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Cineastas e produtores apontam o lobby do Oscar

Divulgação na quinta-feira do representante nacional na disputa ao prêmio da Academia vai encerrar a polêmica sobre os critérios de escolha do filme

Por Agencia Estado
Atualização:

Uma comissão formada por cinco membros reúne-se na quinta-feira, às 15 horas, na sede da delegacia do Ministério da Cultura, no Rio, para pôr um ponto final em uma discussão que se alonga há semanas: a escolha do filme brasileiro que vai representar a cinematografia nacional na disputa por uma indicação no prêmio de melhor filme estrangeiro no Oscar de 2002. Mais do que simplesmente apontar o representante, a decisão vai mostrar se se comprovam as acaloradas discussões a respeito da escolha. Ou seja, se será confirmada a suspeita de que o filme será escolhido não por critérios de qualidade, mas por suas reais chances de enfrentar o intrincado jogo do Oscar. O grupo, formado por Gustavo Dahl, Andrucha Waddington, José Carlos Avelar, Ana Maria Bahiana e Luís Carlos Merten (crítico do Estado), vai selecionar uma entre as seguintes obras: Abril Despedaçado, de Walter Salles; Lavoura Arcaica, de Luiz Fernando Carvalho; O Xangô de Baker Street, de Miguel Faria Jr.; Bicho de Sete Cabeças, de Laís Bodanzky; Tainá, de Tânia Lamarca e Sérgio Block; Memórias Póstumas, de André Klotzel; Tolerância, de Carlos Gerbase; Copacabana, de Carla Camurati; A Hora Marcada, de Marcelo Taranto; e Netto Perde Sua Alma, de Beto Souza e Tabajara Ruas. O escolhido participa da seleção que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas realiza com candidatos de praticamente o mundo inteiro. O anúncio dos cinco finalistas será em fevereiro. "Acredito que o representante brasileiro será Abril Despedaçado", comenta Luiz Bolognesi, roteirista de Bicho de Sete Cabeças. "Não há dúvidas sobre a competência de Walter Salles, que tem uma incrível consciência estética, mas o filme conta com um poderoso distribuidor (o que é vital para garantir boa exibição, especialmente nos Estados Unidos). Lamento também a falta de uma equidistância emotiva entre os membros da comissão: como quatro deles têm fortes ligações com o Rio, é natural que se sintam mais favoráveis às produções locais." O distribuidor é o estúdio Miramax Films, que comprou por US$ 4 milhões os direitos de distribuição mundial de Abril Despedaçado, com exceção do Brasil, da França e da Suíça. Outro poderoso aliado é o produtor Artur Cohn, poderoso entre os independentes e vencedor de seis Oscars. O plano já está traçado: se confirmada sua indicação como representante brasileiro, o filme será trabalhado pela Miramax nos Estados Unidos. E, se constar entre os cinco finalistas no anúncio da academia em fevereiro, deverá estrear na mesma época nos circuitos de São Paulo e Rio. "A estratégia é fazer com que a indicação alavanque a promoção nas principais cidades do País", explica Bruno Wainer, diretor da Lumiére, a distribuidora do filme no Brasil. Wainer acredita que Abril Despedaçado seria o melhor candidato brasileiro no Oscar. "Temos de pensar de acordo com as regras do jogo: não estamos escolhendo o melhor longa do ano, mas aquele que tem mais chances de ganhar a estatueta", comenta. "E o momento é ideal, pois, se Central do Brasil disputou com um grande concorrente (o italiano A Vida É Bela), agora não parece existir nenhum candidato à altura." Wainer se esquece, por exemplo, das fortes chances de outro possível candidato da Itália, O Quarto do Filho, de Nanni Moretti, que já ganhou o Festival de Cannes. A mesma linha de raciocínio é compartilhada por Maurício Andrade Ramos, produtor associado do novo filme de Walter Salles. "Temos de nos preocupar com o jogo do Oscar, que é diferente, por exemplo, do de festivais europeus", comenta. As frias possibilidades na disputa, porém, não encantam outros candidatos. "É preciso discutir critérios", acredita o produtor Donald Ranvaud, de O Xangô de Baker Street. "Não questiono a idoneidade dos membros da comissão, mas deveria existir mais transparência e uma maior participação de público na escolha." A sugestão é bem aceita por Bolognesi, que pede uma comissão com mais participantes e de diferentes regiões do País. A proposta ecoa favoravelmente entre os representantes do filme Netto Perde Sua Alma. Tabajara Ruas, escritor, roteirista e um de seus diretores, observa um preconceito contra o longa, pelo fato de ter sido produzido no Rio Grande do Sul. "Nossa produção cultural está distante de centros como Rio e São Paulo, o que dificulta a divulgação e atrapalha o entendimento", afirma. "Netto, por exemplo, foi visto como uma história separatista, o que é uma bobagem, porque o filme é muito mais do que isso." Para outros concorrentes, porém, a discussão deveria ser mais profunda, privilegiando a produção como cultura e não apenas como mercadoria comercial. "O Oscar é derivado da indústria americana e, se não podemos ficar alheios porque há o importante interesse dos produtores, essa discussão não deveria estar tomando o nosso tempo", acredita André Klotzel, diretor de Memórias Póstumas. "A nossa briga é, de fato, contra a hegemonia cultural americana, que também se aplica ao nosso País. Para Hollywood, estamos na periferia. Assim, vamos nos preocupar com nossos problemas."

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