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Cinema fantástico francês é cartaz em SP

O ciclo A Magia dos Fantasmas, no CCSP, reúne mais de uma dezena de filmes, em sua maioria da primeira metade do século

Por Agencia Estado
Atualização:

Há só uma exceção de filme recente e nem se pode dizer que A Cidade das Crianças Perdidas, de Jean-Pierre Jeunet e Marc Caro, seja um dos programas mais importantes do ciclo que começa no Centro Cultural São Paulo. Até domingo, uma dezena de títulos vai tentar iluminar esse mistério - o cinema fantástico francês. O ciclo chama-se, sugestivamente, A Magia dos Fantasmas. A maioria dos filmes é dos anos 1910, 20, 30 e 40 e eles flertam ora com a vanguarda ora com o surrealismo, o que sob certos aspectos é uma redundância. Nem todos os vanguardistas foram surrealistas, mas todos os surrealistas ligaram-se à vanguarda. É preciso esclarecer que a dezena de títulos ultrapassa 20, se foram computados os 15 episódios que compõem a série famosa de Louis Feuillade, Os Vampiros. São obras que você, cinéfilo, não pode deixar de conhecer. Feuillade descobriu o cinema em 1906, quando tinha quase 30 anos (nasceu em 1874). Em seu Dicionário de Cinema, Jean Tulard escreve que ele criou personagens que enriqueceram a mitologia do cinema. Pode-se começar por dois garotos terríveis, Bebé e Bout De Zan, mas a fama de diretor repousa sobre as séries de Fantômas e dos Vampiros. Fantômas recria, numa Paris fantasmagórica, as proezas do gênio do crime. Os Vampiros, que você vai ver, tem toques do mais puro surrealismo, com o chefe do bando sinistro que se disfarça como bispo - detalhe que deve ter feito a delícia de um iconoclasta como Luis Buñuel -, disparando tiros de canhão num barco penitenciário para libertar sua inspiradora, a lendária Musidora, que foi um mito do cinema francês, na era silenciosa. Por mais atraentes que possam ser Os Fantasmas e Os Vampiros, as pérolas da programação são os filmes de Jean Epstein, Marcel L´Herbier e Claude Autant-Lara. E não se pode esquecer de peças consagradas do cinema fantástico francês que integram a programação, como os dois filmes de Jean Cocteau (A Bela e a Fera e Orfeu) e Os Visitantes da Noite. Marcel Carné rodou seu filme durante a ocupação, construindo uma alegoria política a partir da trama desenrolada na Idade Média. Menestrel e a mulher chegam ao castelo no qual um conde está se casando. Possuídos pelo Diabo (o nazismo?), ele seduz a noiva, ela seduz o conde, mas o amor verdadeiro (o povo francês?) a tudo resiste. Quando o Diabo transforma a dupla em estátuas de pedra, os corações apaixonados continuam batendo. A contribuição teórica de Jean Epstein nos primórdios do cinema é valiosíssima. Ele se considerava um vanguardista e o melhor de sua obra é A Queda da Casa de Usher, de 1928, uma adaptação de Edgar Allan Poe que pode ser vista como resposta francesa ao expressionismo alemão. Marcel L´Herbier, com sua Magia dos Fantasmas, que dá o título geral à programação, também é vanguardista, mas o que cativa em Sylvie e o Fantasma, de Claude Autant-Lara, de 1946, é o antivanguardismo do tom antiquado. O "fantasma" do filme é Jacques Tati que, em 1946, ainda não havia criado Monsieur Hulot. A Magia dos Fantasmas: O Fantástico no Cinema Francês. De terça a domingo. Grátis. Centro Cultural São Paulo. Rua Vergueiro, 1.000, tel. 3277-3611. Até 18/4.

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