Cinema mais antigo do Rio de Janeiro busca por patrocínio

Aos 90 anos, Cine Odeon sente a fuga de investidores em tempos de crise

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Por Roberta Pennafort
Atualização:

RIO - Aos 90 anos, o Odeon, mais antigo cinema do Rio em funcionamento, procura um patrocinador. Único remanescente da época de ouro da Cinelândia, no centro, o cinema de 550 lugares reabriu um ano atrás como Centro Cultural Luiz Severiano Ribeiro, após 11 meses de obras e dificuldades financeiras. De lá para cá, conseguiu se reerguer com uma programação diversa, atraindo cem mil espectadores. Mas a sobrevivência depende de injeção de recursos, diz Luiz Severiano Ribeiro, presidente do Kinoplex, marca de exibição de cinema do Grupo Severiano Ribeiro (GSR).

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“Sem um patrocinador, as contas não fecham”, disse o neto homônimo do fundador do grupo e pioneiro dos cinemas em rede no País. De 2000 a 2013, o patrocínio foi da Petrobrás. Agora, busca-se empresa que não esteja em crise e que queira apostar num ícone da cultura carioca. “O Brasil está muito complexo. Ninguém quer investir, e com razão. A gente sabe que não vai ganhar dinheiro ali. Se puder não perder, é melhor. O cinema de rua não tem futuro”, afirmou, resignado, Severiano Ribeiro. No Brasil, o GSR tem 249 salas. No Rio, 78, sendo apenas duas de rua. Ano que vem é o centenário da empresa, a mais antiga do ramo ainda em atividade.

De maio de 2015 até agora, a avaliação da frequência é positiva. Esperavam-se 5 mil pessoas por mês, menos de um terço da lotação por dia, e foram cerca de 8,3 mil. Realizaram-se 1.256 sessões e 500 filmes nacionais e estrangeiros. O horário de pico é das 18h às 19h, ao fim do expediente de trabalho. O preço do ingresso é mais baixo do que os dos shoppings, R$ 24, sendo que às quartas cai à metade. Convênios com instituições ampliam a meia-entrada. Hoje, 90% dos pagantes só desembolsam R$ 12.

Histórico. Prédio passou a abrigar o cinema em 1926; região tinha então onze salas Foto: Fabio Motta|Estadão

No entanto, as dificuldades do Odeon persistem. É muito difícil lotar a sala, de grandes dimensões, com um só filme. A falta de segurança nos arredores rouba público aos fins de semana. Não há opções de bares e restaurantes de qualidade para que os frequentadores se animem a fazer um “programa casado”, como nos shoppings. A inauguração, ainda este mês, do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), com ponto na Cinelândia, deverá intensificar a frequência, estima o diretor de programação da sala, o jornalista Sérgio Sá Leitão.

“Hoje, não se faria nunca uma sala desse tamanho, com mezanino, e sim cinco salas de cem lugares. Mas esse primeiro ano superou nossas expectativas. Conseguimos com que os distribuidores flexibilizassem seus modelos de negócio, para exibirmos quatro filmes diferentes por dia”, disse Sá Leitão, que programou 13 festivais de cinema, 23 pré-estreias, sessões idealizadas por cinco cineclubes, exibição de jogos de futebol e óperas e eventos fechados. Ele ainda quer levar apresentações de teatro e música ao palco do Odeon – ainda é necessário um alvará específico.

Eventos com a instalação de food trucks na Cinelândia, ainda em gestação, poderá atrair mais público. Assim como a melhoria do policiamento, que deve chegar com o “Centro Presente”, operação sem data para sair do papel. Seria uma ação nos moldes do “Lapa Presente” e “Aterro Presente”: policiais militares aposentados e jovens que acabaram de cumprir o serviço obrigatório das Forças Armadas se somam ao patrulhamento já efetuado pela polícia para coibir crimes.

Guerrilha na crise. Severiano e o diretor Sérgio Sá Leitão Foto: Fabio Motta|Estadão

O belo prédio de estilo eclético na Cinelândia passou a abrigar o cinema Odeon em 1926. A região da praça tinha, então, 11 salas, as primeiras, datadas de 1923, capitaneadas pelo empreendedor espanhol Francisco Serrador. Só o Odeon, com sua sofisticação neoclássica (frequentado por homens de smoking, que pagavam ingressos mais caros do que os de costume), seus dois andares e camarotes (originalmente existiam 951 lugares), sobreviveria ao fim do século 20, período em que a vulnerabilidade das salas de rua as levou à quase extinção, abrindo espaço para os cinemas multiplex de shoppings. No segundo andar, uma pequena exposição conta essa história de forma sucinta.

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O Grupo Estação, voltado a filmes de arte, foi o administrador de 2000 a junho de 2014, quando do fechamento da sala, por falta de recursos para o pagamento do aluguel ao GSR. Na reabertura, em maio de 2015, após obra de R$ 1,5 milhão (recursos do grupo) que melhorou as condições elétrica, hidráulica e climática e lhe garantiu um moderno projetor 4k, anunciou-se que a intenção era torná-lo “o cinema de quem ama cinema”, independentemente do gênero.

A comemoração dos 90 anos, no próximo dia 18, será com o tapete vermelho da pré-estreia do filme Mais forte que o mundo – A história de José Aldo, de Afonso Poyart, com o ator José Loreto no papel do lutador.

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