PUBLICIDADE

Cinema argentino brilha em Búzios

9.º Visa Búzios Cine Festival exibiu uma pequena mostra de filmes argentinos, que foi o grande destaque do evento

Por Agencia Estado
Atualização:

São nove anos de festival. "Para o décimo, no ano que vem, vamos ter de fazer algo muito especial", anuncia Mário José Paz. Proprietário do Gran Cine Bardot, em Búzios, esse argentino, que se fez brasileiro por amor à praia que encantou Brigitte Bardot nos anos 1960, co-realiza com o pessoal do Cima (Centro de Cultura, Informação e Meio Ambiente) - Iara Britz, Marcos Didone, Vilma Lustosa e Walkiria Barbosa -, o Visa Búzios Cine Festival. Em nove anos, o festival, patrocinado pelo cartão Visa, já conseguiu definir um perfil único no panorama brasileiro. Mostra que não é competitiva, é uma vitrine de lançamentos - nacionais e internacionais -, tem sempre uma programação especial voltada para o cinema latino e abriga, o que é muito importante, um encontro de distribuidores e exibidores para discutir as questões do mercado no País. O encontro, realizado em parceria com a revista Filme B, reuniu grandes distribuidores do País, que foram mostrar aos exibidores suas estratégias para os principais lançamentos já anunciados de 2003. Até por ser argentino, Mario José Paz espera fazer a ponte entre o cinema continental de língua espanhola e o brasileiro. Ele trouxe ao 9.º Visa Búzios Cine Festival o maior distribuidor da Argentina e espera reunir, no ano que vem, o pessoal da Agência Nacional de Cinema, a Ancine, com seus colegas argentinos para discutir programas de cooperação. Seu sonho é estabelecer pontes que eliminem a barreira do idioma e façam com que os filmes brasileiros passem na Argentina (e os argentinos no Brasil), sem fronteiras. "O interesse do presidente eleito - Lula - pelo mercado latino e pelo Mercosul, em especial, me permite acreditar que isso será possível." É um festival de pré-estréias. Filmes polêmicos integraram as quatro noites da programação - de quinta a domingo -, destacando-se, entre eles, Irreversível, de Gaspar Noè; Ken Park, de Larry Clark, o diretor de Kids; e Ed Lachman. São horríveis, ou quase, e Clark ainda faz do novo filme uma espécie de Kids filtrado com Império dos Sentidos, mostrando a sua garotada em cenas de sexo explícito - com direito a tudo o que você possa imaginar. Na verdade, o filme dele é um Felicidade pornográfico e sem a direção de Todd Solondz, o que faz toda a diferença. Separações, de Domingos de Oliveira, foi bem recebido, e Chegadas e Partidas, de Lasse Hallstrom, bate na tecla de Regras da Vida, mostrando que o diretor sueco cooptado pela Miramax sabe tornar palatáveis (e lacrimogêneos) filmes sobre temas barra-pesada: este aqui inclui incesto, estupro e quetais, mas você nem nota. O cinema na praça - um dos eventos do Visa Búzios Cine Festival - mostrou este ano a pré-estréia da nova produção da Disney, Planeta do Tesouro, além de produções do cinema brasileiro: Houve Uma Vez Dois Verões, Avassaladoras, Janela da Alma. Mas o must do 9.º Visa Búzios Cine Festival foi a pequena mostra do cinema argentino, formada por Histórias Mínimas, de Carlos Sorín, Herência, de Paula Hernandez, e Lugares Comuns, de Adolfo Aristarain. O primeiro, uma espécie de Amores Perros da Argentina, sobre homem que atravessa o país para desculpar-se com seu cachorro, venceu o Festival de San Sebastian e criou o maior tititi em Búzios: foi o filme mais visto, o mais comentado e, por isso mesmo, outra sessão teve de ser providenciada, no domingo à tarde. O último não comporta outra definição - é maravilhoso. Aristarain é um dos grandes diretores da Argentina, autor de filmes como Tempo de Revanche e Um Lugar no Mundo. Conta aqui a história de um velho professor de esquerda, aposentado compulsoriamente. Não parece muito, mas a relação desse homem com o filho, o amigo, a mulher, o mundo é uma daquelas experiências humanas que fazem do cinema uma grande arte. E os atores! Federico Luppi e Mercedes Sampietro são magníficos. Com Histórias Mínimas, Lugares Comuns é um desses filmes que os distribuidores brasileiros independentes não podem perder a chance de trazer ao País.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.