Cinema de arte invade shopping-center

Além de novas salas de cinema abertas à produção independente e alternativa, novo Shoppping Frei Caneca anuncia projeto para construção de teatro com 500 lugares, galeria de arte e centro de convenções

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Por Agencia Estado
Atualização:

Guarde este nome - Arteplex. Está surgindo um novo conceito de multiplex e cinema de arte em São Paulo. A data prevista é 26 de abril de 2001. Neste dia começa a funcionar o Arteplex do novo Shopping Frei Caneca. A iniciativa de R$ 5 milhões reúne dois dos nomes mais conhecidos do mercado cinematográfico alternativo do País - Adhemar Oliveira e Leon Cakoff, leia-se, Espaço Unibanco de Cinema e Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Depois de criar a distribuidora Mais Cinema e convencidos de que novas propostas de distribuição de filmes exigem, necessariamente, novos espaços de exibição, eles anunciam um complexo de novas salas que vão exibir desde o cinema comercial de qualidade até o produto realmente independente ou alternativo. A idéia é usar esses espaços para veicular também a produção brasileira e latina. O anúncio foi feito hoje de manhã, no próprio canteiro de obras do Frei Caneca Shopping Center & Convention Center, em construção na conhecida rua de São Paulo, no número 569 (próximo ao Espaço Unibanco de Cinema, na Augusta). Oliveira conta que tudo ocorreu atendendo a um chamamento de Sérgio Mamberti. "O Sérgio é uma pessoa maravilhosa, aglutinadora; está sempre querendo ampliar os espaços da criação cultural e artística da cidade." Mamberti fez a ponte entre Oliveira, Cakoff e o grupo empresarial responsável pelo shopping. O Shopping Frei Caneca pretende estabelecer um novo conceito para shopping centers em São Paulo. Além das lojas (em número de 189), é voltado para a cultura. O complexo prevê a criação de um teatro de 500 lugares, que será comandado por Mamberti e pelo diretor de teatro e televisão Wolf Maia, galeria de arte e centro de convenções, além de uma área de restaurantes que pretende ir além da simples fast-food. Foram sondados outros grupos ligados à exibição, mas Oliveira e Cakoff levaram a melhor com seu conceito do Arteplex. Eles ainda não sabem se será esse o nome definitivo. É provável que sim, já que, desde hoje, na coletiva, e a partir de amanhã, na mídia, todo mundo vai ficar sabendo da novidade. Nove salas ligadas por um saguão de quase 700 metros quadrados - e no qual haverá espaço para tudo, além dos tradicionais quiosques para venda de refrigerantes e pipoca. A previsão de que sejam instalados no local cafeteria, livrarias, lojas de discos e vídeos, tudo o que possa, enfim, ampliar o conceito de centro de divulgação da produção artística e cultural audiovisual. Nove salas equipadas com tecnologia digital, projetores italianos Cinemeccanica de última geração e modernas e confortáveis poltronas reclináveis - três delas, as maiores, com cerca de 250 lugares cada uma, e as outras seis variando entre 85 lugares (a menor) até a média de 150 assentos. No total, serão 1500 assentos por sessão, o que permite sonhar com a possibilidade de mais de 1 milhão de novos assentos/ano e isso num circuito de qualidade, não ligado ao mainstream da produção hollywoodiana (embora Oliveira e Cakoff não descartem o cinemão de qualidade). Isso significa dobrar a disponibilidade de assentos do atual circuito de arte de São Paulo, formado pelo Espaço Unibanco, a Sala Cinemateca, a ex-Cinemateca, o Cinesesc e o Vitrine. Até porque já fornece seu nome ao espaço da Rua Augusta, o Unibanco é o parceiro natural para a iniciativa. "Estamos em negociações", diz Oliveira, que espera contar com financiamento via linha de crédito especial do BNDES. Mas há outros parceiros em vista e quem quiser conversar com Cakoff e ele, certamente, será bem-vindo. O Arteplex surge no bojo do que pode ser considerada uma ampliação do conceito do Espaço Unibanco de Cinema. O espaço já existe hoje em Fortaleza, vinculado ao Instituto Dragão do Mar, com duas salas, e em Juiz de Fora, outras duas salas, só que aí abrigadas no circuito Cinearte Palace. Oliveira e Cakoff criam também novas salas no Shopping Rio Design, na Barra, possivelmente inaugurando-as no fim de setembro ou início de outubro (e para isso vão trazer Abbas Kiarostami ao Brasil - o magnífico autor iraniano vem para o lançamento de O Vento nos Levará). Outra sala será criada no Leme, também, no Rio, com inauguração em novembro. Oliveira sonha com espaços em Ribeirão Preto e no Recife - nessa última, o processo já está bem adiantado. Já existe até um local em vista e o espaço da capital pernambucana será inscrito no quadro de um projeto do BID, Banco Interamericano de Desenvolvimento, para recuperação do centro do Recife. É a concretização de um sonho empresarial que começou quando Oliveira, vindo do cineclubismo, criou o Estação Botafogo no Rio, e Cakoff idealizou a Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. O Estação cresceu, Oliveira veio para São Paulo, separou-se dos antigos sócios cariocas e agora tem um novo sócio em São Paulo - Cakoff, com quem vinha costurando, há um ano, as parcerias na distribuidora Mais Cinema e no Arteplex. O compromisso dos dois não é só com a exibição de produtos artísticos, de reconhecido valor cultural. Também é com a criação de novas platéias. Pelas pesquisas que realiza todos os anos, Cakoff pode dizer que ocorre, em média, uma renovação de 30% do público da mostra, todos os anos. É preciso não só manter como também ampliar esse público, quase sempre jovem, que injeta sangue novo no evento. Oliveira também sente a mesma coisa no Espaço Unibanco. Nos sete anos que já tem o espaço da Augusta, por lá passaram cerca de 4 milhões de espectadores. Há programas de formação de novas platéias como o Cinema na Escola, com a exibição de filmes para escolas de 1.º e 2.º graus, que ele pretende continuar incentivando no Arteplex. "Queremos formar espectadores capazes de pensar e valorizar o cinema como manifestação artístico-cultural e não apenas como ponto de encontro para sessões barulhentas, regadas a refri e pipoca, como ocorre nos shopping centers tradicionais." O Arteplex do Shopping Frei Caneca promete fazer história. E poderá ser a semente de uma iniciativa que Oliveira e Cakoff gostariam de ver triunfar no Brasil inteiro. Ao fazê-lo não pensam só no lucro. Pensam que esse poderá ser reinvestido em novas salas e mais filmes fora do mainstream na distribuidora. O que move esses homens é o amor pelo cinema.

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