Cinema é incentivo para jovens fumantes, diz estudo

Conforme pesquisa, adolescentes que vêem estrelas fumando na telona têm três vezes mais chances de repetir o gesto. Médico sugere que a classificação etária dos filmes leve em conta o número de baforadas

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Por Agencia Estado
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Adolescentes que vêem atores fumando nos cinemas têm três vezes mais chance de começar a dar suas próprias baforadas. É o que diz uma pesquisa publicada nesta terça-feira no site da publicação médica The Lancet. Este é o primeiro estudo do gênero que acompanhou crianças anos antes de se tornarem fumantes. A conclusão é que 52% dos casos de jovens fumantes podem ser atribuídos aos filmes que mostram estrelas do cinema fumando. "O efeito é mais forte do que a publicidade do cigarro", disse Stanton Glantz, professor de medicina no Institute for Health Policy Studies na Universidade da Califórnia, que não participou da pesquisa, mas apóia as conclusões. A pesquisa foi conduzida por cientistas do Dartmouth Medical School, envolveu 2.603 crianças e adolescentes com idades entre 10 e 14 anos, dos estados americanos de Vermont e New Hampshire. Todas elas nunca haviam fumado até 1999, quando a pesquisa começou. O grupo teve que responder que filmes havia visto de uma lista de 50 produções lançadas entre 1998 e 99 e os pesquisadores contaram quantas cenas de pessoas fumando apareciam em cada filme. Um ou dois anos depois, 259 entrevistados começaram a fumar, cerca de 10% do total. Destes 259, 22 estavam no grupo que menos viu estrelas fumando em cena, e 107 pertenciam ao que mais assistiu a cenas do tipo, um total mais de cinco vezes superior. Mas após levar em conta outras fatores que levam os jovens a fumar, os pesquisadores reduziram a proporção e concluíram que quem assiste a filmes com muitas baforadas tem três vezes mais chances de repetir o gesto. A pesquisa concluiu também que filhos de não-fumantes foram particularmente influenciados pelo cigarro nas telas. Os especialistas estão divididos. Enquanto uma parte acredita que a pesquisa oferece as mais fortes provas de que o fumo no cinema estimula o hábito de fumar na vida real, outros não aceitam a hipótese. O médico Stanton Glantz, em uma crítica separada da pesquisa, mas também publicada pelo The Lancet, pediu que a classificação etária dos filmes leve em conta cenas de fumantes. Fundador de uma campanha anti-tabagista dirigida ao cinema, chamada Smoke Free Movie, Glantz diz que 60% da exposição a cenas com cigarro nos filmes usados na pesquisa estavam em filmes para jovens. Um porta-voz da fábrica de cigarros americana Philip Morris disse que a escolha de usar o fumo em filmes é de produtores e diretores. Também afirmou que as indústrias de tabaco não dão brindes ou pagam por cenas com seus produtos. "Achamos que os produtores de cinema deveriam pensar com muito cuidado sobre o uso de cigarros nos filmes, especialmente naqueles que provavelmente serão vistos por crianças", disse o porta-voz.

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