PUBLICIDADE

Cinema e futebol: quando as duas paixões se misturam

Com a estreia do filme 'Meu Mundial', 'Estado' convida a uma viagem pelo mundo do futebol na tela

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:
Cena de 'Meu Mundial',filme de Carlos André Morelli baseado no livro homônimo de Daniel Baldi Foto: Bretz Filmes

Não são muitas as grandes ficções sobre futebol, talvez porque não seja nada fácil 'encenar' uma grande jogada. Mas existem bons filmes em que o retângulo do campo serve de extensão ou ajuda a resolver os conflitos de personagens que se relacionam com a bola. No fundo, é isso, o personagem. Com a estreia do ótimo Meu Mundial, vamos fazer uma viagem pelo mundo do futebol na tela.

Meu Mundial - o filme de Carlos André Morelli baseia-se no livro homônimo de Daniel Baldi, que foi parceiro de Diego Lugano, lá no começo da carreira dos dois, no Uruguai. E, sim, os melhores filmes são documentários, sobre grandes jogadores ou campeonatos. Mas têm as ficções, até animação.

Asa Branca - Um Sonho Brasileiro

PUBLICIDADE

Djalma Limongi Batista dirige Edson Celulari ainda no começo da carreira do ator, em 1981 - há 38 anos! Um jogador habilidoso que sai do interior para explodir na cidade grande. Sucesso, dinheiro, mulheres, mas também os interesses de bastidores, a falsidade nas relações. Quem gosta de mim sou eu mesmo, enquanto Asa Branca não se encontrar consigo mesmo, em meio ao sonho do futebol, nada dará certo para ele. A essa altura,você deve estar se perguntando - mas por que Asa Branca? Tem uma pitada de fantástico, muito interessante.

Boleiros - Era Uma Vez o Futebol

Os amigos que se reúnem no bar para falar de futebol. Muitas histórias, nem todas divertidas. O melhor de Ugo Giorgetti - diálogo enxuto, filmagem simples, elenco afiado (Adriano Stuart, Lima Duarte, Cássio Gabus Mendes, Rogério Cardoso, Flávio Migliaccio, Otávio Augusto etc.) O grande momento - a história de Paulinho Majestade, o ex-jogador do Santos. Aldo Bueno cavou sua trincheira no cinema brasileiro com esse papel.

O Casamento de Romeu e Julieta

Publicidade

Por amor a Julieta, filha de um torcedor fanático do Palmeiras, o corintiano Romeu finge torcer pelo time do Palestra Itália. Mas é claro que dá confusão. Luana Piovani, Marco Ricca, Luiz Gustavo e o diretor Bruno Barreto, em boa forma, fazem dessa comédia 'italiana' uma experiência divertida.

El Cinco

Camisa 5 no time argentino do Talleres de Escalada, Sérgio Patón chega aos 35 anos e, ao fim da carreira, sem fama nem fortuna. O 5 tem agora que enfrentar o desafio da nova vida longe do campo, mas com o apoio da mulher. Uma daquelas histórias 'pequenas' de que o cinema da Argentina possui o segredo. Adrián Biniez dirige, Esteban Lasmothe e Julieta Zylberberg interpretam.

A Copa

As atribulações de um monge tibetano e seus amigos que tentam assistir à final da Copa num monastério onde tal atividade é proibida. Khyentse Norbu Rimpoche fez um filme emocionante.

Fuga para a Vitória

Fugindo do inferno em versão futebolística. Prisioneiros num campo nazista planejam fugir durante partida de futebol, mas o andamento da partida coloca o plano em risco. De repente, vencer os opressores alemães parece mais importante que a liberdade. John Huston dirige Michael Caine, Sylvester Stallone e o craque Pelé entram na disputa. Pode ser divertido (re)ver, mas certamente não se conta entre os bons filmes do grande Huston.

Publicidade

Garrincha, Alegria do Povo

O documentário clássico de Joaquim Pedro de Andrade é fruto de uma contradição. Garrincha era um gênio com a bola e o diretor sabe disso, mas seu ponto é que o futebol aliena as massas. Uma discussão polêmica, mas que ajudou a construir a aura do longa de Joaquim Pedro.

Goal! O Sonho Impossível

O filme pertence a uma trilogia sobre futebol. Danny Cannon dirige a história do cozinheiro hispânico de Los Angeles que um olheiro quer levar para o futebol inglês. Kuno Becker realizará seu sonho? E o que faz David Beckham nessa trama? Apesar do foco no sonho, o filme é bem realista.

Goal II - Vivendo o Sonho

Na sequência da história, Santiago Muñez/Kuno Becker tem a chance de tentar sair do modesto time inglês para tentar a sorte entre as estrelas do Real Madrid. Jaume Collet Serra dirige, na fase anterior a A Órfã e a seus filmes de ação com Liam Neeson. Bem bom.

Heleno

Publicidade

Ídolo do Botafogo na década de 1940, Heleno de Freitas era um jogador espetacular, mas o que parecia indisciplina era, na verdade, algo mais profundo - a doença que fez de sua história uma tragédia. Rodrigo Santoro queria tanto fazer esse filme que não teve alternativa: foi o produtor. Direção de José Henrique Fonseca, fotografia de Walter Carvalho, as belas Alinne Moraes e Angie Cepeda. Resumindo - um luxo.

Hooligans

Charlie Hunnam se encontrou com torcedores do Inter City Firm, considerados os hoolingans mais violentos, como preparação para o papel nesse drama sobre os aspectos mais sombrios das disputas de torcidas. Quando o esporte deixa de ser paixão e vira obsessão. Pauleira pura. Lexi Alexander é o diretor e do elenco participam Elijah Wood, o Frodo de O Senhor dos Anéis, e Claire Forlani.

Lições de Um Sonho

Na Alemanha do final do século 19, um professor formado em Oxford usa o futebol para despertar o interesse de seus alunos pelo ensino da linguagem. O longa de Sebastian Grobler fez grande sucesso de público e crítica e ganhou alguns dos principais prêmios do cinema alemão naquele ano. Mas, como ocorre seguido, o futebol é ferramenta para outra coisa em sua história.

Maldito Futebol Clube

O roteirista Peter Morgan e o ator Martin Sheen viraram especialistas em biografias, ou pelo menos na abordagem de figuras reais - Frost/Nixon, A Rainha. Aqui, elegem o polêmico treinador Brian Clough, cuja passagem pelo Leeds Uniteds - apenas 44 dias - foi marcada por disputas de ego e conflitos com dirigentes, torcedores e jogadores. A narrativa não linear, cheia de flash-backs e licenças poéticas, não foi muito bem recebida, mas o filme tem fãs ardorosos.

Publicidade

Maradona por Kusturica

Esse é um daqueles documentários que fazem pensar que a ficção não é a melhor ferramenta para contar histórias do futebol. Quem poderia ser Maradona, senão ele? Emir Kusturica, um dos maiores diretores do mundo, filma a totalidade de Diego Maradona. O homem, o atleta, o jogador, o homem político. Kusturica encampa a tese que Maradona é, ou foi, o maior jogador do mundo, maior que Pelé. Por mais duro que seja de engolir, como filme é genial.

Meu Mundial

O pretexto para toda essa conversa sobre cinema e futebol é esse pequeno grande filme do Uruguai. Um garoto de periferia tem a chance de virar jogador, e astro, mas as mudanças são muito grandes e a falta de estrutura, familiar e pessoal, quase o leva à destruição. Escrito por um ex-jogador, Daniel Baldi - que foi parceiro de Diego Lugano no futebol uruguaio -, o filme dirigido por Carlos Andrés Morelli e interpretado por Facundo Campelo (Tito, o garoto) possui um encanto todo especial. Como o pai, Nester Pizzini foi melhor ator, vencendo o Kikito da competição latina do ano passado em Gramado. O subtítulo tem valor de advertência para o que o diretor e o roteirista querem dizer - para vencer, não basta jogar. Filhos de professores, Baldi e Lugano - que foi muito mais longe no futebol - treinavam de dia e estudavam à noite. Sempre defenderam que o desenvolvimento humanista (o estudo) deve acompanhar o preparo físico. A vida continua após o futebol, e o sujeito deve estar preparado para isso. Facundo foi escolhido por ser bom de bola. Se não fosse o ator familiarizado com a 'redonda', não haveria filme.

Pelé Eterno

Genial como é, Pelé não deu sorte no cinema. Nem o grande John Huston estava na sua melhor forma quando filmou com ele. E os documentários são chapas-branca. O mais notável desse, de Anibal Massaini,é que não havia registro filmado de um golaço contra o Juventus, em 1959. Como nem o próprio craque conseguiria reproduzir a jogada, o jeito foi reencená-la digitalmente, como animação.

À Procura de Eric

Publicidade

O inglês Ken Loach virou sinônimo de cinema de temática, ou consciência, social. Louco por futebol, ele não desistiu de refletir, aqui, sobre a classe trabalhador. A vida de Eric Bishop está um casos e aí o outro Eric, o jogador Cantona, entra nela para ajudá-lo a resolver seus problemas profissionais e sentimentais. Loach conseguiu fazer uma bela ficção sobre o futebol, com direito a um grande jogador como ator.

O Rei Pelé

Sétimo filme do argentino Carlos Hugo Christensen no Brasil, esse documentário começa com o próprio jogador dizendo ao produtor que desista do filme sobre ele, porque não é ator. O produtor (Fábio Cardoso) insiste, diz quePelé não vai precisar representar, só ser Pelé. E começa a 'história'. O filme mitifica o conceito do craque como ícone do futebol. Fora do campo, Pelé é bom moço. Nada muito excitante, mas belas jogadas.

Um Time Show de Bola

Depois de ganhar o Oscar de filme estrangeiro por O Segredo de Seus Olhos, o argentino Juan José Campanella fez essa animação deslumbrante sobre garoto que adora pebolim e cresce para ser desafiado num jogo decisivo (e real). Terá condições de vencer? Tudo parece conspirar contra, e a cidade toda depende da vitória. É quando ocorre o momento mágico que só o cinema pode criar. Tem a ver com o pebolim. Outro golaço cinematográfico de Campanella.

Todos os Corações do Mundo

Murilo Salles dirigiu o filme oficial da Copas do Mundo de 1994, nos EUA. Fez um trabalho belíssimo, acompanhando os times, os jogos e as torcidas ao redor do mundo, mostrando o futebol como um sonho planetário de integração. E o Brasil ainda foi tetracampeão. Antônio Grassi é o narrador da versão brasileira, Liev Schreiber, o da norte-americana.

Publicidade

Zidane: A 21st Century Portrait

Zinedine Zidane é o astro desse outro documentário que disputa com o de Emir Kusturica, sobre Maradona, o título de melhor filme sobre futebol. No caso, trata-se de uma só partida, Real Madrid vs Villareal, na qual Zidane foi seguido o tempo todo por 17 câmeras (de vídeo e cinema, 16 mm e 35 mm). Jogando com a imagem, o som, o silêncio, os diretores Douglas Gordon e Philippe Parreno fizeram um filme experimental dos mais ousados, e avançados. Um homem, suas atitudes dentro de campo, a torcida. Ninguém passa impune por essa experiências. Depois desse retrato, você verá o futebol de forma diferente.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.