema, Ronaldo Monteiro, de 44 anos, não freqüenta uma sala de projeção há 12, tempo que está preso por seqüestro, na Penitenciária Lemos de Brito, na Frei Caneca. Sua última lembrança era do filme Ghost, que assistiu ainda em liberdade. Isso até ontem, quando ele pôde ver Villa-Lobos, Uma de Paixão, no auditório do presídio. Com capacidade para 2 mil pessoas, a sala, que não exibia um filme havia 30 anos, ficou lotada. Os presos não tiravam os olhos do telão montado pelo governo do Estado. "Há alguns dias que só se fala nisso. Acho que o cinema é capaz de despertar a sede do saber nos presos. A cultura propicia o reingresso à sociedade", disse Monteiro. O cineasta Zelito Viana, diretor do filme, é um entusiasta da iniciativa. "É um meio de fazer os presos voltarem a sonhar." Viana conversou com os internos e respondeu a perguntas. Chefe do setor de Educação do presídio, Tácito Chagas Ribeiro contou que o auditório foi construído em 1850, na antiga Casa de Correção da Cidade do Rio, para apresentações de teatro. Nos anos 70, exibiu filmes e abrigou outras manifestações culturais. A sala chegou a ter shows de Roberto Carlos e do apresentador Flávio Cavalcanti, mas deixou de servir como sala de cinema porque os projetores quebraram. Ribeiro acredita que o espaço, que está com infiltrações, deve ser restaurado e mantido mesmo que os presídios da Frei Caneca sejam destruídos, como planeja o governo. Ele informou que serão feitas seções a cada 15 dias, com um telão e um aparelho de DVD. Seu desejo é adquirir projetor, para que haja exibição semanalmente. Os presos vão assistir, nas próximas semanas, a Central do Brasil, Mauá e Triste Fim de Policarpo Quaresma. Dois projetores da década de 70 que estavam numa sala serão recuperados para ficar em exposição. A secretaria de Administração Penitenciária acredita que as sessões não prejudicarão a segurança no presídio. Com 583 presos (a capacidade é para 630), a Lemos de Brito é uma das mais tranqüilas unidades do sistema prisional do Rio.

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