Cinema de José Mojica Marins chega ao DVD

Com lançamento marcado para a sexta-feira 13 de setembro, a caixa comemorativa Coleção Zé do Caixão reúne seis clássicos do cineasta

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Por Agencia Estado
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José Mojica Marins, o cineasta mais amado e odiado do Brasil, poderia ser lembrado apenas pelo sucesso de seu mais famoso personagem, o tenebroso coveiro Zé do Caixão. Fez muito mais e, dentro de dois meses, ganha um caixão à altura de sua obra: a Coleção Zé do Caixão em DVD - caixa comemorativa dos 50 anos do cinema de José Mojica Marins, do selo Cinemagia (WTF Distribuidora). Trata-se do trabalho mais completo já realizado sobre um diretor brasileiro. Acompanham os seis filmes - À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1964), Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver (1967), O Estranho Mundo de Zé do Caixão (1968), Ritual dos Sádicos - O Despertar da Besta (censurado por mais de 30 anos), Finis Hominis (1971) e Delírios de um Anormal (1978) - todos os roteiros na íntegra, legendas em quatro idiomas, os principais documentários de época, matérias especiais e entrevistas com atores, produtores, colegas e admiradores, que comentam e analisam algumas das obras mais soturnas e geniais do cinema nacional. "Escolhemos estes filmes porque são os melhores e os mais significativos", explica o produtor-executivo da WTF, Paulo Duarte, idealizador do projeto em parceria com Marcelo Hespanhol. Há seis meses, Duarte vem coordenando três equipes, e juntou um material precioso, como o curta-metragem Reino Sangrento, de 1952, o primeiro registro oficial de Mojica como cineasta. O lançamento da caixa não poderia ter data mais sugestiva: sexta-feira, 13 de setembro. A paixão de Mojica pelo cinema começou cedo, aos 10 anos, quando reunia os amigos na Vila Anastácio, em São Paulo, para apresentar-lhes seus experimentos com uma Super-8. Estávamos na década de 40. O cineasta calcula que, entre longas, curtas, fitas inacabadas e participações, sua obra chegue a 150 filmes. Nos últimos 50 anos, principalmente durante a ditadura, muitas cópias foram perdidas, queimadas ou mutiladas. Outras, simplesmente jogadas fora. "Procuramos as existentes, as que estavam em melhor estado e as remasterizamos para poder lançá-las", explica Duarte. "Por se tratar de filmes antigos, não há making of e registros da época gravados em película. Então procuramos pessoas que ainda estivessem vivas para contar a história." Extras - Ao vasculhar o passado do diretor, Duarte e sua equipe encontraram velhos companheiros dele, como o ator e produtor Mário Lima, figuras inusitadas, como um ator egípcio de O Estranho Mundo, e o ex-lutador Satã, que por anos a fio foi seu braço-direito. "Incluímos comentários de pessoas fundamentais do ponto de vista teórico, como os diretores Carlos Reichenbach, Ozualdo Candeias e Ivan Cardoso - considerado discípulo do trabalho de Mojica", completa o produtor-executivo, que contou com a consultoria de Carlos Primati, historiador da obra de Mojica. Ninguém cobrou para dar os depoimentos que, por sinal, não se restringem a colegas de profissão. Fãs notórios do cinema de Mojica, como o titã Branco Mello, o baterista da banda Sepultura, Igor Cavalera, e a VJ da MTV Marina Person participam dos extras. "Papai gostava muito dele e atuou em O Estranho MundoEles eram muito amigos", recorda-se Marina, filha do diretor Luis Sérgio Person, amigo pessoal e entusiasta da obra de Mojica. "Ele tem uma trajetória única, particular, e nunca foi ligado a movimentos ou panelas". "Mojica não sabia nada de cinema e por isso fez coisas altamente originais", completa o crítico de cinema Rubens Ewald Filho. "Para mim ele está entre os grandes autores brasileiros." O erro de muitas pessoas foi acreditar que a tampa do caixão de Zé fechou-se em 1998, quando decidiu lançar sua biografia (Maldito, de Ivan Finotti e André Barcinzki). "Ele está vivo. É um homem que tem uma consciência gigantesca de sua obra", explica Duarte, que exigiu a presença constante de Mojica na produção dos DVDs. "Foi um privilégio. Mojica falou o tempo todo e sabia do que falava. Ele tem de estar atuante." E está.

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