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Cinema coreano ganha mostra em SP

Entre os destaques do ciclo no Centro Cultural São Paulo, estão Área de Segurança, de Park Chan-wook, e Idem, de Kim Jeong-gwon

Por Agencia Estado
Atualização:

É uma pena que um filme como Amor Proibido (Chunhyang) não tenha feito, na cidade, o sucesso que merecia. São Paulo, por seu cosmopolitismo, tem sabido prestigiar e valorizar o cinema de outras culturas, mas ficou um tanto insensível diante do belo filme do coreano Im Kwon-taek. Havia críticos que defendiam apaixonadamente, em Cannes, no ano passado, a Palma de Ouro para o filme de Taek ou então para Amor à Flor da Pele, de Wong Kar-wai. No final, o vitorioso foi o musical Dançando no Escuro, de Lars Von Trier. Foi a vitória da mistificação sobre o talento e o público daqui não restabeleceu o equilíbrio da balança. Amor à Flor da Pele fez um belo sucesso na cidade, mas Amor Proibido... Os filmes da Coréia que fazem sucesso por aqui são experiências barra-pesada, como Mentiras, de Jiang Sun-woo, e A Ilha, de Ki-duk Kim, que chocou o Festival de Veneza do ano passado com suas cenas de sexo. Conheça mais um pouco dessa cinematografia que, cada vez mais, marca presença nos festivais internacionais. Com o apoio do Consulado Geral da República da Coréia, o Centro Cultural São Paulo promove, de amanhã a domingo, um ciclo formado por cinco filmes. Um deles, Área de Segurança, de Park Chan-wook, integrou a mostra competitiva do Festival de Berlim deste ano. Os quatro restantes são: Idem, de Kim Jeong-gwon, Meu Coração, de Bae Chang-ho, Museu de Arte do Zoológico, de Lee Jeong-hyang, e Il Mare, de Lee Huyn-seung. O título do último - O Mar - é o mesmo do filme do espanhol Agustí Villaronga, em exibição na cidade, mas não há nada mais diferente do que essas duas produções. Villaronga fala de homossexualismo e pulsões destrutivas na infância. Seung conta a história de um homem que se muda para uma casa, no litoral, e descobre na sua caixa de correio a carta de uma mulher, dirigida ao antigo locatário. É uma carta de amor e, a partir daí, começa uma relação epistolar, até o momento em que os dois resolvem se conhecer. A Coréia foi cenário de muitos filmes de guerra produzidos por Hollywood, que criaram clichês bélicos e românticos para justificar a guerra que os EUA levaram naquela região, nos anos 50. Em 1948, a Coréia havia sido dividida no paralelo 38. Virou foco de disputa de russos, norte-americanos e chineses. Mesmo não sendo o melhor filme daquela tendência, As Pontes de Toko-ri, de Mark Robson, destaca-se pelo simples fato de mostrar que a guerra, na verdade, era entre EUA e União Soviética, no tempo em que as duas superpotências tentavam dominar o mundo. O cinema chegou à Coréia em 1903, oito anos após a histórica primeira sessão que os irmãos Lumière realizaram no Grand Café, de Paris. O primeiro filme, um kinodrama - peça teatral com inserção de imagens -, surgiu só em 1919 e quase toda a memória cinematográfica nacional, que havia resistido à ocupação japonesa, foi destruída durante a Guerra da Coréia. A retomada se processou nos anos 60, mas nos 70 o cinema coreano ainda não havia conquistado o público do país. Nos 90, Amor Proibido fez tanto sucesso que bateu, por expressiva margem, os espectadores do Titanic de James Cameron. Taek é o mais ativo (e famoso) diretor coreano, com cerca de cem filmes no seu currículo. Está ausente da programação do CCSP. Idem trata do encontro de um rapaz e uma moça que se comunicam pelo rádio. Freqüentam a mesma universidade, mas ele afirma viver em 2000 e ela, em 1979. Área de Segurança expõe a tensão e a violência na fronteira das duas Coréias, a do Sul e do Norte. Meu Coração critica velhas estruturas sociais (e a opressão da mulher) por meio da história de garota de 16 anos obrigada a casar-se com menino de 10. E Museu de Arte do Zoológico incorpora o processo criativo do próprio cinema na história do roteirista abandonado pela mulher e que inicia uma relação com a nova inquilina da casa em que ela morava. Cabe ressaltar que essa mostra, e todos os dados aqui referidos, tratam do cinema sul-coreano. Impenetrável, a Coréia do Norte costuma ser definida como "o último regime stalinista do mundo". Cinema Sul-Coreano. Grátis (ingresso com uma hora de antecedência). Centro Cultural São Paulo - Sala Lima Barreto. Rua Vergueiro, 1.000, tel. 3277-3611. Abertura amanhã (04), às 16 horas. Até domingo.

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